Dislexia política

Jorge Cordeiro

Manda a pru­dência que se não ex­traiam ila­ções pre­ci­pi­tadas do que à pri­meira se pode ser le­vado a con­cluir. O rigor con­clu­sivo de fe­nó­menos, po­lí­ticos ou não, é sempre mais exi­gente e menos li­near do que neles é dado ob­servar.

Rui Rio pro­clamou no con­clave que uniu a nata do grande ca­pital e dos seus re­pre­sen­tantes po­lí­ticos e eco­nó­micos de que só ali es­tava porque aquilo, onde havia de­sa­guado, não era um con­gresso da di­reita. Se assim fosse, acres­centou lesto, ali não es­taria porque o PSD não é de di­reita.

Es­pí­ritos mais abertos ou juízos de almas mais com­pre­en­sí­veis sempre pre­dis­postos a con­clu­sões be­né­volas re­me­terão a questão para o foro psí­quico. Na ver­dade, a con­fusão entre es­querda e di­reita é uma das três de­zenas de ex­pres­sões da sin­to­ma­logia dis­lé­xica. Em con­creto, um pro­blema com re­flexos no plano da in­te­li­gência es­pa­cial, sem im­pli­ca­ções na in­te­li­gência cog­ni­tiva. Sem a gra­vi­dade, em termos de con­sequên­cias, de ou­tras ex­pres­sões. Ti­rando a ma­çada de ter de dar umas voltas a mais a uns quar­tei­rões para se chegar ao des­tino de­se­jado sempre se acaba por lá ir ter.

Como se pode ver teria sido isso que su­cedeu a Rio. Tro­cando as mãos, vi­rando para o lado con­trário para onde havia feito sinal e, zás!, quando deu por isso es­tava onde jul­garia não estar. E como Rio tratou de acres­centar já que ali es­tava, não sendo de di­reita, porque se de di­reita fosse ali não es­taria, apro­vei­taria para unir as di­reitas! Con­fuso e para lá da dis­lexia? Ar­re­dada a im­pru­dência de olhar os factos pelo que apa­rentam o que emerge é, no plano po­lí­tico, o que se sabe.

Rui Rio tem para o País um pro­jecto an­ti­de­mo­crá­tico e de per­versão do re­gime que a Cons­ti­tuição con­sagra, pro­jecto que ri­va­liza com os seus pares, ori­gi­nais ou su­ce­dâ­neos, que en­xa­me­aram aquele es­paço, sejam Passos Co­elho, Fran­cisco dos Santos ou André Ven­tura.




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