Chantagens, reféns, ventos e talentos

Margarida Botelho

Na sessão pú­blica re­a­li­zada em Lisboa no pas­sado sá­bado, o se­cre­tário-geral do PCP chamou a atenção para o «fo­gue­tório» com que ban­queiros e pa­trões re­ce­beram a no­tícia da mai­oria ab­so­luta do PS.

Vale a pena, para me­mória fu­tura e para con­sultar em caso de dú­vida, re­gistar as en­can­tadas de­cla­ra­ções.

O pre­si­dente da CIP, An­tónio Sa­raiva, disse em de­cla­ra­ções à Rádio Re­nas­cença, que o an­te­rior go­verno do PS «es­tava refém dos dois par­tidos à es­querda» e que, «agora sem ge­rin­gonça atre­lada» (a ex­pressão é dos jor­na­listas da rádio) pode fazer as «re­formas» ne­ces­sá­rias.

Au­gusto Santos Silva, mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, em de­cla­ra­ções à SIC, re­fere-se aos an­te­ri­ores go­vernos do PS nos se­guintes termos: «a única di­fe­rença da mai­oria ab­so­luta é que o PS dei­xará de estar refém da ló­gica da chan­tagem» - do PCP e do PEV, leia-se. Cu­riosa a es­colha da pa­lavra «refém», coin­ci­dente com a de An­tónio Sa­raiva, não é?

Oli­veira e Costa, CEO do BPI, em de­cla­ra­ções du­rante a con­fe­rência de im­prensa em que apre­sentou os re­sul­tados do banco de 2021 (uns mo­destos 307 mi­lhões de euros de lucro, o triplo dos de 2020) vê na mai­oria ab­so­luta do PS «uma grande opor­tu­ni­dade que vai criar um mo­mento his­tó­rico», em que «temos cla­ra­mente um vento de popa, como dizem os ma­ri­nheiros, muito sig­ni­fi­ca­tivo».

Castro Al­meida, CEO do San­tander Totta (que, coi­ta­dito, só apre­sentou lu­cros de 298,2 mi­lhões de euros, num ano em que man­daram em­bora 1175 tra­ba­lha­dores e en­cer­raram 79 bal­cões) afirmou que «há uma muito maior li­ber­dade de exe­cução face a um go­verno mi­no­ri­tário. Não há muitos países na Eu­ropa com esta ca­pa­ci­dade de au­to­nomia e de de­cisão como nós temos». E chamou até a atenção para outra opor­tu­ni­dade: «há pes­soas e até in­de­pen­dentes que pela pers­pe­tiva de um go­verno a quatro anos e com ca­pa­ci­dade para exe­cutar um plano, também aí a atração de ta­lento é uma grande van­tagem».

Quanto ao fo­gue­tório, fi­camos con­ver­sados. E sem grandes ilu­sões sobre a quem serve a mai­oria ab­so­luta.




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