Porto Rico às escuras
Mais de um milhão de porto-riquenhos estão há quase uma semana sem electricidade. Não haviam transcorrido 10 dias sobre a privatização da rede eléctrica e já a colónia dos EUA estava mergulhada nas trevas, mas não foi por falta de aviso.
A privatização foi iniciativa da Comissão de Controlo Fiscal (CCF), uma espécie de consulado da austeridade criado, em 2016, pela infame Lei Promesa da administração Obama. No livro de receitas neoliberal para tirar a ilha da bancarrota, para além das evidentes privatizações, propunha-se a proibição das greves do sector público, sugeria-se cortes de pensões e recomendava-se despedimentos, muitos despedimentos. Só na rede eléctrica, denuncia o sindicato, o número de trabalhadores da manutenção passou de 2000 para menos de 300.
A Luma, o consórcio de empresas dos EUA e do Canadá que comprou a rede, não está contratualmente obrigado a investir um único cêntimo na manutenção da infraestrutura, mas os contribuintes porto-riquenhos ficam obrigados a pagar-lhe 115 milhões de dólares por ano, durante 15 anos. Reflectindo o consenso nacional contra a privatização, a câmara dos representantes porto-riquenha foi unânime na recusa deste contrato, mas a CCF, que não foi eleita, tem poderes absolutos.
Não foi, portanto, surpreendente que em apenas 10 dias, se tenham registado mais de 30 mil apagões em Porto Rico. Para Jocelyn Velázquez, do movimento Se Acabaron Las Promesas, a nova idade das trevas que se abateu sobre Porto Rico é parte de uma estratégia para reforçar a dependência da colónia.
«O CCF está a pôr os interesses da Luma acima dos interesses do povo, acima dos interesses de milhares de pessoas que agora estão sem luz em casa», disse aos jornalistas numa manifestação em frente à sede da empresa, «Ao mesmo tempo, o CCF continua a cortar nas nossas pensões, no financiamento da nossa universidade, na educação e na saúde (...) para que a dívida de Porto Rico dure para sempre e cada vez estejamos mais dependentes dos EUA. Agora até para ligar um interruptor precisamos da licença de Biden. O resultado das privatizações está à vista: uma nova idade das trevas».