A História não se repete, mas ensina (se dela se retirar as devidas lições)

Gustavo Carneiro

O fas­cismo e a guerra são re­cursos do im­pe­ri­a­lismo

Há datas que re­metem para acon­te­ci­mentos mar­cantes, da­queles que mudam o curso da His­tória e a marcha da Hu­ma­ni­dade. Por estes dias as­si­nalam-se dois deles: a in­vasão da Po­lónia pelo nazi-fas­cismo, a 1 de Se­tembro de 1939, que marca o início formal da Se­gunda Guerra Mun­dial, e os 80 anos do co­meço da ba­talha de Sta­li­ne­grado, a maior e mais brutal desse con­flito (e de toda a his­tória), tra­vada entre 23 de Agosto de 1942 e 2 de Fe­ve­reiro de 1943.

De tudo o que im­porta reter sobre estes acon­te­ci­mentos des­tacam-se, desde logo, os mais de 50 mi­lhões de mortos pro­vo­cados pela Se­gunda Guerra Mun­dial, para cima de 20 mi­lhões dos quais ci­da­dãos da União So­vié­tica (russos, ucra­ni­anos, bi­e­lo­russos, mol­davos, ca­za­ques…). E, de modo não menos sig­ni­fi­ca­tivo, os te­ne­brosos crimes co­me­tidos pelo nazi-fas­cismo nos campos de con­cen­tração e ex­ter­mínio, nos ter­ri­tó­rios ocu­pados, nos pe­lo­tões de fu­zi­la­mento, nas tor­turas, no tra­balho es­cravo im­posto a mi­lhões de seres hu­manos ao ser­viço dos mo­no­pó­lios ale­mães.

Da ba­talha de Sta­li­ne­grado é justo que se diga que re­tirou em de­fi­ni­tivo a ini­ci­a­tiva mi­litar aos exér­citos nazi-fas­cistas (que ali per­deram mais de um mi­lhão e meio de efec­tivos) e mudou de­ci­si­va­mente o curso da guerra: a im­por­tância es­tra­té­gica da ci­dade era imensa e o facto de a URSS es­ta­rentão pra­ti­ca­mente iso­lada no com­bate ao grosso das forças nazi-fas­cistas (a se­gunda frente foi apenas aberta em Junho de 1944) con­feria-lhe uma im­por­tância global.

O he­roísmo e a fir­meza dos de­fen­sores da ci­dade, em sete meses de com­bates rua a rua e casa a casa, a cres­cente su­pe­ri­o­ri­dade do Exér­cito Ver­melho, a co­esão e ca­pa­ci­dade de di­recção do Par­tido Co­mu­nista da União So­vié­tica foram de­ter­mi­nantes para a vi­tória, ce­le­brada em todo o Mundo: o rei in­glês Jorge VI ofe­receu a Es­pada de Honra a Sta­li­ne­grado; Pablo Ne­ruda de­dicou-lhe um Canto de Amor.

O des­fecho da ba­talha abriu ca­minho para a vi­tória final, con­su­mada em Berlim, em Maio de 1945, pelo Exér­cito Ver­melho. O mundo, esse, nunca mais seria o mesmo.

Aprender sempre!

Evocar estas datas, exal­tando o seu sig­ni­fi­cado, cons­titui um ele­mentar dever de me­mória: pela mais do que justa re­cor­dação dos he­róis, dos már­tires e das ví­timas, como pela ne­ces­si­dade de aprender com a His­tória – questão es­sen­cial para a cons­trução de um fu­turo de paz, de­mo­crá­tico e pro­gres­sista.

O im­pe­ri­a­lismo sabe bem a im­por­tância da me­mória, daí ter há muito em marcha uma po­de­rosa e mul­ti­fa­ce­tada ofen­siva ide­o­ló­gica, que sobre a Se­gunda Guerra Mun­dial visa obs­cu­recer as suas reais ori­gens, a na­tu­reza de classe do nazi-fas­cismo e o papel de­ci­sivo que ti­veram na vi­tória a União So­vié­tica, os co­mu­nistas, a re­sis­tência po­pular an­ti­fas­cista. Não por acaso, a des­truição de mo­nu­mentos alu­sivos à li­ber­tação do jugo nazi-fas­cista pelo Exér­cito Ver­melho acom­panha há dé­cadas a cres­cente sub­missão dos Es­tados do Leste da Eu­ropa à es­tra­tégia agres­siva do im­pe­ri­a­lismo: hoje fala-se dos países do Bál­tico, mas su­cedeu (e su­cede) o mesmo na Ucrânia, na Po­lónia, na Bul­gária…

Ontem como hoje, o fas­cismo e a guerra são re­cursos do im­pe­ri­a­lismo face ao con­tínuo agra­va­mento da crise es­tru­tural do sis­tema ca­pi­ta­lista. Diga-se o que se disser, o con­trolo de mer­cados e fontes de ma­té­rias-primas, a in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração, a li­mi­tação do de­sen­vol­vi­mento de países emer­gentes e da sua inter-re­lação, são os seus reais ob­jec­tivos.

Nos anos 30 do sé­culo XX, a França e o Reino Unido en­tre­garam a Hi­tler a Re­pú­blica es­pa­nhola, a Che­cos­lo­vá­quia e a Po­lónia para que a má­quina de guerra nazi-fas­cista fosse lan­çada contra a União So­vié­tica; agora, o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano está dis­posto a sa­cri­ficar até ao úl­timo ucra­niano (e não só) para sal­va­guardar a sua he­ge­monia. A cor­rida aos ar­ma­mentos, a re­tó­rica mi­li­ta­rista, as ame­aças e as san­ções, a guerra, são peças dessa es­tra­tégia.

Aos co­mu­nistas e de­mais forças pro­gres­sistas está co­lo­cada a ur­gência de re­forçar a luta pela paz e, com ela, a luta em de­fesa dos di­reitos e con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e dos povos. Por elas passa muito do nosso devir co­lec­tivo.




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