O euro é um obstáculo ao nosso desenvolvimento

João Fer­reira, da Co­missão Po­lí­tica, fez uma de­cla­ração, a 31 de De­zembro, a pro­pó­sito dos 20 anos da en­trada em cir­cu­lação do euro. Mostra, com factos, que as con­sequên­cias do euro são de­sas­trosas para Por­tugal e para o povo por­tu­guês.

Re­cusar ine­vi­ta­bi­li­dades, afirmar a so­be­rania e o di­reito ao de­sen­vol­vi­mento

A 1 de Ja­neiro de 2022 pas­saram 20 anos desde que en­traram em cir­cu­lação as mo­edas e notas de euro. Por­tugal aderiu à moeda única em 1999, data em que for­mal­mente deixou de ter uma moeda, um banco cen­tral, uma po­lí­tica mo­ne­tária, fi­nan­ceira e cam­bial in­de­pen­dentes. Mas o nu­me­rário fí­sico em euros, em vez de es­cudos, foi in­tro­du­zido em 2002.

Pas­sados 20 anos, su­blinha, a re­a­li­dade dá razão aos que, como o PCP, pre­viram – e pre­ve­niram – os im­pactos da adesão.

Re­corde-se, hoje, entre ou­tras, as pro­messas de me­lhoria dos sa­lá­rios e do poder de compra, de con­ver­gência com os países com sa­lá­rios mais ele­vados. Pro­messas des­feitas pela re­a­li­dade, que trouxe, sim, a de­gra­dação de sa­lá­rios e poder de compra. Se em Por­tugal o Go­verno PS não vai além dos 705 de euros de sa­lário mí­nimo até final de 2022, na Ale­manha atin­girá em breve os 2000 euros. Em Por­tugal, o sa­lário médio está pouco acima dos 1000 euros, an­dando a média da Zona Euro nos 1900 euros.

As con­sequên­cias do euro são «de­sas­trosas para Por­tugal e para o povo por­tu­guês. Go­vernos de PS, PSD e CDS, que nos me­teram no euro, atiram culpas uns aos ou­tros, mas ocultam o seu com­pro­misso comum com o euro e os danos que causa ao País, re­alçou o membro da Co­missão Po­lí­tica, lem­brando que «de­pois de aderir ao euro, o cres­ci­mento eco­nó­mico na­ci­onal re­duziu-se a menos de um quarto».

Em re­sumo, o euro trouxe re­cessão e es­tag­nação, uma grande in­su­fi­ci­ência de cres­ci­mento. Por­tugal não perdeu anos, perdeu dé­cadas. Não houve con­ver­gência com a média eu­ro­peia, muito menos com os países mais avan­çados, houve di­ver­gência. Por­tugal tornou-se um dos países que menos cresce no mundo.

Não há ine­vi­ta­bi­li­dades

Aos que hoje choram lá­grimas de cro­co­dilo pela es­tag­nação eco­nó­mica do País nestes 20 anos, o di­ri­gente co­mu­nista lem­brou a re­lação causa-efeito que existe entre o euro e esta re­a­li­dade: a moeda única, ga­rantiu, não foi feita para Por­tugal, mas sim «à me­dida das ne­ces­si­dades e dos in­te­resses do ca­pital fi­nan­ceiro, das mul­ti­na­ci­o­nais eu­ro­peias, da ca­pa­ci­dade pro­du­tiva e ex­por­ta­dora da Ale­manha».

Foi com o euro, lem­brou, que foi re­du­zido o in­ves­ti­mento, pri­vado e pú­blico, mesmo com os fundos co­mu­ni­tá­rios e o plano de re­cu­pe­ração e re­si­li­ência, que pa­ga­remos mais tarde. Do mesmo modo que a pro­dução na­ci­onal tem sido pre­ju­di­cada: «O euro en­ca­rece as nossas ex­por­ta­ções, subs­titui pro­du­ções na­ci­o­nais por im­por­ta­ções, pre­ju­dica a nossa in­dús­tria, a agri­cul­tura e as pescas. Pro­move o de­sem­prego, a pre­ca­ri­e­dade, o em­po­bre­ci­mento, a emi­gração, a de­ser­ti­fi­cação. Es­ti­mula o en­di­vi­da­mento ex­terno, a saída de ren­di­mentos e de ca­pi­tais», au­men­tando ainda o en­di­vi­da­mento pú­blico. Com o euro, Por­tugal con­verteu-se num dos países com as mai­ores dí­vidas pú­blica e ex­terna do mundo.

Os factos estão, por­tanto, bem à vista: o euro é um «obs­tá­culo ao de­sen­vol­vi­mento do País», ga­rantiu João Fer­reira, re­al­çando que Por­tugal pre­cisa de se li­bertar do euro, pre­cisa de uma moeda pró­pria, ajus­tada à sua re­a­li­dade e também às suas po­ten­ci­a­li­dades, que pro­mova o in­ves­ti­mento, a mo­der­ni­zação do apa­relho pro­du­tivo, a di­ver­si­fi­cação do co­mércio ex­terno, a efi­ci­ência dos ser­viços pú­blicos, o au­mento dos sa­lá­rios e a qua­li­fi­cação dos tra­ba­lha­dores. E mais: «Os di­reitos, os sa­lá­rios, o de­sen­vol­vi­mento, a res­posta aos pro­blemas do povo e do País, so­bre­põem-se às im­po­si­ções ex­ternas. Não há ine­vi­ta­bi­li­dades».




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