Setembro

Carlos Lopes Pereira

Povos em di­fe­rentes con­ti­nentes as­si­nalam neste mês de Se­tembro acon­te­ci­mentos his­tó­ricos – avanços e re­cuos – lem­brados hoje como marcos im­por­tantes nas suas lutas pela eman­ci­pação na­ci­onal e so­cial.

No Chile, os chi­lenos re­cor­daram, no dia 11, o 49.º ani­ver­sário do golpe de Es­tado fas­cista contra o go­verno de uni­dade po­pular, eleito de­mo­cra­ti­ca­mente em 1970 e di­ri­gido por Sal­vador Al­lende. O san­grento golpe, en­ca­be­çado pelo ge­neral Au­gusto Pi­no­chet e apoiado pelo go­verno dos Es­tados Unidos da Amé­rica, pro­vocou mi­lhares de ví­timas e ins­taurou uma di­ta­dura que se pro­longou por 17 anos (1973-1990). Nesse pe­ríodo, re­gis­taram-se no país sul-ame­ri­cano 40 mil casos de lesa-hu­ma­ni­dade, entre as­sas­si­natos, tor­turas, pri­sões e de­sa­pa­re­ci­mento de pes­soas. Na ac­tu­a­li­dade, o povo chi­leno pro­cura aprovar uma Cons­ti­tuição da Re­pú­blica que subs­titua a que está em vigor e que foi im­posta pela di­ta­dura. As forças pro­gres­sistas ce­le­braram pois o 11 de Se­tembro de 1973 re­pu­di­ando com fir­meza a di­ta­dura e lu­tando com es­pe­rança por um Chile pa­cí­fico, de­mo­crá­tico, de­sen­vol­vido.

Noutro con­ti­nente, na Ásia, foi também em Se­tembro desse ano que o Vi­et­name re­cebeu a vi­sita de Fidel Castro, líder da Re­vo­lução Cu­bana, em plena guerra li­ber­ta­dora contra a agressão per­pe­trada pelos EUA. A sua pre­sença no Vi­et­name do Sul, bom­bar­deado fe­roz­mente pela avi­ação norte-ame­ri­cana, cons­ti­tuiu um feito audaz sem pre­ce­dentes, re­cordam hoje cu­banos e vi­et­na­mitas. Du­rante uma se­mana, entre 12 e 17 de Se­tembro de 1973, Fidel, acom­pa­nhado por altos res­pon­sá­veis vi­et­na­mitas, in­cluindo o então pri­meiro-mi­nistro Pham Van Dong – Ho Chi Minh já tinha fa­le­cido – es­teve na linha da frente e foi nessa al­tura que as­se­gurou que «pelo Vi­et­name, es­tamos dis­postos a dar até o nosso sangue». A ami­zade entre os povos vi­et­na­mita e cu­bano, entre os di­ri­gentes dos dois Es­tados e do Par­tido Co­mu­nista do Vi­et­name e do Par­tido Co­mu­nista de Cuba, ami­zade se­lada pela vi­sita his­tó­rica de Fidel, mantém-se até hoje sem fa­lhas.

Também em África, Se­tembro é tempo de ce­le­bração e de evo­cação.

Na Guiné-Bissau, as forças pro­gres­sistas, apesar dos tempos som­brios que o país vive, co­me­moram em Se­tembro três datas fun­da­men­tais da sua his­tória. No dia 12, passou o 98.º ani­ver­sário do nas­ci­mento de Amílcar Ca­bral, líder da luta de li­ber­tação na­ci­onal da Guiné e de Cabo Verde. A 19, as­si­nalam-se os 66 anos da fun­dação do PAIGC, o par­tido da in­de­pen­dência dos dois países. E, a 24, com­pletam-se 49 anos da pro­cla­mação do Es­tado da Guiné-Bissau, no Boé, ainda em plena guerra de li­ber­tação contra o co­lo­ni­a­lismo por­tu­guês. Esse 24 de Se­tembro de 1973, quase com meio sé­culo, foi um acon­te­ci­mento ex­tra­or­di­nário na luta dos povos afri­canos: o nas­ci­mento, sob bombas, de um Es­tado com o ter­ri­tório par­ci­al­mente ocu­pado por uma po­tência es­tran­geira.

