Opções e conjunturas

Manuel Rodrigues

Há poucos dias, António Costa (AC), afirmou no Funchal que «esta crise [do turismo] demonstrou bem a fragilidade de alguns dos sectores económicos mais robustos, mais promissores e que foram áreas de especialização natural em muitas regiões». E acrescentou que, para o futuro, não podemos depender tanto e só de um sector económico, porque novas crises podem surgir.

O primeiro-ministro referia-se assim à crise desencadeada pela condenável decisão do Governo do Reino Unido (RU) ao levantar constrangimentos à circulação de pessoas entre o RU e Portugal invocando razões de saúde que se prendem com a epidemia de COVID-19.

De facto, estaremos todos de acordo que o desenvolvimento de um País, neste caso Portugal, deve assentar nas bases sólidas de um forte aparelho produtivo nacional. Aparelho produtivo para cujas bases a Revolução de Abril deu um forte contributo, que a política de direita – da responsabilidade dos governos PS, PSD e CDS – tem vindo a desmantelar. Como se viu, aliás, ainda há pouco, com o encerramento da refinaria da GALP de Matosinhos, por acção do Governo PS de AC.

Que Portugal tem muitas potencialidades no domínio da economia (no turismo, na agricultura, nas pescas, nas indústrias extractivas e transformadoras, entre tantas outras) que, se exploradas e aproveitadas em proveito do povo português e ao serviço do desenvolvimento soberano do País, criariam riqueza e possibilitariam progresso económico e social, é um facto que poucos ousariam desmentir.

Mas, o que tem vindo a impor a política de direita é a privatização de empresas e sectores, é a destruição da agricultura e o abandono dos campos, a desertificação do interior, o abate da frota pesqueira, o afunilar das rotas turísticas, a concentração e centralização do capital e a submissão às imposições do capital monopolista.

Terá, então, AC descoberto que este caminho não interessa a Portugal e está disposto a mudar-lhe o rumo? Não, não. As opções políticas do Governo PS a que preside são de submissão às imposições da União Europeia e do euro e não de afirmação dos interesses nacionais. Para os «sagrados» interesses da UE, o que verdadeiramente conta é a apropriação da riqueza nacional pelo capital monopolista e não o desenvolvimento soberano do País.

O problema é, de facto, de opções políticas, não é de palavras ditas numa dada conjuntura. Por mais que pareça o contrário, por tanto desejarmos que assim fosse.




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