Contra a exploração também se tempera o aço

O con­fronto com a ex­plo­ração do tra­balho pelo ca­pital e a ex­pe­ri­ência que se ad­quire na luta para a tornar menos pe­nosa até que seja de­fi­ni­ti­va­mente ex­tinta das re­la­ções so­ciais, são po­de­rosos de­sen­ca­de­a­dores de cons­ci­ência e or­ga­ni­zação po­lí­tica. Não é no­vi­dade, mas vale a pena su­bli­nhar o facto quando, na ac­tual vaga de ade­sões ao Par­tido da classe ope­rária e de todos os tra­ba­lha­dores, vá­rios são os casos que o com­provam. E é tanto mais im­por­tante e as­sume re­do­brada ac­tu­a­li­dade quanto, no ac­tual con­texto, a par da pa­tranha da ine­xis­tência de ex­plo­rados e ex­plo­ra­dores no modo de pro­dução ca­pi­ta­lista que tran­sitou para o sé­culo XXI, a ide­o­logia das classes do­mi­nantes pro­cura con­vencer os do­mi­nados de que o co­mu­nismo é um ideal e pro­jecto ul­tra­pas­sado, que só mo­bi­liza ve­lhos e nada tem a dizer ou se en­quadra na «vida mo­derna» das novas ge­ra­ções.
Pois bem, em Mon­temor-o-Novo fomos en­con­trar um jovem de­le­gado e di­ri­gente sin­dical que re­cen­te­mente se ins­creveu no PCP. A sua adesão às fi­leiras re­vo­lu­ci­o­ná­rias de­corre do cres­cente en­vol­vi­mento no mo­vi­mento sin­dical, que co­nheceu aos 19 anos quando co­meçou a tra­ba­lhar numa fá­brica aca­bada de inau­gurar.
Na nova uni­dade in­dus­trial, o nosso novo ca­ma­rada con­frontou-se com a velha ex­plo­ração. Para lá do lustro e do cheiro a ob­jectos pouco usados, es­con­diam-se as in­jus­tiças la­bo­rais do velho mundo. O seu des­con­ten­ta­mento foi cres­cendo, cres­cendo. O sin­di­cato co­meçou a apa­recer, a es­cla­recer e a mo­bi­lizar para a luta contra a sobre-ex­plo­ração, por me­lhores con­di­ções la­bo­rais,, re­tri­bui­ções e por di­reitos, e o jovem que não tinha qual­quer li­gação ao PCP que não fosse saber da sua exis­tência, tomou a di­an­teira, sendo eleito de­le­gado pelos seus ca­ma­radas de ofício.
O en­vol­vi­mento sin­dical, o co­nhe­ci­mento de que se­me­lhantes si­tu­a­ções ofen­diam ou­tros tra­ba­lha­dores nou­tras em­presas e a iden­ti­fi­cação de que é o PCP quem está sempre com os tra­ba­lha­dores e as suas rei­vin­di­ca­ções, trou­xeram-no ao Par­tido, ca­minho que con­si­dera «ine­vi­tável», pois «se as lutas são as mesmas...»
Hoje, o jovem que «nunca quis saber de po­lí­tica» até ter cons­ta­tado, no local de tra­balho e na luta, qual a sua classe e qual o Par­tido da sua classe, já é também di­ri­gente sin­dical e àquele mo­vi­mento e or­ga­ni­zação de­dica o me­lhor da sua energia, or­ga­ni­zando-se igual­mente no PCP nesse âm­bito.
Em Mon­temor-o-Novo fa­lámos ainda com um ex-mi­neiro que neste mo­mento é en­ge­nheiro civil. Jovem de Al­jus­trel, a mina foi um es­cape ao campo donde sempre viu os pais ar­ran­carem sus­tento. E mesmo tendo tra­ba­lhado sempre à su­per­fície, foi obri­gado a ir ao fundo da questão.
Poucos meses após ter sido con­tra­tado pelos es­tran­geiros que ga­ran­tiram a con­cessão da mina, foi, com ou­tros co­legas, «des­car­tado como se fosse uma peça de loiça», sem con­si­de­ração para com «as nossas obri­ga­ções ou ne­ces­si­dades», re­latou.
A re­volta ca­ta­pultou-o para a di­an­teira da luta, onde con­tactou pela pri­meira vez com a po­lí­tica e co­nheceu o sin­di­cato. Tomar par­tido pelo em­prego valeu-lhe um ró­tulo que o im­pediu de voltar a tra­ba­lhar na mina. Fez-se à es­trada. Li­teral e me­ta­fo­ri­ca­mente, pois co­meçou a es­tudar na uni­ver­si­dade e, si­mul­ta­ne­a­mente, a tra­ba­lhar como ope­rário na cons­trução de uma via de co­mu­ni­cação no dis­trito de Beja.
O amor foi a es­trada que o trouxe a Mon­temor-o-Novo, onde re­side e aderiu ao PCP. Mas mesmo que hoje seja na­quele pe­daço de Alen­tejo que vive, tra­balha e com­bate por uma so­ci­e­dade sem ex­plo­ra­dores nem ex­plo­rados, nem por isso es­quece os que fi­caram na mina. Por isso su­blinha que é de tre­menda in­jus­tiça que os seus ca­ma­radas não te­nham um sa­lário digno e o di­reito à re­forma an­te­ci­pada, com­pa­tí­veis com a pe­no­si­dade da pro­fissão que foram obri­gados a adoptar para so­bre­viver.



Mais artigos de: PCP

Comício a 6 de Março no Campo Pequeno

O co­mício que o PCP re­a­li­zará a 6 de Março no Campo Pe­queno, em Lisboa, cons­ti­tuirá uma «grande acção de massas in­se­rida na luta pela re­so­lução dos pro­blemas na­ci­o­nais», de afir­mação da al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda e do ideal e pro­jecto co­mu­nistas.