Crescer e avançar no Porto para levar a luta por diante

No sá­bado, o PCP en­cheu – de gente e de de­ter­mi­nação – o pa­vi­lhão da Es­cola Se­cun­dária Ca­ro­lina Michaëlis, no Porto, num co­mício que contou com a par­ti­ci­pação do Se­cre­tário-geral, Je­ró­nimo de Sousa. Os co­mu­nistas por­tu­enses voltam às ruas hoje, às 18h00, num des­file com início na Praça da Ba­talha, pelo di­reito à ha­bi­tação, por mais sa­lário, pelo re­forço do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, por cre­ches gra­tuitas.

«Dê-se es­ta­bi­li­dade à vida das pes­soas em vez de agitar pré-anun­ci­adas crises»

Os co­mu­nistas por­tu­enses estão ha­bi­tu­ados a lidar com de­sa­fios no seu dia-a-dia. No sá­bado pas­sado não foi o tempo, que adi­vi­nhava chuva, que im­pediu o salão da Es­cola Se­cun­dária Ca­ro­lina Michaëlis de se en­cher numa forte tor­rente mi­li­tante. Do início ao fim, o co­mício cons­ti­tuiu um inequí­voco mo­mento de afir­mação da força do PCP na­quela ci­dade e na­quele dis­trito nor­te­nhos.

Com­pro­vando que, ali como em todo o País, os co­mu­nistas estão mais do que prontos para pros­se­guir e in­ten­si­ficar a sua afir­mação e in­ter­venção – nas em­presas e nos lo­cais de tra­balho, nas ci­dades, bairros, vilas e al­deias do País, nas es­colas, nos sin­di­catos e as­so­ci­a­ções. Pre­pa­rados, sempre, para travar as lutas de todos os dias por me­lhores con­di­ções de vida para os tra­ba­lha­dores e para o povo, pela cons­trução de um Por­tugal com fu­turo.

E porque a luta também se faz de emo­ções, estas es­ti­veram ali à flor da pele, do pri­meiro ao úl­timo mo­mento. Quando Minda Araújo (an­tiga in­te­grante da Bri­gada Victor Jara) e Amigos en­to­aram a Trova do Vento que Passa, de Adriano Cor­reia de Oli­veira, ou Maria Faia, de José Afonso, e uma ca­ma­rada de cravo em riste deixou cair al­gumas lá­grimas. Ou quando ou­tros dois tro­cavam dois dedos de con­versa e um deles con­tava que apesar de ter tra­ba­lhado mais de 40 anos, nunca re­cebeu muito mais do que 500 euros por mês e que, agora, a sua re­forma ronda apenas os 300.

São pes­soas assim que também fazem do PCP um ver­da­deiro par­tido dos tra­ba­lha­dores. Ho­mens, mu­lheres e jo­vens que, «mesmo na noite mais triste», sempre sou­beram re­sistir e dizer não às in­jus­tiças e à ex­plo­ração. Que tra­ba­lharam a vida in­teira e que querem me­lhor para si, para os seus e para todos os que par­ti­lham ou par­ti­lharão a sua con­dição.

Foi a todas estas pes­soas, a todos quantos en­chiam a imensa sala, que Je­ró­nimo de Sousa co­meçou por se di­rigir, re­ve­lando que «ao fim de muitos anos», elas a con­ti­nuam sur­pre­endê-lo: «Neste tempo de com­ple­xi­dades e de pro­blemas, num tempo pós-elei­toral, em que os meios de co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nantes pro­curam criar a ideia de um Par­tido di­vi­dido, en­fra­que­cido, a vossa forma de estar e par­ti­cipar mostra que os co­mu­nistas do Porto con­ti­nuam e con­ti­nu­arão neste Par­tido. Na sua luta, nos seus ideais e na sua pro­funda con­vicção de que é pos­sível avançar e crescer. Que é pos­sível uma outra so­ci­e­dade no nosso País.»

Rumo di­fe­rente

Foi em re­lação ao Or­ça­mento do Es­tado para 2022 e aos pro­blemas que o País tem que en­frentar que o Se­cre­tário-geral de­dicou uma grande parte da sua in­ter­venção.

«A si­tu­ação do País impõe uma am­pli­tude de res­postas e de op­ções que cor­res­pondam à di­mensão dos pro­blemas», afirmou, acres­cen­tando que «Por­tugal pre­cisa de ou­tras op­ções e de um ca­minho al­ter­na­tivo capaz de re­solver pro­blemas acu­mu­lados e en­cetar uma tra­jec­tória de de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial, su­pe­rando as ques­tões que marcam a vida dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País».

«O de­bate do Or­ça­mento para 2022», se­gundo Je­ró­nimo de Sousa, «tem de se in­serir nessa res­posta global tão ne­ces­sária quanto ina­diável».

Sobre a pos­tura do PCP, o di­ri­gente co­mu­nista lem­brou que a in­ter­venção do Par­tido no pas­sado re­cente foi de­ci­siva para ali­viar di­fi­cul­dades, através de me­didas de re­po­sição, de­fesa e con­quista de di­reitos e ren­di­mentos e para «travar o rumo de de­sastre na­ci­onal que o País vinha se­guindo». Ainda nos úl­timos anos, acres­centou, o PCP foi de­ci­sivo ao con­tri­buir com so­lu­ções que re­pre­sen­taram uma sig­ni­fi­ca­tiva me­lhoria nas con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, «mesmo com a co­nhe­cida sub­missão do PS a op­ções que de­ter­mi­naram a sua po­lí­tica».

Foram «avanços e con­quistas de ine­gável valor», mas que «não foram su­fi­ci­entes para in­verter as­pectos es­sen­ciais da po­lí­tica na­ci­onal e, por re­sis­tência do PS, para atacar o con­junto de pro­blemas es­tru­tu­rais», acres­centou.

Para o PCP, o Or­ça­mento do Es­tado para 2022 devia estar in­se­rido nesse sen­tido geral de res­posta aos pro­blemas. No en­tanto, não só o Or­ça­mento não se in­sere nesse sen­tido, como o Go­verno não dá si­nais de querer as­sumir esse ca­minho.

Por­tugal pre­cisa de res­postas

«A pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado está longe de se cons­ti­tuir como parte im­por­tante, mas não única, desse rumo que o País pre­cisa», su­bli­nhou Je­ró­nimo de Sousa.

A pro­posta apre­sen­tada não as­sume o au­mento dos sa­lá­rios como uma emer­gência na­ci­onal, não opta por en­frentar o ca­pital e pro­teger os tra­ba­lha­dores em ma­téria de le­gis­lação la­boral. É, por outro lado, uma pro­posta que deixa cen­tenas de mi­lhares de pen­si­o­nistas que mais des­con­taram sem verem o seu poder de compra re­cu­pe­rado, ou aqueles que tra­ba­lharam mais de 40 anos com cortes nas suas pen­sões.

O Go­verno do PS apre­sentou uma pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado que não dá si­nais de de­fesa só­lida de sec­tores fun­da­men­tais como os cor­reios, a energia, os trans­portes ou as te­le­co­mu­ni­ca­ções. Na qual não se en­contra, também, a res­posta ne­ces­sária e de­ci­siva para re­forçar os ser­viços pú­blicos, como o SNS. E onde não se vis­lumbra um pro­gres­sivo de­sa­gra­va­mento dos ren­di­mentos de tra­balho mais baixos e in­ter­mé­dios e a cri­ação de uma rede pú­blica de cre­ches de ma­neira a as­se­gurar o di­reito a cre­ches gra­tuitas para todas as cri­anças não en­con­tram so­lu­ções.

«Na si­tu­ação ac­tual, con­si­de­rando a re­sis­tência do Go­verno, até este mo­mento, em as­sumir com­pro­missos em ma­té­rias im­por­tantes além do Or­ça­mento e também no con­teúdo da pro­posta de Or­ça­mento que está apre­sen­tada, ela conta hoje com a nossa opo­sição, com o voto contra do PCP», afirmou. No en­tanto, «até à sua vo­tação na ge­ne­ra­li­dade ainda é tempo de en­con­trar so­lu­ções», ad­mitiu.

Antes de ter­minar, o Se­cre­tário-geral ainda su­bli­nhou que o que é pre­ciso «são so­lu­ções e res­postas», e não «in­vo­ca­ções de crises po­lí­ticas». Aliás, ques­ti­onou, «em que é que as res­postas que os tra­ba­lha­dores e o povo re­clamam con­tri­buem para essa ale­gada crise?»

Ao lado dos tra­ba­lha­dores

«Es­ti­vemos nesta cam­panha au­tár­quica como e onde es­tamos todos os dias: junto dos tra­ba­lha­dores, das po­pu­la­ções, ou­vindo os seus pro­blemas e rei­vin­di­ca­ções e, fre­guesia a fre­guesia, con­celho a con­celho, apre­sen­tando pro­postas e so­lu­ções», lem­brou Diana Fer­reira, de­pu­tada na As­sem­bleia da Re­pú­blica eleita pelo cír­culo do Porto, que in­ter­veio antes de Je­ró­nimo de Sousa.

«Mas foi assim também de­pois do dia das elei­ções», con­ti­nuou, pois «não ar­ru­mamos as trouxas, não nos me­temos em casa. Vol­támos ao con­tacto com a po­pu­lação, a ouvir os pro­blemas que estão a sentir e a dizer que podem contar con­nosco porque os eleitos que temos estão nas ins­ti­tui­ções para servir as po­pu­la­ções».

«As ine­vi­ta­bi­li­dades que nos querem vender como tal, não o são. São op­ções. Há al­ter­na­tiva, a al­ter­na­tiva que o PCP tem afir­mado e de­mons­trado com a sua pro­posta», afirmou ao con­cluir, lem­brando que «ine­vi­tável é a luta, a luta que nos move a todos».

Já Jaime Toga, membro da Co­missão Po­lí­tica e res­pon­sável pela Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto do PCP, lem­brou que ao longo das úl­timas se­manas, os mi­li­tantes co­mu­nistas do Porto ana­li­saram e dis­cu­tiram os re­sul­tados elei­to­rais: «Temos bem pre­sente os fac­tores ex­ternos que os con­di­ci­o­naram, mas não fu­gimos à iden­ti­fi­cação das nossas fa­lhas, das nossas di­fi­cul­dades e in­su­fi­ci­ên­cias que pro­cu­ramos re­solver», afirmou. Mas os co­mu­nistas por­tu­enses fazem essa dis­cussão olhando para a frente, «para a ne­ces­si­dade de in­tervir e de honrar todos e cada um dos com­pro­missos que as­su­mimos com a po­pu­lação, mas com a cer­teza de que pre­ci­samos de um Par­tido mais forte para res­ponder a tudo isto».

«Da nossa parte, aqui es­tamos com este Par­tido, que se afirma como força de­ci­siva, ao lado dos tra­ba­lha­dores e do povo, todos os dias», su­bli­nhou Jaime Toga, re­al­çando que o PCP «não vira a cara à luta , nem aban­dona com­pro­missos». Ainda hoje, 21, os co­mu­nistas es­tarão nas ruas da ci­dade pre­ci­sa­mente para de­nun­ciar a falta de res­postas do Go­verno na pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado.

Ma­da­lena Castro, da Di­recção Na­ci­onal da JCP, re­a­firmou os com­pro­missos de sempre da or­ga­ni­zação re­vo­lu­ci­o­nária da ju­ven­tude por­tu­guesa: a luta pelo tra­balho com di­reitos, contra as pro­pinas, pelo fim do pro­cesso de Bo­lonha e dos exames na­ci­o­nais no En­sino Se­cun­dário, pela so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista com os jo­vens de todo o mundo e pelo di­reito a crescer num am­bi­ente sadio e eco­lo­gi­ca­mente sus­ten­tável. A JCP con­ti­nuará a estar ao lado de todas as lutas dos jo­vens por­tu­gueses, ga­rantiu.




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