- Nº 2528 (2022/05/12)

Dia da Vitória

Opinião

Consoante os interesses e as circunstâncias, cada um conta a história à sua maneira e quando falamos da História da humanidade, ela sempre teve duas versões, a dos explorados e a dos exploradores... e sempre, mas sempre, os exploradores reescreveram a história para travarem o curso de declínio do capitalismo, a emancipação dos povos e o fim da exploração do homem pelo homem.

Ora, em torno da guerra na Ucrânia, assistimos ao longo dos últimos dias, em alguns meios de comunicação, a uma vergonhosa narrativa sobre o Dia da Vitória, procurando retirar todo o seu heróico significado na construção de um mundo de paz, inscrevendo mais um episódio na ofensiva ideológica em curso.

Com os «prognósticos» de um cenário de escalada da guerra, em torno das comemorações do 77.º aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo, envolto num discurso de demonização do povo russo, herdeiro de décadas da propaganda anti-soviética, o imperialismo procura apagar o papel do povo soviético e do Exército Vermelho na libertação da sua pátria e de outros povos da Europa do jugo nazi-fascista, remete para o esquecimento os milhões de homens e mulheres partizans que deram a vida por uma pátria livre em Itália, França, Jugoslávia, Grécia ou Bulgária, e alenta o projecto de reabilitação do fascismo e dos projectos mais reaccionários e antidemocráticos em curso, que sempre serviram os interesses do capital.

No mesmo pacote de reescrita da história, o Dia da Europa também se assinala a 9 de Maio. Foi decretado em 1985 por ter sido a 9 de Maio de 1950 que Robert Schuman, o então ministro dos Negócios Estrangeiros de França, apresentou uma proposta com as bases fundadoras do que é hoje a UE. Não será apenas por coincidência das datas que a União Europeia, na altura CEE, decidiu que o Dia da Europa seria instrumento para introduzir a «imagem europeia» na educação de cada estado membro, cimentando assim uma determinada «identidade europeia» e por consequência a aceitação de uma estrutura supranacional dominada pelas grandes potências e os interesses dos monopólios.

O embuste da Conferência sobre o Futuro da Europa, que teve a sua sessão de encerramento em Estrasburgo, no passado dia 9, onde, nos discursos de Von der Leyen e Macron, nem por uma vez se fez referência ao Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo, apenas confirmou a linha de sempre de uma UE neoliberal, federalista e militarista e que tem nos seus planos aprofundar as desigualdades e o ataque à soberania de Estados, como a Portugal, impondo-lhes instrumentos e mecanismos de controlo e de condicionamento da sua acção.

A aspiração de uma Europa de paz e cooperação afirmou-se com o triunfo dos povos sobre o horror do nazi-fascismo. Com o grande prestígio alcançado pela União Soviética e pelos ideais do socialismo, com o consequente fortalecimento do movimento operário e dos partidos comunistas, levando ao avanço das forças da paz e do progresso social, foi criada uma nova situação no plano mundial, pondo em recuo o imperialismo.

Nos dias que correm, reivindicar e celebrar a Paz tornou-se um acto de resistência e coragem. Celebrar a Vitória sobre o nazi-fascismo, em que se alcançou a Paz no momento mais sombrio da humanidade, assume a maior importância.


Cristina Cardoso