Um exercício de hipocrisia por parte da UE

A UE não tem «au­to­ri­dade nem le­gi­ti­mi­dade» para se ar­vorar em juiz ou re­fe­rência no que à de­mo­cracia e aos di­reitos hu­manos diz res­peito», afirmam os de­pu­tados do PCP no PE, a pro­pó­sito da cri­ação do me­ca­nismo de con­di­ci­o­na­li­dade do Es­tado de Di­reito.

UE não tem le­gi­ti­mi­dade para se ar­vorar em juiz sobre de­mo­cracia e di­reitos hu­manos

Os de­pu­tados do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu re­pu­diam o des­res­peito de li­ber­dades e di­reitos de­mo­crá­ticos, dos di­reitos dos povos, da so­be­rania e da de­mo­cracia, e re­a­firmam a sua so­li­da­ri­e­dade para com os co­mu­nistas e ou­tros de­mo­cratas que têm lu­tado para os de­fender no âm­bito da União Eu­ro­peia (UE) e em vá­rios dos países que a in­te­gram. Con­tudo, «re­jeitam a cri­ação de um me­ca­nismo de san­ções no âm­bito da UE, por via do con­di­ci­o­na­mento do acesso aos fundos co­mu­ni­tá­rios, que se acresce a ou­tros con­di­ci­o­na­lismos, normas e pro­ce­di­mentos exis­tentes – desde logo o Re­gu­la­mento Fi­nan­ceiro –, que já pre­vêem a sus­pensão, in­ter­rupção ou de­vo­lução de pa­ga­mentos em si­tu­a­ções de­ter­mi­nadas».

Em co­mu­ni­cado, os de­pu­tados do PCP con­si­deram que a re­so­lução vo­tada no dia 25 de Março pelo Par­la­mento Eu­ropeu visa, antes de mais, «in­sistir na exis­tência de um me­ca­nismo que seja eficaz como ins­tru­mento de pressão po­lí­tica, através da chan­tagem da sanção fi­nan­ceira». Um me­ca­nismo que não dei­xará de ser usado «para as­se­gurar a pre­va­lência das po­lí­ticas da UE, se­gundo os in­te­resses e as con­ve­ni­ên­cias das suas grandes po­tên­cias e dos seus grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros».

Os co­mu­nistas por­tu­gueses no PE lem­bram que estão ins­ti­tuídos no âm­bito da UE di­versos ins­tru­mentos e me­ca­nismos de con­trolo e de con­di­ci­o­na­mento das po­lí­ticas e da acção de Es­tados-mem­bros – como o Pacto de Es­ta­bi­li­dade, o Tra­tado Or­ça­mental, a «Go­ver­nação Eco­nó­mica» ou o «Se­mestre Eu­ropeu» – que com­pre­endem a apli­cação de san­ções e que têm sido uti­li­zados para pro­mover, e mesmo impor, a re­gressão de di­reitos e con­quistas so­ciais, in­cluindo por pro­cessos de li­be­ra­li­zação e pri­va­ti­zação de ser­viços pú­blicos.

A cri­ação de um me­ca­nismo que ale­ga­da­mente visa a de­fesa da de­mo­cracia e do Es­tado de Di­reito «traduz um exer­cício de hi­po­crisia por parte da UE»: ela tem des­res­pei­tado e li­mi­tado a ex­pressão da von­tade dos povos – no­me­a­da­mente em re­fe­rendos –, além de ser res­pon­sável pelo des­res­peito de di­reitos fun­da­men­tais, in­cluindo aquando das in­ter­ven­ções da «tróica». Exem­plos, entre ou­tros, que de­mons­tram que «a UE não tem au­to­ri­dade nem le­gi­ti­mi­dade para se ar­vorar em juiz, ou se­quer re­fe­rência, no que à de­mo­cracia e aos di­reitos hu­manos diz res­peito».

 



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