«Nós não somos socialistas, nem somos ultra-liberais», foi com esta afirmação, mais ou menos literal, que, no seu 40.º Congresso, o novo líder do PSD decidiu deixar à criatividade de quem quiser a identificação ideológica, nesta fase da sua vida, destes representantes políticos do grande capital.
Estivemos atentos para perceber ao que vinham e o que trazem de novo, mas depressa se apoderou de nós o evidente cheiro a bafio das propostas que agora retomam e dos caminhos que dizem querer percorrer.
Para não falar dos fatos saídos dos armários que estavam fechados desde que, em 2015, por iniciativa do PCP, se fechou a porta à equipa que encaminhava o País para o desastre nacional, vamos ao que estava então preparado e que Montenegro veio agora desenterrar.
Vejam-se os casos da Saúde, da Educação, ou da Segurança Social.
Perante dificuldades de resposta às necessidades das populações, em que são evidentes os impactos do desinvestimento do Estado ao longo dos últimos anos, o que defendem os não ultra-liberais? O que querem os que, ao longo de décadas, e de forma particularmente grave entre 2011 e 2015, desferiram ataques ultra-graves aos serviços públicos? Querem mais desinvestimento, mais entrega das partes rentáveis aos negociantes da doença, das escolas ou dos seguros, mais dinheiros públicos para proveitos privados.
Veja-se a situação da TAP. Perante a necessidade de valorizar a companhia de bandeira nacional, essencial para a coesão nacional e para a ligação às comunidades portuguesas, o que defendem os que tiveram um ultra-empenhamento na negociata da sua privatização, tão ultra que foi feita em segredo e já com o Governo de saída? Esses que, para além da TAP, entregaram os aeroportos nacionais a uma multinacional francesa, pondo em causa a resposta às necessidades do País, querem mais do mesmo – recuar no tempo e entregar a empresa à gula do negócio.
E mesmo sobre a regionalização, aqueles que engendraram com o PS uma forma de a adiar sine die e, com isso, ainda passar para cima das autarquias encargos em áreas muito diversas, o que querem é mesmo pôr uma pedra ultra-pesada sobre o assunto.
Está bem de ver que, para lá das luzes e dos confetis, do que se trata aqui, é de um partido e uma política ultra-passados!