Os dramáticos acontecimentos em Melilla e as políticas de migração da União Europeia foram condenados pelos deputados comunistas portugueses no Parlamento Europeu, que exigem respostas.
Os deputados do PCP no Parlamento Europeu (PE), em comunicado de 30 de Junho, denunciaram que, passados seis dias sobre o inaceitável acontecimento na fronteira de Marrocos e o enclave espanhol de Melilla, «continuam por investigar as acções das autoridades marroquinas e espanholas na violenta repulsão de centenas de pessoas de que tragicamente resultaram pelo menos 37 mortes e várias dezenas de feridos».
O autêntico massacre que ali tomou lugar e as deploráveis declarações de Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, que se lhe seguiram, «enquadram-se e são indissociáveis das políticas da União Europeia (UE), que insistem numa visão desumana, selectiva, xenófoba, exploradora e criminalizadora dos migrantes, que desrespeita o direito internacional e viola direitos humanos».
A tentativa de atravessar esta fronteira, fortemente fortificada, verifica-se após o inaceitável acordo do Estado espanhol com Marrocos que, entre outros aspectos, troca o papel de tampão de Marrocos junto aos enclaves de Ceuta e Melilla pela aceitação da posição marroquina de definição de um estatuto de autonomia ao Sara Ocidental, em flagrante desrespeito das resoluções da ONU que determinam o direito à autodeterminação do povo sarauí.
Para o PCP, trata-se da «UE fortaleza» que celebra acordos com países terceiros – como Marrocos, a Turquia ou a Líbia – para a retenção e expulsão de migrantes e refugiados, e militariza a política de migração, com o respaldo na Cimeira da NATO, em Madrid, que por iniciativa de Espanha aponta o reforço da presença e vigilância deste bloco político-militar no Mediterrâneo, à semelhança do que já havia sucedido no Mar Egeu em 2016.
Atacar as causas
dos fluxos migratórios
Os deputados do PCP no PE condenaram não só o brutal acontecimento em Melilla, como a política migratória da UE, reiterando que o drama humanitário dos migrantes e refugiados vivido no Mediterrâneo, no Norte de África e na Europa exige medidas urgentes, no quadro do direito internacional em matéria de migrações e asilo, que dêem resposta a necessidades prementes e garantam os direitos de milhares de pessoas, muitas das quais vítimas das políticas de recorte neocolonial, de ingerência e agressão promovidas e apoiadas pela UE.
Para lá de uma resposta rápida e solidária aos milhares de seres humanos que arriscam a vida pelo direito à paz, ao trabalho e a condições dignas de vida, a resposta fundamental aos fluxos migratórios passa pelo ataque às causas que levam a que milhões de seres humanos se vejam obrigados a deixar os seus países, tal exige o abandono das políticas de desestabilização e agressão levadas a cabo contra países terceiros, o respeito pela soberania e independência dos Estados, dos princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, a consagração de genuínas políticas de cooperação para o desenvolvimento, que assegurem os direitos, o progresso social e a paz.
Deputada questiona
Comissão Europeia
Sandra Pereira, deputada do PCP no PE, questionou a Comissão Europeia sobre a tragédia em Melilla.
Destacou que tal acontecimento não se pode desligar da política migratória da UE e da «UE fortaleza», nem constitui um exemplo isolado na fronteira entre Espanha e Marrocos, mas é um dos mais trágicos em número de mortos e feridos e soma-se a incontáveis casos graves em zonas de fronteira terrestre ou marítima com países terceiros.
Assim, sendo uma situação que requer medidas urgentes, questiona a Comissão Europeia sobre «que acções e instrumentos da UE poderão ser mobilizados para socorrer, acolher e integrar estas pessoas».