Os Estados Unidos estão a treinar fuzileiros navais de Moçambique para apoiar o combate, naquele país africano, contra «a expansão do terrorismo e do extremismo violento». A informação foi divulgada em Maputo pelo governo moçambicano e pela embaixada norte-americana.
O comando militar dos EUA para África (Africom) anunciou que teve início um programa de formação de fuzileiros moçambicanos, treinados por instrutores das Forças de Operações Especiais norte-americanas, conhecidas por Boinas Verdes.
Na segunda-feira, 15, assistiram ao arranque do treinamento, que durará dois meses, o major-general Ramiro Tulcidás, das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique, e o coronel Richard Schmidt, número dois do Comando de Operações Especiais dos EUA para África, em representação do Pentágono.
Além da formação dos fuzileiros, Washington forneceu equipamento médico e de comunicações às forças armadas moçambicanas, empenhadas em combater acções terroristas na província de Cabo Delgado, no Norte do país, reivindicadas pelo autoproclamado «Estado Islâmico».
O embaixador dos EUA em Maputo, Dennis Hearn, explicou ao jornal O País que estas acções, no quadro dos laços entre os dois países na área de defesa e segurança, fazem parte de uma estratégia de apoio a Moçambique que «valoriza a parte sócio-económica, o desenvolvimento da província, a comunicação com a população». O treinamento põe o foco na profissionalização das forças de segurança moçambicanas «para fazê-las mais capazes, em termos tácticos, mas também para reforçar a importância de protecção da população civil e o respeito pelos direitos humanos».
O diplomata avançou que está em curso entre as autoridades dos dois países um diálogo para examinar quais «as necessidades, as áreas mais urgentes, para algum apoio adicional, quer seja material ou de treinamento».
Segundo o New York Times, que cita uma fonte do Pentágono, a formação de fuzileiros pode ser o primeiro passo para uma cooperação militar «mais ambiciosa» entre os EUA e Moçambique, incluindo assistência médica, logística e informações militares.
Os EUA designaram, no dia 10, o «Estado Islâmico» de Moçambique (ISIS-Moçambique), também conhecido por Ansar al-Sunna ou Al Shabab, como uma organização terrorista, e revelaram que é dirigida por um certo Abu Yasir Hassan. Avisaram que «é um crime fornecer intencionalmente apoio ou recursos» a essa organização, ameaçando com sanções quem com ela se envolver.
Desde finais de 2017, o grupo foi responsável pela «violenta insurgência extremista» em Cabo Delgado, que provocou centenas de mortos, sobretudo civis, e cerca de 700 mil deslocados.
Essas acções armadas desenrolam-se perto da zona onde está a ser implantado o projecto de exploração de gás liderado pela companhia petrolífera Total e considerado um dos maiores investimentos privados em África. O Estado moçambicano trabalha para garantir as condições de segurança na área, mantendo-se a data de 2024 para o início da produção de gás natural liquefeito.
Apesar das dificuldades actuais – resultantes do processo de conquista e consolidação da independência e agravados pelas múltiplas ingerências externas –, Moçambique, o seu povo e o seu governo saberão continuar a trilhar, de forma soberana, os caminhos da paz e do desenvolvimento a que têm direito, como todos os países e povos do mundo.