- Nº 2473 (2021/04/22)

Abril no coração do povo celebra-se de novo nas ruas

Em Foco

«Abril não pode ser destruído, porque continua no coração do povo, que quer uma vida melhor, a democracia, a liberdade, quer Abril nas nossas vidas», salientou Jerónimo de Sousa, no domingo, dia 18, em Grândola. A afirmação voltará a ser comprovada nas comemorações populares dos 47 anos da Revolução dos Cravos, nas ruas, por todo o País.

O Secretário-geral do PCP reafirmou que o Partido «não desistirá de lutar por uma política conforme à Constituição, visando concretizar o caminho que ela preconiza – a construção em Portugal de uma democracia simultaneamente política, económica, social e cultural», salientando que «o projecto de Abril inscreve-se ainda na Lei Fundamental» e «os seus valores continuam a ter validade e actualidade».

«Estes valores que Abril mostrou serem seus, como seus são os que emanam das suas grandes conquistas e realizações, não só continuam a reflectir os interesses da larga maioria dos trabalhadores e do povo como, exprimindo esses interesses, têm a capacidade para guiar o nosso caminho na luta de hoje e na construção do futuro do País e de uma vida melhor para o nosso povo», sublinhou Jerónimo de Sousa.

Este é um «caminho que se abrirá com a vontade, a força e a luta dos trabalhadores e do povo e com o reforço desta grande força de Abril que é o PCP», afirmou.

O dirigente comunista admitiu que aqueles que «andam há 47 anos a tentar destruir as conquistas e os valores que foram alcançados com a vitória de Abril» «destruíram muitas conquistas, mas não conseguiram destruir os valores de Abril». Esses «querem continuar a destruir o que significou Abril, mas enganaram-se numa coisa: Abril não pode ser destruído, porque continua no coração do povo, que quer uma vida melhor, a democracia, a liberdade, quer Abril nas nossas vidas».

 

Simbolismo, emoção
e verdade

Jerónimo de Sousa interveio no final de uma sessão pública, intitulada «Liberdade e Democracia – Os valores de Abril no Futuro de Portugal», promovida pela Organização Regional do Alentejo do Partido, a assinalar o aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974.

Numa tarde de sol, a Praça da Liberdade, onde desde 1999 está instalado o Memorial ao 25 de Abril, foi transformada em anfiteatro, frente a um palco na altura de apenas três ou quatro degraus, e com mais de três centenas de lugares sentados, respeitando o exigido espaçamento. A sessão foi breve, durou pouco menos de uma hora, mas foi plena de simbolismo e de conteúdo.

Pouco depois das 15h30, Jerónimo de Sousa, acompanhado de outros dirigentes, depositou cravos rubros no centro do Memorial, junto ao cravo pintado em azul sobre os nomes dos capitães de Abril.

Todos ocuparam os respectivos lugares na plateia, para ouvir o Grupo Coral e Etnográfico de Grândola. Um dos seus elementos começou por contar que, há duas semanas, depois de receber o convite para esta iniciativa e para as comemorações populares de dia 25, o grupo resolveu retomar os ensaios interrompidos há mais de um ano. Sem necessidade de ensaio, ao grupo juntaram-se centenas de vozes, nas estrofes da «Grândola Vila Morena».

A anteceder as intervenções políticas, foram chamados e, a toda a largura da parede de azulejo onde está inscrita a pauta da moda de Zeca Afonso que, faz agora 47 anos, foi a principal senha da «madrugada que eu esperava» perfilaram-se: António Figueira Mendes, presidente da CM de Grândola e resistente antifascista; Matilde Lopes, da Juventude Comunista Portuguesa; João Pauzinho e Manuel Valente, membros do Comité Central do PCP e do Executivo da Direcção Regional do Alentejo; João Fernando, da Direcção Regional do Alentejo; Patrícia Machado, da Comissão Política do CC e do Executivo da Direcção Regional do Alentejo; Manuela Pinto Ângelo, do Secretariado do CC; João Dias Coelho, da Comissão Política do CC, responsável pela DRA.

A palavra começou por ser dada a António Figueira Mendes, que defendeu a aplicação integral da Constituição e criticou que tal não tenha sido feito com a regionalização, cuja falta incluiu entre os problemas estruturais do País. Deu conta de como o concelho continua a avançar e a construir Abril, depois de, em 2013, a CDU ter retomado a gestão da Câmara.
No mandato que está a chegar ao fim, para além da recuperação financeira da autarquia, da valorização dos trabalhadores, do reforço dos serviços operacionais, do apoio à economia local e da captação de novas empresas, de uma grande dinâmica em todas as áreas de intervenção, foram realizadas no concelho dezenas de obras estruturantes, há muito necessárias, e que representam mais de 20 milhões de euros de investimento público.

Matilde Lopes falou do 25 de Abril como uma data que nos é tão especial e deve ser sempre celebrada, nunca esquecida. Frisou que, contra a mentira que outros procuram impor, os jovens sabem que foi através da luta do povo, da luta da juventude e do compromisso revolucionário do PCP que se abriram as portas de Abril. Referiu vários marcos da luta antifascista.
Como conquistas da revolução, citou o fim da guerra colonial, o fim da opressão e da censura, o ensino público gratuito e de qualidade, o direito a emprego estável e com direitos, a participação democrática na vida das escolas e dos locais de trabalho (com a liberdade sindical), os direitos à saúde, à habitação, ao desporto, à cultura.
Realçou a luta e os objectivos da JCP nos dias de hoje, marcados pela preparação do seu 12.º Congresso (15 e 16 de Maio).

 

Património do povo e do futuro

«Comemoramos a Revolução do 25 de Abril e, neste acto de elevação dessa gloriosa madrugada e do processo que se seguiu, celebramos a luta heróica de anos e anos de resistência e combate ao fascismo, o sacrifício e a coragem de gerações de portugueses.
Celebramos o feito valoroso dos capitães de Abril e o levantamento popular que imediatamente irrompeu, que transformou a acção militar libertadora num processo, abrindo caminho a uma verdadeira revolução democrática.
A Revolução de Abril é património do povo e é património do futuro. Património construído pela luta dos trabalhadores e do povo e ao qual nós, comunistas, nos orgulhamos de ter dado um contributo inigualável não apenas na longa e heróica resistência que a Abril conduziu, mas em todos os momentos decisivos da sua construção.»

(Excerto da intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP)