«Geopolítica»
Os papagaios do sistema têm padrões seguros. Sabem infalivelmente o que é democrático e o que não é, o que é sustentável e o que não é, o que contribui ou não para aumentar a emissão de gazes com efeito de estufa, o que é respeitar direitos humanos e o que não é, e por aí fora. A bitola para distinguir diferenças é o que os EUA e a UE disserem.
Alguns exemplos quase ao acaso. A questão das vacinas COVID-19, antes contratualizadas como monopólio de um punhado de gigantes farmacêuticas privadas. Iam salvar a humanidade. Agora, que está à vista o desastre resultante dessa tentativa de monopolização, e que é conhecido o crescente leque de vacinas disponíveis, a questão deixou de ser humanitária e passou a ser «geopolítica». Que a UE tenha aceitado atar-se de pés e mãos a esse esquema não é «geopolítica», mas que Rússia, China, Índia, Cuba, entre outros, procurem distribuir em todos os continentes as vacinas que produzem já o é. Pior, (e ainda mais caricato) é «diplomacia da vacina».
O gasoduto NordStream. É do interesse mútuo de Alemanha e Rússia, mas não dos EUA – entre outras coisas querem vender o seu gás natural liquefeito – que decretaram as habituais «sanções». Um argumento foi o «caso Navalny» (e percebe-se melhor porque é que o respectivo circo transitou entre Moscovo e Berlim). Como metem «ambientalismo» ao barulho, há que ocultar que o gasoduto fornecerá o equivalente energético ao que requereria transporte em 600 a 700 navios-tanque anualmente, já para não falar da pegada ecológica da tecnologia de extração de gás nos EUA, nomeadamente com a elevada emissão de metano.
O circo Navalny é «humanitário» Serve para exigir o encerramento de um projecto da importância do NordStream. Já o mesmo não sucede com o assassínio e desmembramento de Jamal Khashoggi, cujos principais responsáveis não justificam «sanção». Será «geopolítica»?