- Nº 2531 (2022/06/2)

«Cabaz cheio de nada» para a Agricultura

Nacional

«Aumenta o gasóleo agrícola, os fertilizantes, os adubos, as sementes, o preço pago pelo consumidor. Aumenta tudo, menos o preço pago ao produtor e o investimento do Governo PS no sector», alerta a CNA.

Em conferência de imprensa frente à Assembleia da República, no passado dia 24, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) apresentou publicamente o seu posicionamento relativamente ao Orçamento do Estado (OE) de 2022, que considerou «um cabaz cheio de nada», face aos «truques de ilusionismo das verbas não executadas no ano anterior para fazer parecer» que o Governo «vai aumentar o investimento na Agricultura».

«São gravíssimos os problemas que, todos os dias, se abatem sobre a Agricultura Familiar e a Produção Nacional. Agudiza-se a situação financeira das explorações agrícolas, já muito debilitadas na sequência da pandemia de COVID-19, da seca (situação que se tem vindo a agravar), dos prejuízos com javalis e outros animais selvagens, da guerra e das sanções económicas», advertem os agriculturas, pela voz de Laura Tarrafa, da Direcção Nacional da CNA.

Acudir à produção nacional
Segundo a dirigente, para além de o preço do gasóleo agrícola continuar a aumentar, os problemas dos agricultores estendem-se à «escalada dos preços» dos «restantes combustíveis, da energia, das sementes, dos pesticidas, das rações, dos fertilizantes, dos plásticos, na maquinaria e peças» e de «outros factores de produção», que fazem disparar as despesas da Agricultura Familiar, que não são acompanhadas «por um aumento compensador do preço pago à produção».

«Hoje, a diferença entre o preço pago por um consumidor e o preço pago ao produtor chega, em alguns casos, a 600 por cento. Afinal, quem é que fica com a fatia de leão?», questionou Laura Tarrafa, dando a resposta: «Todos sabemos: os grandes intermediários, a grande distribuição».

 

Governo com «ouvidos moucos»

A 24 de Março, centenas de agricultores, de todo o País, respondendo ao chamamento da CNA e das associações suas filiadas, desfilaram em protesto na cidade de Braga, em luta contra a exploração e a ruína para que estão a ser empurrados milhares de agricultores, em especial os da Agricultura Familiar.

Dois meses volvidos, «só podemos dizer que a situação piorou porque o Governo continua a fazer ouvidos moucos às reclamações dos agricultores», acusa a CNA, dando conta que, desde a manifestação de Braga, «a voz de protesto foi-se multiplicando em diversas iniciativas».

Medidas urgentes
Entre outras propostas, a Confederação entende que deveriam ser canalizadas verbas do OE para a concretização do Estatuto da Agricultura Familiar, de forma a apoiar os circuitos curtos de comercialização e o gasóleo agrícola, bem como a concretização da electricidade verde» (que já devia estar em vigor desde 1 de Janeiro de 2022). Mais e melhores escolas, serviços de saúde e transportes no mundo rural são outras reivindicações.

«Para acabar com a especulação com a energia e com os alimentos é necessário que haja uma regulação pública dos mercados e da produção», reforça a CNA.