- Nº 2493 (2021/09/9)
Cineavante

Não há cinema como este

Festa do Avante!

O cinema foi mostrado ao ar livre pelo segundo ano consecutivo na Festa. As imagens em movimento iluminaram o magnífico espaço junto à lagoa e os sons envolveram-no. Podemos dizer que o lugar é tão único como a programação que o CineAvante! teve para oferecer. Manteve-se a diversidade de propostas cinematográficas e o fundamental compromisso com a liberdade e a imaginação. Além disso, retomou-se a presença de convidados, em particular de autores, que enquadraram as obras e fomentaram a sua discussão crítica. Desta forma, salientou-se o trabalho por trás dos filmes, mas também o impacto do cinema na percepção da história e na relação com o presente. As condições no exterior impuseram a redução da programação, há certamente acertos técnicos a fazer, mas o interesse e contentamento dos visitantes foi evidente — bem visível no grande número de espectadores.

A sessão de Fora de Campo ou Revolução até à Vitória (2016) de Mohanad Yaqubi teve apresentação de Carlos Almeida (MPPM), que felicitou a organização pela escolha deste filme tão singular e, infelizmente, pouco conhecido. Segundo ele, «a causa do povo palestino é, antes de mais, uma luta contra o esquecimento. O objectivo da célula era afirmar a imagem de um povo, um povo que existe, com uma cultura própria que tomava nas suas mãos a luta pela liberdade. Este filme é uma tentativa de resgate da memória. É também um objecto artístico que intervém no presente porque mostra o processo e o movimento de resistência nacional e de construção de um projecto revolucionário para a Palestina. Interpela-nos sobre a necessidade de fazer renascer esse movimento e de reforçar a solidariedade com o povo palestiniano.»

Antes da projecção de Visões do Império (2020) de Joana Pontes, a realizadora afirmou-se honrada por mostrar este documentário na Festa, aproveitando para denunciar a falta de meios necessários dos arquivos nacionais e institucionais que consultou. Para ela trata-se de uma obra que «cruza a memória pessoal e o registo histórico, analisando como a fotografia foi usada para criar, disseminar, consolidar, e também contestar, uma ideia do grande império do Minho a Timor, multirracial.» Ela procurou também «investigações académicas muito relevantes que devem estar no espaço público e servir de argumento a debates que sejam consistentes.»

José Filipe Costa comentou o seu filme, Prazer, Camaradas! (2019), explicando que o filme se centra «nas relações que se estabeleceram entre os portugueses e os estrangeiros que vieram para as cooperativas da Azambuja: os portugueses das aldeias e os estrangeiros que vinham com grandes ideias sobre a revolução, que eles achavam que não devia ser apenas nas estruturas de produção. Prazer, Camaradas! é, sobretudo, sobre isso: como se relacionam as pessoas, na intimidade e no espaço doméstico.»

Tal como noutros anos, a «Monstrinha na Festa» deu a ver o melhor do cinema de animação de todo o mundo em duas sessões especialmente dirigidas às crianças. Tiago Galrito (Monstra – Festival de Animação de Lisboa) valorizou esta parceria com o CineAvante! que dura desde 2017. Acrescentou que este «é um cinema diferente, onde tudo é possível. Há sempre muitas ideias novas e criativas.»


Sérgio Dias Branco