- Nº 2440 (2020/09/3)

Portugal precisa das colectividades de cultura, recreio e desporto a funcionar

Argumentos

Estamos todos no mesmo barco, ou estamos todos no mesmo Mar? Temos ouvido dizer que «estamos todos no mesmo barco». Esta metáfora parece-nos errada quando vemos e sentimos a forma como somos tratados por alguns órgãos da comunicação social, por autoridades de saúde, governação local ou central. Mais do que «estarmos todos no mesmo barco», aplicando a metáfora à COVID-19, talvez estejamos todos no mesmo Mar. Só que alguns vão em cruzeiro de luxo, outros agarrados a pequenas boias e outros… simplesmente a nado, correndo o risco de se afogarem.

As 33 mil colectividades de cultura, recreio e desporto existentes em Portugal deram um precioso contributo na contenção da pandemia, ao terem encerrado as sedes e adiado ou anulado mais de 120 mil actividades que deixaram em casa cerca de três milhões de pessoas. Esta atitude, responsável e corajosa, custou mais de 395 milhões de euros às colectividades. Para se retomar as actividades serão necessários cerca de 123 milhões de euros. Os impactos sociais e psicológicos nos associados, famílias e comunidades são incalculáveis.

Cuidado com o esquecimento.
Não são todos iguais!

Não são raros os casos em que depois de uma catástrofe, parte das suas vítimas caem no esquecimento. Receamos que seja esse o caso do Associativismo Popular. Não obstante as propostas fundamentadas e realistas apresentadas às câmaras municipais e ao Governo, estamos longe de ter sequer resposta ou as respostas que se impunham. Na Assembleia da República, na discussão do Orçamento Suplementar, o PCP apresentou uma proposta de inclusão de 30 milhões de euros para o associativismo, que foi rejeitada pelo PS, com a abstenção dos partidos à sua  direita. Conclusão: não são todos iguais.

Vamos construir a nossa normalidade!

Somos activos, inclusivos e responsáveis. As colectividades são essenciais à felicidade dos portugueses! Retomar as actividades associativas é essencial para dinamizar a economia local, recuperar parte das perdas financeiras, apoiar as crianças em ATL e AEC associativos, os jovens no ensino e em práticas culturais e desportivas e os idosos com os espaços de encontro, convívio e de socialização, combatendo o isolamento e a depressão.

É essencial retomar a democracia participativa, reforçar a auto-estima, o ânimo e a felicidade que a cultura, recreio e desporto populares proporcionam.


Augusto Flor