- Nº 2474 (2021/04/29)

Abril e Maio – um só combate

Opinião

As comemorações do 25 de Abril são um momento importante para assinalar o significado desta data e afirmar os seus objectivos e valores. Nesse sentido, na passada quinta-feira, o PCP apelou a que todos os que se identificam com as conquistas e valores consagrados com o 25 de Abril se associassem e participassem nas comemorações populares que, um pouco por todo o País, estavam em preparação.

Foi um apelo a que os trabalhadores, a juventude e o povo responderam com uma massiva participação nas comemorações que se realizaram pelo País fora, com particular significado no grandioso desfile popular, na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

O 25 de Abril deste ano foi, de facto, uma poderosa resposta do povo português à forte ofensiva que os centros do grande capital desde há muito contra ele vêm movendo e que se traduziu, como refere o PCP, «seja nas acções provocatórias de cariz fascizante seja nas manobras de diversão que visam animar polémicas estéreis para diminuir o alcance e o significado das comemorações».

O 25 de Abril comemora-se e afirma-se com aqueles que se comprometem com o objectivo de defender e afirmar os seus objectivos e valores.

Por isso mesmo, o propósito de integrar nestas comemorações organizações reaccionárias com concepções fascizantes, recorrendo, inclusivamente, a argumentação frequentemente usada pelo fascismo, nada tem a ver com a valorização de Abril, antes se inscreve no objectivo da sua liquidação.

A intensidade e diversidade das acções provocatórias e manobras reaccionárias arremessadas contra Abril não lograram, no entanto, atingir os fins em vista. As comemorações de Abril foram, pelo País fora, expressão da luta organizada dum povo que não se deixa intimidar por aqueles que, assumindo-se «donos disto tudo», gostariam de ser também donos do 25 de Abril, não para o comemorar, valorizar e defender, mas para o «varrer» da história do povo português juntamente com a Constituição, a liberdade e o regime democrático.

Depois dos inúmeros ataques que vêm desferindo contra Abril, julgaram chegado o momento para subir de patamar e passar a uma nova fase da ofensiva: perturbar e impedir a sua expressão de rua, ensaiar um novo passo no ataque às suas conquistas e valores, usando como pretexto que «o 25 de Abril é de todos».

Mas, ao contrário do que pretendiam as forças reaccionárias ao serviço do capital monopolista, o que ressalta destas comemorações é um 25 de Abril vivo e combativo, com uma entusiástica participação popular com uma forte componente juvenil, carregado de alegria e de cor, com as raízes bem fundas nas massas populares, na juventude e no povo português, donde emana, aliás, a força dos seus valores e ideais.

 

Valores de Abril vivos

De facto, a resposta dada pelo povo português foi clara e contundente, mostrando que os valores de Abril estão vivos e que é com os que os afirmam, aprofundam e defendem que se construirá o caminho para um Portugal mais desenvolvido, justo e soberano.

Seguir-se-á agora, já no próximo sábado, a jornada do 1.º de Maio que os trabalhadores, desde há muito, vêm preparando a partir das lutas nas empresas, locais de trabalho e sectores em torno das suas reivindicações concretas, em defesa dos seus direitos, contra a exploração.

Jornada que é preciso projectar nas lutas que a seguir se vão travar, a começar pela acção nacional de luta convocada pela CGTP-IN para o Porto no dia 8 de Maio e para todas as outras que continuarão a ser travadas pelos direitos e por uma política alternativa que valorize o trabalho e os trabalhadores e promova o desenvolvimento soberano e o progresso social.

As comemorações do 25 de Abril e a jornada do 1.º de Maio são acontecimentos indissociáveis do mesmo processo de transformação social cuja realização é, em si mesma, sinal de esperança de que é possível defender e conquistar direitos, mesmo quando o grande capital, aprofundando a exploração, tão brutalmente os ataca.

Abril prossegue agora em Maio num só combate pelos mesmos objectivos, lutando contra as acções e projectos reaccionários e fascistas e apontando o caminho da democracia política, económica, social e cultural que a própria Constituição da República Portuguesa inscreve no seu texto.

Afinal, não foi para isso que o 25 de Abril se fez?...


Manuel Rodrigues