Macron perde maioria absoluta nas eleições parlamentares francesas

No dia 19, na segunda volta das eleições parlamentares em França, onde vigora um injusto e não proporcional sistema eleitoral baseado em círculos uninominais a duas voltas, a coligação que apoia Macron e a sua política neoliberal elegeu 245 deputados, perdendo mais de uma centena dos 350 lugares de que dispunha na Assembleia Nacional e ficando longe dos 289 necessários para a maioria absoluta.

A coligação é formada pelas forças políticas Renascimento (antiga A República em Marcha), Movimento Democrata, Horizontes e Agir.

A coligação eleitoral Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), que duplica o número de deputados dos partidos que a integram, em relação às anteriores legislativas, alcançando 131dos 577 assentos no parlamento, ficou em segundo lugar. Esta coligação eleitoral era constituída por França Insubmissa, Partido Socialista, Europa Ecologia – Os Verdes e Partido Comunista Francês. Os comunistas elegeram 12 deputados.

Na votação dos franceses, ficou em terceiro lugar a União Nacional, de extrema-direita, com 89 eleitos, registando um aumento significatico do seu número de deputados, e no quarto posto os republicanos, de direita, com 61, perdendo cerca de metade da sua representação parlamentar. Os restantes mandatos são distribuídos por diversas forças políticas e candidaturas.

É a segunda vez, na história da V República francesa, a partir de 1958, que um presidente terá de «coabitar» com um parlamento que não controla com maioria absoluta. Entre 1988 e 1995, François Mitterrand governou num cenário semelhante.

Na segunda volta das eleições legislativas, a abstenção foi de 53,77 por cento. Dos mais de 48,5 milhões de eleitores inscritos, votaram cerca de 22,5 milhões de cidadãos. Os votos brancos somaram 1,2 milhões e os nulos mais de 481 mil.

Um sistema eleitoral injusto

Este sistema eleitoral foi instituído precisamente para desrespeitar a correspondência proporcional entre os votos recebidos por cada uma das forças e os mandatos alcançados. Estas eleições comprovam precisamente isso.

A coligação que apoia Macron obteve na primeira volta cerca de 25,75 por cento dos votos, ou seja, perto de um quarto do eleitorado. No entanto, com a imposição deste sistema uninominal a duas voltas, elege cerca de 42 por cento dos deputados. Proporcionalmente, ficar-se-ia pelos 144.

Os 577 deputados da Assembleia Nacional são eleitos por cinco anos através de um sistema de círculos uninominais a duas voltas. O candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos e um total de votos superior a 25% do eleitorado resenceado no respectivo círculo é eleito à primeira volta.

Se nenhum candidato atingir esse resultado, uma segunda volta é realizada com os dois candidatos que obtiveram maior votação, assim como os que tenham obtido um total de votos superior a 12,5% dos eleitores. O mais votado na segunda volta é eleito.

PCP reage

Numa nota emitida sobre estas eleições, o PCP destaca a perda da maioria absoluta por parte das forças que têm governado o país nos últimos anos, considerando o resultado «uma significativa derrota» para Macron, classificado como «representante dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros». Perdeu, também, a sua política de «ataque a direitos laborais e sociais e a outros direitos democráticos».

Chamando a atenção para «elementos contraditórios», o Partido releva o que os resultados exprimem de vontade de mudança de política: contra o aumento da idade de reforma, pelo aumento de salários e pensões, pelo controlo e redução dos preços dos combustíveis, da energia e de produtos de primeira necessidade, pela defesa e melhoria dos serviços públicos.

O PCP saúda e considera de grande importância o prosseguimento e desenvolvimento da luta dos trabalhadores e do povo francês em defesa dos seus direitos e condições de vida, o progresso social e a paz.




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