Tão longe e tão perto

Anabela Fino

O pri­meiro acordo in­ter­na­ci­onal que proíbe as armas nu­cle­ares, vi­sando al­cançar a sua eli­mi­nação total, en­trou em vigor a 22 de Ja­neiro, após ra­ti­fi­cação por 50 países, o mí­nimo para o efeito. Apro­vado pela As­sem­bleia Geral da ONU em 2017, o Tra­tado de Proi­bição das Armas Nu­cle­ares foi con­si­de­rado uma «de­cisão his­tó­rica», sendo o pri­meiro con­cluído em mais de 20 anos.

O se­cre­tário-geral da ONU, An­tónio Gu­terres, saudou o acon­te­ci­mento e pediu a todos os es­tados para «tra­ba­lharem no sen­tido (...) da se­gu­rança e pro­tecção co­lec­tivas». O Papa também se re­go­zijou, su­bli­nhando o facto de se tratar do «pri­meiro ins­tru­mento ju­ri­di­ca­mente vin­cu­la­tivo a proibir ex­pli­ci­ta­mente estas armas».

Voz dis­so­nante a do mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, Santos Silva, que não acha uti­li­dade ao do­cu­mento que proíbe a uti­li­zação, o de­sen­vol­vi­mento, a pro­dução, os testes, o es­ta­ci­o­na­mento, o ar­ma­ze­na­mento e a ameaça de uso de armas nu­cle­rares. Diz SS que o Tra­tado não serve porque «não toma em conta as le­gí­timas pre­o­cu­pa­ções de se­gu­rança de muitos países e a con­jun­tura in­ter­na­ci­onal» e não foi subs­crito nem pelas po­tên­cias nu­cle­ares nem pela NATO.

No­tável! Para o mi­nistro, Por­tugal deve aceitar o equi­lí­brio do terror re­sul­tante do facto de os EUA e a Rússia serem de­ten­tores de 90% do ar­ma­mento nu­clear; achar le­gí­timo que Reino Unido, França, China e Is­rael te­nham os seus ar­se­nais; fe­char os olhos às pre­ten­sões nu­cle­ares da Índia, do Pa­quistão e de ou­tros países «amigos» que se queiram juntar ao clube; e en­grossar o coro das crí­ticas quando se trata da Co­reia do Norte. Esta pos­tura viola a Cons­ti­tuição – o fa­moso artº 7.º – e en­ver­gonha o País, mas re­trata bem o mi­nistro SS, agora en­tre­tido com a pre­si­dência por­tu­guesa da UE, tão longe da paz e tão pró­ximo dos se­nhores da guerra.




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