Porto acolhe manifestação de mulheres que avança sábado para Lisboa
Mais de mil mulheres da região do Norte participaram na Manifestação Nacional de Mulheres, que arrancou, sábado, no Porto, sob o lema «Exigir igualdade na vida – os direitos das mulheres não podem esperar!».
«Viver direitos no trabalho e na vida»
A acção promovida pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM) foi, acima de tudo, uma grandiosa jornada de reivindicação por direitos e de solidariedade entre mulheres que lutam, em Portugal e em todo o mundo, pelo direito a uma vida em liberdade, igualdade, progresso e paz.
A Praça da Batalha, local icónico e simbólico do Porto, voltou a ser palco de um importante momento de luta, também de solidariedade, integrado nas comemorações do Dia Internacional da Mulher.
Ali estiveram mulheres dos distritos de Aveiro, Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Porto, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. A estas juntaram-se muitas outras pessoas, atraídas, porventura, pelos ritmos frenéticos do grupo de bombos «Os filhos da pauta», de Alfena. «Exigir igualdade na vida – os direitos das mulheres não podem esperar!», lia-se na faixa que encabeçava a manifestação, seguida de outras aspirações, como «Sonhar, agir, lutar – Juventude pela igualdade», uma camada social que ali esteve presente em grande número, também por «Igualdade na vida e no trabalho».
Seguiram-se outras mensagens fortes: «Não há desculpa para os retrocessos» e «Cravos vermelhos de Abril. As mulheres não desistem de lutar», intercaladas por apontamentos culturais, como o que foi proporcionado pelas Varinas da Afuradae osbombos «Estrelas de Gouveia»e «A trupe», de Mileirós de Poiares.
Pôr fim à precariedade
Durante o percurso – que passou pela rua de Santa Catarina e terminou junto à Estação Ferroviária da Trindade – foram denunciados os problemas vividos e sentidos pelas mulheres, nomeadamente no «mundo» laboral. «A igualdade tem de existir para o País evoluir», lia-se num pano da Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN, que está a promover em todo o País a 9.ª edição da Semana da Igualdade. Uma vez que«O capitalismo não defende os direitos das mulheres que explora e oprime», denunciou-se, o Sindicatos dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) trouxe consigo outras demandas: aumentos dos salários; 35 horas de trabalho semanais; defesa da contratação colectiva; encerramento do comércio aos domingos e feriados.
Pela igualdade na vida
A desigualdade territorial no acesso à saúde, desde os atrasos nas consultas e exames médicos, o encerramento de serviços de maternidade e pediatria, que põem em causa o direito à saúde das mulheres e das crianças, e a exigência do reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS), foram reivindicações de todos os distritos. «Pela saúde das mulheres e dos bebés, exigimos a Maternidade dos Covões», acentuaram as mulheres de Coimbra. Em pancartas alertava-se: «Não quero parir na ambulância. Temos direito à saúde materna».
«Violência conjugal é vergonha nacional» e «prostituição é exploração» foram outras palavras que ecoaram, a uma só voz e com pronúncia do Norte, para denunciar a multiplicidade das violências que continuam a flagelar a vida de muitos milhares de mulheres do nosso País e exigir políticas que previnam, combatam e apoiem, efectiva e eficazmente, as vítimas.
A acção contoucom a Federação Distrital do Porto da Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI), que apresentou a mensagem «Força de Abril. Envelhecer com direitos», o Movimento Direito à Cidade, que reclama «Direito à habitação», e a Associação das Mulheres Agricultoras e Rurais Portuguesas, por preços justos à produção, majoração dos apoios e reformas dignas. Uma delegação do PCP, constituída por Jaime Toga, Fernanda Mateus, Diana Couto e Diana Ferreira, marcoupresença na manifestação.
A luta prossegue no sábado, 12 de Março, em Lisboa, nos Restauradores, às 14h30, com a participação das mulheres dos distritos de Lisboa, Setúbal, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Évora, Portalegre, Beja e Faro.
«Paz sim! Guerra não!»
A manifestação deu voz aos anseios profundos de paz na Ucrânia, na Europa e no mundo. Foi por isso aprovado um apeloque manifesta solidariedade com as mulheres da Ucrânia e da Federação Russa «atingidas directamente neste sangrento conflito aberto na Europa», e se pede ao Governo português que «não favoreça acções bélicas e discursos beligerantes» e, pelo contrário, «promova iniciativas que contribuam para travar a guerra quanto antes». Apela-se ainda à Ucrânia e à Federação Russa que «parem a guerra e negoceiem uma solução pacifica para o conflito».
«Paz sim! Guerra não!» e «Pela paz, pelo pão, as mulheres cá estão» foram as palavras de ordem mais gritadas durante a acção.«Parar a guerra. Dar uma oportunidade à paz», foi convite trazido pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), que exige ao Governo a assinatura e a ratificação do Tratado de Proibição de Armas Nucleares, previsto na Constituição da República, estando a decorrer um abaixo-assinado nesse sentido.
Luta das mulheres
Num outro documento apresentado, o MDM saúda as mulheres que em todo o mundo lutam pela «paz e a justiça social, independência económica e dignidade humana», bem como pelo «direito ao trabalho, à igualdade salarial, à valorização dos seus salários e carreiras, que rejeitam a privatização de importantes serviços públicos e a deterioração progressiva dos mesmos» e «estão determinadas a defender os seus direitos sexuais e reprodutivos».
No final, Margarida Lopes, da Direcção e do Secretariado do MDM, apelou à unidade contra os «baixos salários, a precariedade e os horários desregulados que impedem a conciliação da vida profissional com a pessoal e familiar», o «flagelo da violência doméstica e as outras formas de violência e exploração das mulheres», o «desenfreado aumento do custo de vida» e «todas as formas de opressão e discriminação».
MDM exige
# Investimento nos serviços públicos, com o reforço de trabalhadores e meios;
# Garantia de redes públicas de creches e jardins-de-infância, centros de dia e lares;
# Mais e melhores transportes públicos;
# Habitação condigna e acessível;
# Reforço da capacidade de resposta do SNS, com a valorização das carreiras e remunerações de todos os seus profissionais, num sector onde a maioria são mulheres;
# Valorização do trabalho e das carreiras profissionais;
# Aumento geral dos salários e garantir salário igual para trabalho igual;
# Melhor protecção social no desemprego e na doença, aumento das pensões de reforma e de apoio às pessoas com deficiência;
# Reforço da prevenção e combate à violência doméstica, ao tráfico de seres humanos, e que a prostituição seja reconhecida como exploração e uma grave forma de violência sobre as mulheres e crianças.
Comemorações em todo o País
Porque os direitos das mulheres não podem esperar, o MDM está a assinalar o Dia Internacional da Mulher com um programa diversificado de acções em todo o País. Em Lisboa, na noite de segunda para terça-feira, desenvolveu-se a iniciativa «Elas trocam o dia pela noite e fazem o País avançar», para saudar as mulheres que trabalham em horários nocturnos, nas superfícies comerciais, na limpeza e higiene urbana, na cultura e na saúde.