Percepções

Anabela Fino

«Mesmo quando não pa­rece, estou sempre a de­fender o PSD». As pa­la­vras de Mar­celo Re­belo de Sousa, que cito de cor, vi­eram-me à me­mória por estes dias a pro­pó­sito de duas «po­lé­micas» ali­men­tadas pela e na co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante: a con­tes­tação à re­a­li­zação da Festa do Avante! e o ale­gado di­reito à ob­jecção de cons­ci­ência na frequência da dis­ci­plina Ci­da­dania e De­sen­vol­vi­mento.

No pri­meiro caso, MRS co­meçou por dizer que só fa­laria do as­sunto após serem co­nhe­cidos os cri­té­rios de­fi­nidos pela DGS para a re­a­li­zação da Festa; voltou ao tema para cri­ticar o pre­tenso atraso na di­vul­gação dos ditos cri­té­rios; re­pisou na questão mais duas ou três vezes para ma­ni­festar de­sa­cordo com o PCP e a DGS de­vido a.... uma per­cepção! Disse o pri­meiro ma­gis­trado da nação, re­fe­rindo-se a uma ini­ci­a­tiva po­lí­tica – porque é isso que a Festa do Avante! é na sua es­sência – que o pro­blema da sua re­a­li­zação não es­tava no facto de estar «bem or­ga­ni­zada ou mal or­ga­ni­zada», mas sim na per­cepção que «uma parte da opi­nião pú­blica tem em re­lação ao acon­te­ci­mento».

Dando de ba­rato a apa­rente con­fusão pre­si­den­cial entre opi­nião pú­blica e opi­nião pu­bli­cada, temos MRS a ma­ni­festar-se com base em im­pres­sões, a en­grossar o coro dos que desde sempre querem con­finar o PCP e a deitar achas na fo­gueira di­zendo temer que a Festa do Avante! possa afectar a imagem do País.

En­quanto isso, MRS re­cebeu em Belém os dois pri­meiros subs­cri­tores do abaixo-as­si­nado “Em de­fesa das li­ber­dades de edu­cação” e deu conta do facto numa breve nota pu­bli­cada na pá­gina ofi­cial da Pre­si­dência da Re­pú­blica sob o elu­ci­da­tivo tí­tulo “Li­ber­dade de edu­cação”.

Neste caso não houve co­men­tá­rios nem per­cep­ções do PR sobre o apoio de fi­guras pú­blicas da sua fa­mília po­lí­tica ao pai que im­pediu os dois fi­lhos de fre­quen­tarem as aulas de Ci­da­dania e De­sen­vol­vi­mento, dis­ci­plina obri­ga­tória, e re­jeitou todas as pro­postas que lhe foram feitas para evitar o chumbo dos seus edu­candos.

Não houve co­men­tá­rios nem per­cep­ções apesar das men­tiras vei­cu­ladas sobre o as­sunto, como chamar à dis­ci­plina “se­xu­a­li­dade, gé­nero e in­ter­cul­tu­ra­li­dade”, como fez Nuno Melo; dizer que houve um des­pacho mi­nis­te­rial a «chumbar dois alunos», o que é falso; ou omitir que a lei do Es­ta­tuto do Aluno e Ética Es­cola, que rege a questão das faltas in­jus­ti­fi­cadas, é do go­verno Passos Co­elho e foi pro­mul­gada por Ca­vaco Silva, ambos sig­na­tá­rios do ma­ni­festo.

MRS, tão dado a per­cep­ções quando se tratou da Festa do Avante!, não per­cep­ciona que o que afecta a imagem de Por­tugal é aco­bertar sob o chapéu da «li­ber­dade» quem pre­tende que a ci­da­dania seja uma opção in­di­vi­dual e não um dever co­lec­tivo.

Não sendo dada a per­cep­ções, pal­pita-me que isto é o que pa­rece.




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