O melhor do teatro uma vez mais na Festa

O teatro é, desde sempre, uma presença constante da Festa do Avante!, ou não fosse ela uma montra do que de melhor se faz nas mais variadas expressões artísticas. Este ano, são sete os espectáculos propostos.

Teatro para todos os públicos, música e poesia compõem a programação

O primeiro espectáculo a subir este ano ao palco do Avanteatro é Corpo Supenso, concebido para a Latoaria/ Candonga Associação Cultural por Rita Neves, que assina o texto e assume a interpretação juntamente com Patrícia Couveiro. Constituindo o início da investigação de Rita Neves sobre o corpo enquanto arquivo, o espectáculo propõe-se a reflectir sobre essa mesma questão.

É a própria autora quem escreve: «os corpos transportam memórias. O que ficou da Guerra Colonial no corpo do meu pai? Por que é que o seu corpo parece trazer, por vezes, memórias silenciadas? Através de uma narrativa revelando episódios da vida do meu pai que passou pela Guerra Colonial, investigo esta ideia de corpo como lugar de memórias.»

Maria João Luís interpreta A Última Refeição, criação do Teatro da Terra com texto de António Cabrita e encenação de António Pires. Neste monólogo, «Helena» prepara uma última refeição para Bert: frango na púcara com temperos à Mãe Coragem. Enquanto cozinha, vai discorrendo sobre a sua vida com Bert, das alegrias ao sofrimento e às traições, da dureza da vida no exílio ao difícil regresso a casa.

Bert já está no caixão, mas ela ficou de responder à morte na manhã seguinte, para o substituir ou não, enquanto nesse caso, a Morte o ressuscitaria. Em desespero, resolve fazer o prato que Bert mais gostava e que considerava digno de ressuscitar um morto. Talvez assim ela não precise sacrificar-se, pensa.

Na programação do Avanteatro, A Barraca apresenta Elogio da Loucura, um espectáculo de Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra (que é também uma das intérpretes) a partir da obra homónima de Erasmo de Roterdão. Num texto de apresentação do espectáculo, Hélder Mateus da Costa propõe um «neo-Renascimento», inspirado no humanismo de Erasmo, que foi ao seu tempo perseguido pela Inquisição.

Relativamente à sua obra principal, que também dá nome à peça, escreveu Hélder Mateus da Costa que a sua «agudeza satírica e coragem continuam a ser um bálsamo para os nossos dias». O novo Homem do Renascimento, que Erasmo de Roterdão tão bem representa, «tinha confiança em si próprio, conquistada com uma luta que o transformou no grande instrumento da sua época, livre de ter como único socorro a graça divina».

Lugar às crianças

Para a infância há três espectáculos, dois do Teatro O Bando e um da Companhia de Teatro de Almada. O Bando, uma das mais antigas cooperativas culturais do País, leva ao Avanteatro Joana, um espectáculo a sonhar o mar e Ti Miséria, a personagem mais antiga de O Bando. O primeiro é uma criação a partir de Silêncio e Saga, de Sophia de Mello Breyner Andresen, apresentando-se como «um monólogo com muitas personagens dentro», interpretado por Suzana Branco. Num registo intimista e de grande simplicidade, este é um espectáculo onde a representação, a abstracção e o simbolismo são ferramentas usadas à vista de todos.

Quanto a Ti Miséria, é interpretada por Paula Só, que em 1986 ganhou precisamente com esta personagem (extraída do espectáculo Nós de um Segredo) o prémio de Melhor Interpretação do Ano atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, ex-aequo com Eunice Muñoz. Ti Miséria queixa-se que lhe subiam à nogueira e lhe roubavam as nozes, o seu único tesouro, mas um dia descobriu uma maneira de isso não voltar a acontecer. Descobriu, também, uma maneira de enganar a morte.

João Brites assina ambas as encenações.

Da Companhia de Teatro de Almada, Ando a Sonhar com Beethoven, escrito e encenado por Teresa Gafeira, e conta a história do pequeno Jorge, que gosta de ter os brinquedos bem arrumadinhos e, com tudo tão certinho, pode dormir tranquilo debaixo dos cobertores. Mas todas as noites um homem despenteado, desastrado e barulhento entra pelo quarto adentro sem pedir autorização. Mexe em tudo, desarruma tudo. Seria insuportável, impossível de aturar! Mas ele torna o quarto quase mágico com tanta música que traz consigo. A Alfa e a Beta dizem que ele é o Beethoven.

Música e poesia

Bebemos palavras a mais? é a proposta da Narrativensaio-AC, criada por Luísa Pinto e Cristina Bacelar. Um projeto que cruza a poesia com a música e fala de como o amor é um lugar estranhamente bonito em todas as suas versões e que até mesmo dentro dele, o humor tem o seu espaço.

Bebemos palavras a mais?! propõe um exercício, uma toada profunda sobre esse lugar do Humano numa viagem que vai do erudito ao popular, entre a palavra dita e cantada, tocada e encenada.

 

Jornadas de trabalho a partir de 25 de Junho

A Festa do Avante! é feita pelo trabalho voluntário dos militantes e amigos. E não seria a mesma se assim não fosse. Quem constrói a Festa experimenta o valor e o poder do trabalho colectivo, mas também a igualdade, a fraternidade e a liberdade. Recebe muito mais do que aquilo que dá. Há lugar para todos.