- Nº 2523 (2022/04/7)

Se um jornalista incomoda muita gente...

Opinião

Dizem-se «jornalistas», trabalham para capitalistas que não são oligarcas, ou para Estados submissos a esses capitalistas mas que nunca são oligárquicos, e acham normal debitarem acriticamente todo o guião de guerra da NATO, pois eles tomaram partido há muito, são soldados da NATO usando o teclado, o microfone e a câmara como arma, não são, nem nunca foram, nem nunca quiseram ser jornalistas.

Não sei sempre se mentem ou quando mentem. E eles também não. Que eu não saiba é normal, tento formar opinião através das fontes de informação disponíveis. Que os profissionais que nos deveriam informar tão pouco saibam é que é grave. E eles não sabem e não querem saber. Cumprem um papel. E gostam.

E se algum jornalista escolhe dar uma notícia que esteja fora do guião, é bom que veja bem por onde anda e não conte com a solidariedade dos restantes «jornalistas». Que o diga o correspondente do Publico (Espanha), o jornalista Pablo Gonzalez, preso há 35 dias na Polónia acusado de espionagem, baseado na esmagadora «prova» de possuir dupla nacionalidade, pois é simultaneamente espanhol e russo, sendo que nasceu na Rússia onde a sua família esteve refugiada do fascismo espanhol. O silêncio sobre este jornalista espanhol preso é ainda maior que aquele que se abate sobre a prisão de Julian Assange, que está preso sem culpa formada, depois da acusação inicial (forjada) ter sido desmascarada e que vai ser entregue aos EUA para estes se vingarem dele.

É neste ambiente que uma personagem como Fernanda Câncio se lembra de reagir indignada ao facto de haver um jornalista português na Ucrânia – o Bruno de Carvalho – e estar a relatar o que vê e o que investiga em vez de transmitir o guião escrito pela NATO. E atreveu-se a exigir que os textos desse jornalista viessem acompanhados de uma marca – «pró-russo»! O argumento? O Homem tem opiniões, e veja-se, não foi para a Ucrânia com «os nossos».

E uma estrela vermelha cozida na lapela? Ainda não?...


Manuel Gouveia