Presidente do Cazaquistão afirma que fracassou uma tentativa de golpe de Estado no país, tendo como pano de fundo uma vaga de protestos iniciada no princípio do ano. Rússia e China denunciam ingerências estrangeiras e recusam mais uma «revolução colorida».
Kazim-Yomart Tokáev considerou que a ordem constitucional no país foi já restabelecida, após uma tentativa fracassada de golpe de Estado. Tropas da Organização do Tratado de Segurança Colectiva/ OTSC (formada pela Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguízia, Rússia e Tadjiquistão) foram enviadas para o país da Ásia Central para ajudar a estabilizar a situação.
O chefe de Estado cazaque garantiu que, a coberto de manifestações contra o aumento do preço do gás, surgiu uma onda de violência, com pilhagens e confrontos em Nursultán, a capital, e noutras cidades. Referiu-se a «radicais, criminosos, bandidos e pequenos agitadores» actuando como se obedecessem «a uma única ordem» e denunciou tentativas de captura de equipamento militar e a participação de «terroristas estrangeiros» em acções violentas.
Também o presidente da Federação da Rússia, Vladimir Pútin, realçou a «utilização do espaço cibernético e das redes sociais para recrutar extremistas e terroristas» e a participação nos distúrbios de «bandos de pessoas armadas, treinadas em centros estrangeiros e com experiência em operações de combate em zonas conflituosas do mundo». Também a China, pela voz do presidente Xi Jinping, expressou a firme oposição do seu país às forças externas que terão estado na base dos actos violentos.
Causas profundas
À semelhança do que sucedeu noutros países, também no Cazaquistão os recentes acontecimentos resultam da convergência de diferentes factores: um real descontentamento social, a existência de uma «quinta coluna» e a acção de grupos armados, salientou o Partido Comunista da Federação Russa. Esta «quinta coluna» inclui fundamentalistas islâmicos, ONG controladas a partir de potências ocidentais, membros das forças militares e de segurança e «clãs oligárquicos».
Recuando no tempo, os comunistas russos relacionam a actual situação no país com a «tragédia» que assolou a generalidade dos países que integravam a União Soviética: o «capitalismo selvagem» deixou um enorme rasto de pobreza e injustiças e os Estados transformaram-se, quase todos, em meros fornecedores e mercados de matérias-primas, fontes de mão-de-obra barata e peões nas «aventuras geopolíticas das potências imperialistas», que parte da sua economia.
O Cazaquistão, lamentou, «seguiu este caminho escorregadio»: também ali grassa a russofobia, o anti-sovietismo, a reabilitação dos colaboradores dos nazis, o anticomunismo.
Aos protestos sociais exigindo a baixa do preço do gás, o aumento de salários e apoios sociais, seguiu-se a acção de grupos armados, com evidentes ligações ao exterior e à referida «quinta coluna». O dirigente do PCFR exige que o contingente da OTSC se limite aos objectivos declarados de manutenção de paz e defende que se separe claramente as legítimas reivindicações populares da acção de grupos armados.