África volta ao centro das atenções mundiais

Carlos Lopes Pereira

No quadro da crise económica mundial, agravada pela pandemia e, mais recentemente, pela guerra, os Estados Unidos da América e aliados intensificam em África as suas políticas de ingerência e dominação e procuram contrariar as relações de amizade e cooperação entre os países africanos e China e Rússia.

Os exemplos abundam nestes dias.

Em Washington, a Casa Branca anunciou uma «cimeira de líderes EUA-África», em Dezembro, e não escondeu o objectivo de conseguir um «novo compromisso económico». Com base em «valores comuns», a reunião pretende «reforçar o compromisso com a democracia e os direitos humanos» – o que, no discurso imperial, significa que estão ameaçados de exclusão os países que não se submetem aos interesses norte-americanos e que «ousam» manter laços amigáveis com a China e a Rússia.

A França, cuja presença tem sido contestada e mesmo rejeitada em países como Mali, República Centro-Africana e Burkina Faso, suas antigas colónias, também está muito activa a atacar Moscovo e Pequim e a tentar recuperar a influência de Paris.

O presidente Emmanuel Macron, em crescentes dificuldades políticas no seu próprio país, termina hoje visitas aos Camarões, ao Benin e à Guiné-Bissau, que assumirá em breve a presidência rotativa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.

Em Yaoundé, ao lado do seu homólogo camaronês, Paul Piya, Macron foi confrontado com os «crimes da França colonial» e prometeu abrir os arquivos franceses aos historiadores para que investiguem esses momentos «dolorosos e trágicos».

Na mesma ocasião, o presidente francês criticou a «hipocrisia» ouvida «especialmente no continente africano» que é, em seu entender, não reconhecer claramente a «agressão unilateral» da Rússia à Ucrânia. A posição de neutralidade no conflito no Leste da Europa é seguida pela maioria dos países africanos.

O périplo africano de Macron coincide com as visitas do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, ao Egipto, República do Congo, Uganda e Etiópia.

O chefe da diplomacia de Moscovo tem destacado que, independentemente do que acontecer com as suas relações com o Ocidente, o peso de África na política externa da Rússia continuará a aumentar.

No Egipto, denunciou que as sanções impostas pelas potências ocidentais contra o seu país afectam a cooperação com a África, em especial em matéria de exportação de alimentos.

Durante as discussões com governantes do Uganda sobre a cooperação bilateral em diversas esferas – saúde, educação, comércio, energia, agro-indústria –, Lavrov informou que está em preparação uma segunda Cimeira Rússia-África, que terá lugar em meados do próximo ano.

No actual contexto internacional complexo, e perigoso, a África volta, pois, a estar no centro das atenções das grandes potências – as que, ainda há poucas décadas apoiaram ditaduras, o colonialismo e o apartheid, e as que, ao contrário, ajudaram as lutas independentistas no continente e, depois, a construção de novos Estados.

Tendo memória histórica, os povos africanos – cuja aspiração maior hoje é poderem desenvolver soberanamente os seus países, edificando sociedades pacíficas, prósperas e justas – saberão sempre quem são os seus verdadeiros amigos.

 



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