Vacinas
Está a pandemia a passear-se pelos quatro cantos do globo, aparentemente pouco incomodada com os obstáculos que tentam opor-se-lhe, e a televisão vem dando-nos conta dessa deriva, como aliás é natural que aconteça. É neste quadro que surgem em jogo, expressos em dólares, naturalmente, e são referidos ainda que muito sucintamente, os países que se tornam como que exportadores do vírus e os que surgem como seus importadores. Não surpreende que nos seja dado este tipo de informações que aliás se justificam, mas num caso que ameaça intensificar tornar-se questão de vida ou de morte para milhões a frieza de um tratamento quase estatístico, um pouco comercialão, pode chocar um pouco. Confere, porém, com o tipo de sociedade em que vivemos, pelo que são de indeferir quaisquer eventuais queixas.
A péssima vinha
Temos, pois, que a televisão nos ensina que também em matéria de vacinas preventivas do corona vírus há os países exportadores e os países importadores, sendo óbvia a vantagem de estarmos no primeiro destes grupos ou, melhor ainda, a de estarmos fora de qualquer deles. Tanto quanto se sabe e/ou se adivinha, o nosso país está (ainda?) neste último caso; trata-se, pois, de fazermos quanto esteja ao nosso alcance para que por aí nos quedemos. E cabe dizer que a TV tem dado algum contributo para que o consigamos: em matéria de corona vírus, a televisão tem vindo a meter algum medo, digamos assim, e, como aliás já terá sido lembrado nesta coluna, a chamada sabedoria popular ensina que o medo é que guarda a vinha. É certo que todos os dias a televisão nos informa de quantos portugueses foram internados em hospitais, até de quantos nos deixaram, mas fá-lo discretamente, sem vestígios mínimos de querer assustar-nos e de por essa via convocar audiências atraídas pelo susto. Aliás, uma limitada dose de medo será, nestas circunstâncias, saudável: o papão da infância é um faz-de-conta inventado pelos adultos mas terá salvado muitas vidas infantis ao longo dos tempos. Saliente-se, porém, que isto de papões tem riscos que até podem não ser pequenos: saltemos para a vida política e vejamos o mau uso, quando não o uso criminoso, que ao longo dos tempos tem sido feito de papões utilizados como travões impeditivos de mudanças justas e desejáveis. Em tais casos, a vinha que o medo guarda será uma plantação de privilégios injustos e por vezes infames. Na luta contra esses, é preciso vencer o medo. Entende-se: porque é preciso destruir a vinha.