COP26: pintar o futuro de verde

João Pimenta Lopes

Ter­mi­nará amanhã a Con­fe­rência das Partes sobre al­te­ra­ções cli­má­ticas que teve lugar em Glasgow (COP26). Vinte e seis anos pas­saram desde a pri­meira COP, em Março de 1995, em Berlim. As emis­sões de dió­xido de car­bono, a partir de com­bus­tí­veis fós­seis e ci­mento, neste pe­ríodo ti­veram uma evo­lução cres­cente cons­tante, pas­sando de 922 mil mi­lhões de to­ne­ladas em 1995 para 1,7 bi­liões de to­ne­ladas em 2020. O im­pacto hu­mano na mo­di­fi­cação da com­po­sição da at­mos­fera e, por essa via, no clima é real (mas de­si­gual) e jus­ti­fica pre­o­cu­pação, re­flexão e acção.

Pese em­bora o grande ala­rido quanto à ur­gência de res­ponder às al­te­ra­ções cli­má­ticas, in­ter­vindo sobre a prin­cipal causa iden­ti­fi­cada – o aque­ci­mento global por via das cres­centes emis­sões de gases com efeitos de es­tufa (GEE), as con­clu­sões não trarão grande no­vi­dade quanto à na­tu­reza das me­didas a tomar. Me­didas que mudam muito pouco ou cons­truídas apenas para ga­rantir a pre­ser­vação do lucro e o do­mínio de Es­tados sobre ou­tros (e os seus re­cursos). Não por acaso, a ini­ci­a­tiva as­sume um outro ca­rácter, de ar­re­messo contra países em de­sen­vol­vi­mento, como a China ou a Índia, pro­cu­rando omitir as res­pon­sa­bi­li­dades his­tó­ricas cu­mu­la­tivas de emis­sões con­ta­bi­li­zadas di­rec­ta­mente (desde 1751, 25% os EUA, 22% a UE28), ou ilu­dindo uma visão de emis­sões não apenas por país mas per ca­pita (em to­ne­ladas de CO2 per ca­pita em 2020: Aus­trália 15,37; EUA 14,24; Ale­manha 7,69; China 7,41; ou a Índia 1,77), além dos di­fe­ren­ci­ados es­tá­dios de de­sen­vol­vi­mento de cada país, e ig­no­rando o cál­culo de emis­sões que con­si­dere a ex­ter­na­li­zação de ca­pa­ci­dade pro­du­tiva ou ex­tra­tiva em países ter­ceiros.

A res­posta será um pro­lon­ga­mento de me­didas de mer­cado que já pro­varam ser não só ine­fi­cazes como per­versas, acom­pa­nhadas de me­didas de re­dução de emis­sões através de so­lu­ções tec­no­ló­gicas que estão ainda por con­so­lidar ou que não têm es­cala para a di­mensão das ac­ções que se afi­guram ne­ces­sá­rias. O anúncio da mo­bi­li­zação de 100 mil mi­lhões de dó­lares por ano para apoio aos países em de­sen­vol­vi­mento para fa­zerem face à adap­tação às al­te­ra­ções cli­má­ticas e à “tran­sição” re­pre­senta o re­a­nun­ciar de verbas que não che­garam no pas­sado, além de in­su­fi­ci­entes e so­bre­tudo numa ló­gica de em­prés­timos e não de sub­ven­ções, so­mando mais en­di­vi­da­mento, mais de­pen­dência, po­dendo-se tra­duzir em novas formas de co­lo­ni­a­lismo, con­di­ci­o­nando o de­sen­vol­vi­mento de Es­tados, dei­xando os re­cursos à mercê das po­tên­cias mun­diais e do ca­pital trans­na­ci­onal.

In­te­grámos em Glasgow ini­ci­a­tivas com muitos mi­lhares de ac­ti­vistas que ali se di­ri­giram, afir­mando a in­su­fi­ci­ência e ina­de­quação das me­didas pre­co­ni­zadas pelo sis­tema ca­pi­ta­lista. E con­tra­pondo a al­ter­na­tiva ne­ces­sária, onde se in­cluem, entre ou­tras me­didas, a adopção de uma abor­dagem nor­ma­tiva à re­dução de GEE em vez da abor­dagem de mer­cado, o di­reito de cada país a pro­duzir e à sua so­be­rania ali­mentar, o fim da des­re­gu­lação e li­be­ra­li­zação do co­mércio mun­dial, a de­fesa da pro­dução e con­sumo lo­cais, a pro­moção de po­lí­ticas de mo­bi­li­dade as­sentes no trans­porte pú­blico, o con­trolo pú­blico de sec­tores es­tra­té­gicos como a energia, ou a de­fesa da paz!




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