A capa do ódio

Manuel Gouveia

Como ex­plicar uma capa como a do Pú­blico do do­mingo de Páscoa? Que cri­tério jor­na­lís­tico pode ser in­vo­cado? Não, não vale a pena ir por aí, que por aí ne­nhuma ex­pli­cação ra­ci­onal pode ser apre­sen­tada. As ex­pli­ca­ções estão mais a mon­tante. No ódio que a grande bur­guesia na­ci­onal tem ao PCP.

Sim, aquela capa é puro ódio. É o ódio dos se­nhores. Nas­cido de um pro­fundo e justo medo. É o ódio da­queles que vi­vendo da ex­plo­ração do povo temem que o povo acorde. Um ódio fer­men­tado du­rante a longa noite fas­cista, quando o PCP se­meava re­sis­tência, pers­pec­tiva, co­ragem, con­fi­ança num fu­turo me­lhor em li­ber­dade. Um ódio que cresceu numa guerra co­lo­nial que deixou ex­posta a hi­po­crisia de um país onde o Sol nunca se punha, e que era afinal uma prisão de povos e de gente onde o dia nunca nascia. Um ódio que ex­plodiu quando esse dia nasceu, em Abril, com a li­ber­dade para o povo por­tu­guês que custou a muitos a li­ber­dade de ex­plorar e oprimir esse povo. Um ódio que cresceu, cresceu, cresceu, quando se viram sem os pides, sem a GNR, sem a tropa, para lhes de­fender os pri­vi­lé­gios, e ti­veram medo, tanto medo, de terem que viver todo o resto da sua vida a tra­ba­lhar. Um ódio que mos­traram com bombas, in­cên­dios, agres­sões e ata­ques vá­rios, até que No­vembro lhes de­volveu a es­pe­rança, e a pouco e pouco, os pri­vi­lé­gios. Um ódio que cresce quando nus e im­punes des­filam pelas ave­nidas que são a Co­mu­ni­cação So­cial que do­minam, e só uma voz, tei­mosa, e tei­mo­sa­mente au­dível, in­siste em dizer ao povo que o Rei vai nu: que os lu­cros deles, são os sa­lá­rios e as pen­sões que faltam ao povo, que a guerra deles, é o pão, a energia, a saúde, é tudo o que falta na nossa vida.

Há mais de um sé­culo que anun­ciam e fes­tejam a nossa morte. E o Par­tido con­tinua vivo, pés bem as­sentes na re­a­li­dade, en­con­trando nos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses toda a força de que ne­ces­sita. Só porque nunca morre, pa­rece que res­sus­cita no dia se­guinte de cada de­cla­ração formal de ódio. Talvez por isso tenha agora o Pú­blico de­di­cado a capa do do­mingo de Páscoa à morte do PCP. Ce­le­bremos pois a res­sur­reição do Par­tido. Hurra!

 



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