Quem avisa

Correia da Fonseca

Foi no pas­sado do­mingo, já no de­clinar da tarde: num dos ca­nais mais fre­quen­tados, um su­jeito ad­mi­ra­vel­mente mo­ti­vado cujo nome es­capou veio pre­venir os te­les­pec­ta­dores contra o uso mis­ti­fi­cador da te­le­visão. Não se dirá que veio dar-nos uma no­vi­dade es­pan­tosa: todos mais ou menos sa­bemos que a TV, essa nossa com­pa­nheira de todos os dias e quase de todas as horas, não é dama em quem nos de­vamos con­fiar ce­ga­mente, muito antes pelo con­trário, mas a fran­queza da pre­venção feita no mesmo lugar onde o de­lito ocorre não deixa de ser mo­tivo para gra­tidão. O caso é que por muito que quei­ramos re­sistir à se­dução que a TV exerce, di­fi­cil­mente (e o ad­vérbio ainda é es­casso) lhe es­ca­pamos. Há a rádio, é certo, mais a im­prensa, mais a con­versa dos amigos, mais o diz-que-diz, mas a TV é sem a menor dú­vida a rainha que im­pera nas nossas ca­be­ci­nhas mesmo que sai­bamos quem ela é e so­bre­tudo quem nela manda.

Pri­vi­le­giada

Porém, para além de sa­bermos quem manda nas nossas ca­beças em efec­tivo re­gime de anes­tesia geral, pois é de regra que nem demos por isso, é muito sa­lutar que te­nhamos cons­ci­ência dos ob­jec­tivos vi­sados por esse poder: por ou­tras pa­la­vras, di­remos que quem manda o faz sempre num certo sen­tido, e também que esse sen­tido di­fi­cil­mente será o da nossa con­ve­ni­ência. E essa regra, que bem po­demos chamar de ge­né­rica, bem pode estar sempre pre­sente nas ava­li­a­ções que fi­zermos do que nos é dito, do modo como nos é dito, dos even­tuais ob­je­tivos com que nos é dito isto e/​ou aquilo. Esta pre­caução bem pode estar es­pe­ci­al­mente pre­sente quando re­ce­bemos in­for­ma­ções ex­plí­citas ou im­plí­citas pela TV, essa men­sa­geira pri­vi­le­giada em termos de mas­si­fi­cação e de pe­ne­tração. Um te­le­jor­nal­zinho de au­di­ência menor tem uma «ti­ragem» es­ma­ga­do­ra­mente su­pe­rior à ti­ragem de um jornal em papel, e isso faz toda a di­fe­rença. Quem ma­neja a TV sabe isso e não dei­xará de usar essa sa­be­doria: bom será que os con­su­mi­dores a te­nham igual­mente pre­sente. Foi nesse sen­tido que cla­ra­mente foi feita a pre­venção quase sur­pre­en­dente que inicia este breve texto. Por isso se re­gista o ocor­rido e se lhe adi­ciona um agra­de­ci­mento pela pre­venção.




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