Biombo

Vasco Car­doso

Na se­mana da in­ves­ti­dura dos de­pu­tados na As­sem­bleia da Re­pú­blica e da to­mada de posse do novo Go­verno é a guerra na Ucrânia – com tudo o que de trá­gico ela ar­rasta – que con­tinua a do­minar as aten­ções me­diá­ticas. É certo que es­tamos pe­rante de­sen­vol­vi­mentos de mag­ni­tude mun­dial, que estão muito para lá da Ucrânia, com o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano – a ver­da­deira mão por de­trás do ar­busto deste con­flito – a apostar tudo numa es­ca­lada de con­fron­tação.

Mas esta si­tu­ação está a servir não apenas de bi­ombo para os múl­ti­plos pro­blemas com que os tra­ba­lha­dores e os povos estão con­fron­tados – in­cluindo ou­tras guerras – como está a ser apro­vei­tado pelo grande ca­pital para jus­ti­ficar novas me­didas vi­sando o agra­va­mento da ex­plo­ração e a li­qui­dação de di­reitos.

É neste en­qua­dra­mento que o Go­verno PS entra em fun­ções. E pelo que já se per­cebeu, não só ali­nhará até ao fim com a es­tra­tégia da ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana, como terá neste con­flito a de­se­jável jus­ti­fi­cação para não res­ponder a pro­blemas de fundo com que o País há muito se de­fronta. Mais, ten­derá a dar co­ber­tura, tal como acon­teceu du­rante a epi­demia, a todo o tipo de apro­vei­ta­mentos que o grande ca­pital está a fazer deste con­flito, de que a es­pe­cu­lação em torno do preço dos com­bus­tí­veis é, apenas e só, um dos muitos exem­plos.

En­tre­tanto, a vida dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês pros­segue mar­cada pelos baixos sa­lá­rios e pen­sões, pelo brutal au­mento do custo de vida que está a cor­roer di­a­ri­a­mente o magro poder de compra que já existia, pela in­su­fi­ci­ência de res­posta dos ser­viços pú­blicos – o as­salto dos grupos pri­vados ao SNS con­tinua em ritmo ele­vado –, por novas ame­aças aos custos da ha­bi­tação vindas da pos­si­bi­li­dade de agra­va­mento das taxas de juro.

Pro­blemas que não só são an­te­ri­ores ao agra­va­mento da guerra na Ucrânia como não en­con­tram res­posta nas op­ções do Go­verno e que vão não só exigir uma ampla ini­ci­a­tiva do nosso Par­tido, como a in­dis­pen­sável in­ten­si­fi­cação da luta pela me­lhoria das con­di­ções de vida, por mais di­reitos, pelo pão, pela paz!



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