Continuar a luta pelo Museu Nacional da Resistência e da Liberdade

PENICHE A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) assinalou, no sábado, 31 de Outubro, os quatro anos do início de uma luta vitoriosa pela instalação do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade.

Celebração da vitória e a continuação da luta

Passaram quatro anos da realização do grande convívio na Fortaleza de Peniche, a 29 de Outubro de 2016, organizado por ex-presos políticos, familiares, amigos e democratas de diferentes sensibilidades, que contou com o envolvimento da URAP e marcou o grande impulso do movimento de repúdio à intenção do governo que pretendia conceder a privados, para fins hoteleiros, a Fortaleza de Peniche, onde funcionou até ao 27 de Abril de 1974 uma das mais sinistras cadeias da ditadura, sempre considerada como símbolo maior da resistência antifascista e da luta pela liberdade.

A data assinala também o lançamento da petição dirigida à Assembleia da República que, em poucos dias, recolheu cerca de 9600 assinaturas, condenando essa intenção do governo e reclamando a histórica exigência de se avançar, sim, naqueles espaços da antiga cadeia de alta segurança do fascismo, a instalação do Museu da Resistência e Liberdade.

Grande vitória
A iniciativa abriu com a leitura do poema «Abandono» (ver caixa), de David Mourão Ferreira, por Ana Maia. Mais adiante, José Pedro Soares recordou que a primeira fase da instalação do Museu, nos dias 25 de 27 de Abril de 2018, uma «memorável jornada que juntou milhares de pessoas». «Esta foi uma grande vitória. É surpreendente, os milhares de visitantes que este Museu recebe. Já tardava, mas é outra vitória do 25 de Abril», destacou o ex-preso político e dirigente da URAP, que dirigiu «um abraço a todos os que aqui gostam de estar» e cumprimentou os trabalhadores da Direcção-Geral do Património Cultural, em especial os que ali trabalham, «em número francamente reduzido, mas que se envolvem e empenham nas imensas tarefas sempre com simpatia e profissionalismo».

Álvaro Pato, também ex-preso político e da Direcção Nacional da URAP, manifestou alegria por «ver já recuperadas as placas e as paredes dos blocos prisionais. As muralhas reparadas, ver finalmente este memorial com os nomes de todos os que por aqui passaram.» «Durante 40 anos aqui funcionou esta cadeia de alta segurança. Aqui esteve o meu pai muitos anos, e os pais de outras crianças que conheci quando nos juntávamos para as visitas. Por isso queremos ver avançar com o resto que falta fazer, para que a história seja contada com verdade e o fascismo não seja branqueado» e para «os que já nasceram depois do 25 de Abril possam percorrê-lo, como uma viagem a esse tempo, e assim conhecerem como era o Portugal no tempo da ditadura», destacou, chamando à atenção «para os novos perigos dos populismos e da extrema direita».

A democracia defende-se e constrói-se todos os dias

Outro dos testemunhos trazidos para a iniciativa do passado sábado foi a de Anabela Carlos, dirigente da URAP. «Ainda me lembro quando vinha aqui visitar o meu pai, era ainda criança. O meu pai era operário corticeiro. Era militante do PCP. Uma grande referência na minha vida. Esteve ali encarcerado numa daquelas celas, atrás daquelas grades. Antes de o trazerem aqui para o Forte de Peniche já tinha passado por outras cadeias», informou, adiantando: «Foi muito importante para nós, mais novos, para familiares e amigos a coragem e a força que nos davam todos os que passaram por estes martírios das prisões do fascismo. As famílias também sofreram muito. Mas foram corajosas na sua grande maioria. As famílias também lutaram a seu lado.»

Anabela Carlos revelou ainda que a URAP «está a preparar um livro» sobre as mulheres que passaram pelas cadeias fascistas, «com o nome de todas elas e das cadeiras por onde passaram».

Adelino Pereira da Silva, ex-preso político naquela cadeia e dirigente da URAP, valorizou a realização daquela acção, «apesar das limitações motivadas pela pandemia». «Também aqui passei, encarcerado, alguns anos da minha vida. Todo este espaço, corredores, celas, guardam muitas memórias, muitas histórias dos milhares de camaradas que por aqui passaram», afirmou, frisando: «O fascismo foi um crime, por isso o combatemos. Tal como combatemos, nos dias que correm, as ideias e praticas fascistas que reaparecem sempre quando os democratas se distraem».

«O 25 de Abril, o derrube do fascismo foi apenas o grande passo, mas a democracia defende-se e constrói-se todos os dias e a melhor forma de defender os direitos conquistados é exercê-los, tal como constam na Constituição», concluiu.

Abandono

Por teu livre pensamento

Foram-te longe encerrar

Tão longe que o meu lamento

Não te consegue alcançar

E apenas ouves o vento

E apenas ouves o mar

Levaram-te a meio da noite

A treva tudo cobria

Foi de noite numa noite

De todas a mais sombria

Foi de noite, foi de noite

E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno

Persiste em me envenenar

Oiço apenas o silêncio

Que ficou em teu lugar

E ao menos ouves o vento

E ao menos ouves o mar

 



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