O contraditório

Margarida Botelho

Qual­quer es­tu­dante de jor­na­lismo aprende nas pri­meiras aulas al­guns ins­tru­mentos para tentar chegar à ob­jec­ti­vi­dade: con­firmar factos, con­sultar di­versas fontes, pra­ticar o con­tra­di­tório.

In­fe­liz­mente, são re­gras de­ma­si­adas vezes es­que­cidas. A co­ber­tura das elei­ções para a As­sem­bleia Na­ci­onal Ve­ne­zu­e­lana do pas­sado do­mingo não foi ex­cepção. Des­con­tando o Avante!, ne­nhum órgão de co­mu­ni­cação so­cial deu voz a qual­quer fonte que não as agên­cias de co­mu­ni­cação in­ter­na­ci­o­nais, a União Eu­ro­peia ou a opo­sição ve­ne­zu­e­lana. É certo que há si­tu­a­ções em que a dis­tância, a ina­ces­si­bi­li­dade das fontes, a língua ou os custos são bar­reiras in­trans­po­ní­veis para que uma re­dacção em Por­tugal con­firme factos, con­tacte di­versas fontes ou tente fazer o con­tra­di­tório.

Não é o caso. 300 ob­ser­va­dores es­tran­geiros, de 35 países, es­ti­veram a acom­pa­nhar as elei­ções. Per­so­na­li­dades como o an­tigo pri­meiro mi­nistro es­pa­nhol Za­pa­tero, ou a de­pu­tada por­tu­guesa no Par­la­mento Eu­ropeu, Sandra Pe­reira, eleita pelo PCP.

Sandra Pe­reira não es­teve clan­des­tina na Ve­ne­zuela. Foi em missão ofi­cial, re­latou com os meios à sua dis­po­sição aquilo a que as­sistiu, deu en­tre­vistas a quem lhas pediu. Foi olim­pi­ca­mente ig­no­rada pela co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante, que pre­feriu se­guir acri­ti­ca­mente os des­pa­chos das agên­cias no­ti­ci­osas, as ideias feitas do­mi­nantes e a de­cisão da União Eu­ro­peia de não en­viar ob­ser­va­dores.

Das duas, uma: ou os jor­na­listas que es­cre­veram peças sobre as elei­ções ve­ne­zu­e­lanas des­co­nhe­ciam a pre­sença de 300 ob­ser­va­dores in­ter­na­ci­o­nais, e de uma de­pu­tada por­tu­guesa entre eles, ou, sa­bendo-o, de­ci­diram ig­norar. Seja por in­com­pe­tência ou por de­li­be­rada ma­ni­pu­lação, quem ficou a perder foi o jor­na­lismo e o di­reito à in­for­mação. Valha-nos o Avante!, que pu­blica nesta edição uma en­tre­vista in­dis­pen­sável para quem pre­tenda co­nhecer o que se passa na Ve­ne­zuela.




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