Valorizar o trabalho e os trabalhadores

Elevar salários, combater falácias e proclamações ao serviço dos de sempre

Está em curso um pro­cesso de in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração. O ca­pital, com a mai­oria ab­so­luta do PS ao seu ser­viço e usando as forças re­ac­ci­o­ná­rias que pro­move, po­si­ciona-se para se apro­priar de parte cres­cente da ri­queza que todos os anos é criada no nosso País.

Esta di­nâ­mica ali­cerça-se, na si­tu­ação ac­tual, em dois pro­cessos que o Go­verno PS tem em curso: as al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral, na base do que de­signou Agenda para o tra­balho digno e a va­lo­ri­zação dos jo­vens no mer­cado de tra­balho, e o cha­mado Acordo de Médio Prazo de Me­lhoria dos Ren­di­mentos, dos Sa­lá­rios e da Com­pe­ti­ti­vi­dade.

Acordos (os ené­simos ce­le­brados em con­cer­tação so­cial sobre os ren­di­mentos, que acabam por con­firmar um mo­delo as­sente em baixos sa­lá­rios e pre­ca­ri­e­dade), além de não ser­virem o pro­pó­sito de um au­mento geral dos sa­lá­rios, serão uti­li­zados pelas grandes em­presas para be­ne­fi­ci­arem de mais apoios fi­nan­ceiros e isen­ções fis­cais. É este o pro­pó­sito do Go­verno, ao juntar a questão dos ren­di­mentos e sa­lá­rios com a «com­pe­ti­ti­vi­dade».

Para pro­mover um real au­mento dos sa­lá­rios para todos os tra­ba­lha­dores e do poder de compra dos re­for­mados e pen­si­o­nistas, o Go­verno tem à sua dis­po­sição, pelo menos, quatro vias que se com­ple­mentam e têm de se ar­ti­cular.

Uma que se re­la­ciona com a su­bida dos sa­lá­rios no sector pri­vado e que de­pende es­sen­ci­al­mente da re­vo­gação das normas que têm tra­vado a sua evo­lução. A partir de 2003 (ano em que foram in­tro­du­zidas al­te­ra­ções ne­ga­tivas na le­gis­lação la­boral), a su­bida da re­mu­ne­ração real de cada tra­ba­lhador foi sempre in­fe­rior aos au­mentos de pro­du­ti­vi­dade, ou seja, parte cres­cente da­quilo que se pro­duziu no nosso País foi apro­priado pelo ca­pital.

A pro­posta do Go­verno de al­te­ração à le­gis­lação la­boral não res­ponde a ne­nhum dos blo­queios há muito iden­ti­fi­cados.

Outra passa pelo au­mento real dos sa­lá­rios dos tra­ba­lha­dores do sector pú­blico. A não haver al­te­ração do au­mento em 0,9%, es­ta­remos pe­rante mais um ano, a juntar a mais de uma dé­cada, de perda de poder de compra, com todas as ne­ga­tivas im­pli­ca­ções para quem au­fere estes sa­lá­rios e para a ca­pa­ci­dade de o pró­prio ser­viço pú­blico reter os pro­fis­si­o­nais de que pre­cisa. A de­gra­dação con­ti­nuada do SNS, da Es­cola Pú­blica e dos Ser­viços Pú­blicos, em geral, pe­na­liza ainda mais as po­pu­la­ções.

Outra me­dida in­con­tor­nável para a ele­vação dos sa­lá­rios re­la­ciona-se com o valor do SMN. Apre­sen­tado como sendo his­tó­rico, o au­mento do SMN já não chega para fazer frente ao au­mento dos preços e o mesmo tra­ba­lhador que ganhe, em Junho deste ano, o SMN tem menos poder de compra que há um ano. É fun­da­mental o au­mento ime­diato do SMN para os 800 euros e a con­sa­gração dos 850 euros a curto prazo.

Já para os ren­di­mentos de quem tra­ba­lhou, o Go­verno pode e deve pro­ceder a um au­mento ex­tra­or­di­nário das re­formas. Os 10 euros de au­mento há muito que foram en­go­lidos pela su­bida do pão e da res­tante ali­men­tação, da energia e de ou­tros bens e ser­viços es­sen­ciais.

 



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