Défice demográfico

Margarida Botelho

Foram conhecidos na semana passada os dados provisórios do número de bebés nascidos em Portugal este ano. Até final de novembro, tinham feito o teste do pezinho menos 2340 bebés do que em igual período do ano passado, num total de 76.474 testes. Não sendo dados finais, dão uma indicação muito preocupante.

No Congresso, identificámos o défice demográfico como um dos grandes constrangimentos ao desenvolvimento do país. 2014 foi o ano em que nasceram menos bebés em Portugal desde que há registos, pouco mais de 82 mil. De então para cá, embora com oscilações, tem havido uma recuperação ligeira, que os dados deste ano parecem comprometer.

Todos os estudos conhecidos sobre natalidade mostram que os portugueses em idade fértil gostariam de ter mais filhos do que na realidade têm. Desemprego, precariedade, baixos salários, custos elevados com habitação, transportes, creches ou saúde são aspectos que as famílias naturalmente pesam antes de ter filhos – ou mais filhos. Todos os estudos mostram igualmente uma descida da natalidade nos períodos de crise económica e social, de incerteza e falta de confiança. Não é preciso ser bruxo para ver que o clima de medo gerado pela epidemia, a par do desemprego e da quebra de rendimentos que está a atingir o País, não são propriamente o ambiente mais propício para uma subida da natalidade.

Para que o défice demográfico não se agrave mais nos próximos anos, é preciso agir agora, com políticas que defendam e criem emprego, aumentem salários, garantam os direitos das crianças, criem uma rede pública de creches e assegurem vagas para todas as crianças no pré-escolar. Não assegurar essas medidas agora cava mais fundo o défice demográfico do País.




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