Gesto de solidariedade com a vontade de mudança do povo colombiano – Sandra Pereira deslocou-se à Colômbia

Em que con­texto se deu a tua des­lo­cação à Colômbia?

No âm­bito da re­a­li­zação das elei­ções pre­si­den­ciais na Colômbia, no pas­sado dia 29 de Maio, o Grupo Con­fe­deral da Es­querda Uni­tária Eu­ro­peia/ Es­querda Verde Nór­dica – A Es­querda no Par­la­mento Eu­ropeu pro­moveu uma ini­ci­a­tiva de acom­pa­nha­mento deste acto so­be­rano do povo co­lom­biano. In­te­graram a de­le­gação cinco de­pu­tados oriundos de Es­panha, in­cluindo um do País Basco, França, Grécia e Por­tugal, com o ob­jec­tivo de ex­pres­sarmos a nossa so­li­da­ri­e­dade para com as forças pro­gres­sistas co­lom­bi­anas, cuja longa e per­sis­tente luta muito va­lo­ri­zamos.

 

Que con­tactos efec­tu­aste du­rante a tua es­tada na Colômbia? Qual a tua im­pressão?

Nos dois dias an­te­ri­ores às elei­ções ti­vemos en­con­tros com di­fe­rentes par­tidos po­lí­ticos, como os Co­muns – par­tido for­mado por ex-mem­bros da Força Al­ter­na­tiva Re­vo­lu­ci­o­nária do Comum (FARC) –, o Par­tido Co­mu­nista Co­lom­biano e o par­tido Colômbia Hu­mana, que in­te­gram o Pacto His­tó­rico.

Des­taco a im­por­tância destas elei­ções, o mo­mento his­tó­rico que re­pre­sentam, a es­pe­rança e o op­ti­mismo que se ve­ri­ficam na pos­si­bi­li­dade de uma efec­tiva mu­dança neste país. Nunca ne­nhuma can­di­da­tura da es­querda tinha che­gado tão longe, mo­bi­li­zado tanta gente e criado tal mo­vi­mento de von­tade de mu­dança.

Desde as grandes greves e mo­bi­li­za­ções po­pu­lares de Abril de 2021, pe­rante uma pro­lon­gada e grave crise so­cial e eco­nó­mica, os tra­ba­lha­dores e povo co­lom­biano têm-se mo­bi­li­zado para der­rotar o go­verno de ex­trema-di­reita de Ivan Duque e para con­quistar uma efec­tiva mu­dança de po­lí­tica na Colômbia. O go­verno do ac­tual Pre­si­dente Ivan Duque ter­mina o seu man­dato muito des­cre­di­bi­li­zado, sobre o qual per­sistem acu­sa­ções de cor­rupção, por falta de res­posta aos pro­blemas so­ciais e eco­nó­micos, que foram agra­vados com a pan­demia, pela sua aposta na con­ti­nui­dade do con­flito e da vi­o­lência, pela não im­ple­men­tação e claro des­res­peito dos acordos de paz.

A can­di­da­tura do Pacto His­tó­rico, pro­ta­go­ni­zada por Gus­tavo Petro e Francia Már­quez, res­pec­ti­va­mente can­di­datos à Pre­si­dência e Vice-pre­si­dência da Colômbia, com­porta uma von­tade de mu­dança e um sen­ti­mento de es­pe­rança num fu­turo com­pro­me­tido com o fim das de­si­gual­dades e da vi­o­lência, com a paz, a jus­tiça so­cial e a pros­pe­ri­dade.

In­de­pen­den­te­mente dos re­sul­tados da se­gunda volta, que terá lugar no pró­ximo dia 19 de Junho, as forças po­lí­ticas que se reúnem no Pacto His­tó­rico, ca­rac­te­ri­zaram o mo­mento ac­tual como um ponto de não re­torno, por sen­tirem na mo­bi­li­zação po­pular uma von­tade de mu­dança de po­lí­tica, que de­fenda os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo co­lom­biano e que en­frente a ex­trema-di­reita uri­bista, cor­rupta e vi­o­lenta, que levou o país à ac­tual si­tu­ação.

 

Os re­sul­tados elei­to­rais do pas­sado Do­mingo con­fir­maram as ex­pec­ta­tivas?

A can­di­da­tura do Pacto His­tó­rico era dada como fa­vo­rita em todas as son­da­gens – al­gumas até lhe atri­buíam a pos­si­bi­li­dade de al­cançar a vi­tória na pri­meira volta – e a mo­bi­li­zação du­rante a cam­panha elei­toral já au­gu­rava um bom re­sul­tado. Havia, ob­vi­a­mente, riscos que pai­ravam sobre os re­sul­tados.

Em pri­meiro lugar, as ame­aças à in­te­gri­dade fí­sica e à vida dos can­di­datos do Pacto His­tó­rico, sendo que estes cor­riam cada vez mai­ores riscos à me­dida que iam su­bindo nas son­da­gens. Em se­gundo lugar, a ameaça de fraude elei­toral era real, com a pos­si­bi­li­dade de compra de votos, ir­re­gu­la­ri­dades na con­tagem, ame­aças e aten­tados à vida de ac­ti­vistas e elei­tores. Paira ainda outro risco que é, em caso de vi­tória do Pacto His­tó­rico, a even­tual ten­ta­tiva de im­pos­si­bi­litar a to­mada de posse dos seus can­di­datos ou a sua acção go­ver­na­tiva.

A oli­gar­quia co­lom­biana tudo tem feito para se per­pe­tuar no poder. Ainda na noite das elei­ções, a ex­trema-di­reita uri­bista der­ro­tada anun­ciou o seu apoio a Ro­dolfo Her­nández, can­di­dato que ficou em se­gundo lugar. No en­tanto, esse apoio po­lí­tico da ex­trema-di­reita a Ro­dolfo Her­nández na se­gunda volta das elei­ções pre­si­den­ciais, pode jogar a favor da can­di­da­tura do Pacto His­tó­rico já que muitos dos elei­tores que vo­taram Her­nández fi­zeram-no por se oporem ao ac­tual go­verno. O op­ti­mismo da mo­bi­li­zação em torno das can­di­da­turas do Pacto His­tó­rico é grande e cor­res­ponde a uma pos­si­bi­li­dade real de êxito.

 

Que con­sequên­cias po­derá ter no plano da Amé­rica La­tina uma vi­tória das forças pro­gres­sistas na se­gunda volta das elei­ções pre­si­den­ciais na Colômbia?

Uma mu­dança de po­lí­tica na Colômbia re­flectir-se-á em toda a Amé­rica La­tina, desde logo, quanto à questão da paz. A com­pleta im­ple­men­tação dos acordos de paz con­tri­buirá in­du­bi­ta­vel­mente para a des­mi­li­ta­ri­zação nas re­la­ções com ou­tros países da re­gião e para re­la­ções ba­se­adas no res­peito pelos prin­cí­pios da so­be­rania, da não in­ge­rência, da co­o­pe­ração.

Com a re­cente eleição de can­di­datos pro­gres­sistas no Peru – com a eleição de Pedro Cas­tillo –, nas Hon­duras – com a eleição de Xi­o­mara Castro – ou no Chile – com a eleição de Ga­briel Boric – e a pos­si­bi­li­dade de Lula da Silva voltar a ser eleito Pre­si­dente do Brasil, a even­tual vi­tória de Gus­tavo Petro na Colômbia cons­ti­tuirá um im­por­tante con­tri­buto para que os povos da Amé­rica La­tina afirmem a sua so­be­rania e in­de­pen­dência pe­rante o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano e o seu do­mínio. Ve­nham de lá esses bons ventos!




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