- Nº 2534 (2022/06/23)

Efeito boomerang

Opinião

É justo salientar nestes dias a vitória histórica da esquerda nas presidenciais colombianas, um feito com projecção continental e mundial. A eleição de Gustavo Petro (e de Francia Márquez para a vice-presidência) tem um profundo significado pelo que representa à luz da trajectória de resistência e luta do povo colombiano, enfrentando a mais sanguinária das oligarquias e bastião central da ingerência dos EUA na América Latina. Também a derrota de Macron nas legislativas francesas com a perda da maioria absoluta na Assembleia Nacional. Amargorevés para o presidente há pouco reeleito em baixa, parao qual foi crucialo resultado da coligação eleitoral das principais forças à esquerda em França, tornando-se no seu conjunto a segunda maior representação parlamentar. Por outro lado, a extrema-direita reforça-se. A sua ascensão, confirmando uma tendência no plano europeu e mais além, é um libelo acusatório a décadas de políticas regressivas e desestrurantes neoliberais a todos os níveis. Por isso, as notícias que nos chegam da luta em realidades tão distintas como na Colômbia e, em certa medida, França são sinais encorajadores para os tempos difíceis actuais e que se seguem.

O drama da Ucrânia permanece no centro das atenções. Éuma evidênciaque se está perante uma guerra por procuração movidapelos EUA e aNATO contra a Rússia. Éoque acaba de confessar o magnata e ex-presidente ucraniano Porochenko (2014-2019), ao afirmar que os acordos de Minsk foram aceites para ganhar tempo, nomeadamente, para criar um «Exército poderoso». Kiev nunca tencionou cumprir os acordos para uma solução política do conflito no Donbass, objecto da resolução 2202 do CS da ONU,que garantiama integridade territorial da Ucrânia. Na verdade, em vésperas da intervenção russa Zelensky rejeitou as propostas do chanceler Scholz para um acordo com Moscovo. Falaram mais alto os interesses de classe da oligarquia ucraniana, completamente subordinada, após o golpe de estado da Maidan, aos desígnios da agenda imperialista dos EUA, em particular.Numa lógica insana e criminosa. A mesma que presentemente alimenta o prolongamento da guerra e testa os limites de uma escalada militar de imprevisíveis consequências.O seu efeito nefasto já é sentido no plano económico. Tendo como pano de fundo o quadro não resolvido das crises de 2008-9 e pandémica, somado ao passivo da guerra económica com a China. Os EUA não escapam, por muito que Biden queira trespassar o fardo da criseno horizonte. A responsável das Finanças Yellen adverte para os custos de «castigar a Rússia». O naufrágio de Novembro está à vista.De Wall Street soam os alarmes de catástrofe.Na UE confirmam-se, em vão, os piores cenários. As sanções sem precedentes contra a Rússia agravaram a inflação para máximos há muito desconhecidose agora a cura nos cânones do sistema empurra os países do G7 para a recessão. A economia britânica é das mais atingidas. Travar às quatro rodas? Não. No labirinto da crise capitalista, a aposta é a guerra. Senão, vejam-se os novos milhões para armas prometidos por Biden, a missão incendiária de Johnson a Kiev, a loucura das afirmações do comandante do Exército britânico, o apego belicista de Von der Leyen, a promessa de uma guerra longa de Stoltenberg e o antecipar das conclusões da Cimeira da NATO dos próximosdias...


Luís Carapinha