De igual modo, An­gola está em festa neste Se­tembro. A co­meçar um novo ciclo po­lí­tico, com a posse dos seus di­ri­gentes re­cen­te­mente eleitos, os an­go­lanos co­me­moram no pró­ximo dia 17 o cen­te­nário de Agos­tinho Neto. Mé­dico e poeta, com­ba­tente an­ti­fas­cista e an­ti­co­lo­ni­a­lista, re­vo­lu­ci­o­nário pa­triota e in­ter­na­ci­o­na­lista, amigo sin­cero do povo por­tu­guês, cons­trutor da in­de­pen­dência de An­gola, seu pri­meiro pre­si­dente da Re­pú­blica, fun­dador da nação an­go­lana, a sua vida e a sua luta he­róica são de­vi­da­mente evo­cadas nesta edição do Avante!.




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No Reino Unido tem lugar uma grande vaga de greves abran­gendo vá­rios sec­tores pro­fis­si­o­nais. A que se deve?

Esta é uma luta trans­versal a vá­rios sec­tores pro­fis­si­o­nais, dos fer­ro­viá­rios aos tra­ba­lha­dores dos cor­reios, dos por­tuá­rios aos fun­ci­o­ná­rios pú­blicos, pas­sando pelos pro­fes­sores. O prin­cipal mo­tivo prende-se com o agra­va­mento brutal do custo de vida: a in­flação já está em 10 por cento e não vai parar de crescer. O preço dos bens ali­men­tares dis­parou e os tra­ba­lha­dores temem que o custo da energia os obrigue a es­co­lher, já no pró­ximo in­verno, entre comer e aquecer-se, sendo que muitos não con­se­guirão fazer nem uma coisa nem a outra. E isso cus­tará vidas tra­ba­lha­doras…

Esta si­tu­ação soma-se às ac­tu­a­li­za­ções sa­la­riais in­su­fi­ci­entes que vêm sendo im­postas desde 2010, e que levam a que a ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores ganhe hoje, em termos reais, bas­tante menos do que nessa al­tura. Os «au­mentos» agora pro­postos em muitos sec­tores – de dois, três ou cinco por cento – não deixam de re­pre­sentar uma sig­ni­fi­ca­tiva di­mi­nuição do poder de compra dos tra­ba­lha­dores.

 

Mas nas greves dos fer­ro­viá­rios, por exemplo, são co­lo­cadas também ques­tões de âm­bito la­boral que vão para lá dos sa­lá­rios...

Sim, há por exemplo a in­tenção de cortar postos de tra­balho, desde logo aca­bando com as bi­lhe­teiras nas es­ta­ções, subs­ti­tuindo-as por má­quinas de venda de bi­lhetes, e re­du­zindo o nú­mero de tra­ba­lha­dores por com­boio, para além da al­te­ração de rotas e do acesso e con­di­ções de pres­tação de tra­balho ex­tra­or­di­nário.

Mas esta é também uma luta em de­fesa dos ser­viços pú­blicos. É cada vez mais evi­dente a tensão exis­tente entre pri­va­ti­zação e acu­mu­lação de lu­cros, por um lado, e a pres­tação de ser­viços pú­blicos de qua­li­dade, por outro. São as­pectos ab­so­lu­ta­mente con­tra­di­tó­rios.

Os grandes meios de co­mu­ni­cação so­cial es­forçam-se por es­conder esta re­a­li­dade, mas são cada vez mais os bri­tâ­nicos que per­cebem que os ser­viços pú­blicos estão a ser mas­si­va­mente pri­va­ti­zados e des­truídos: na edu­cação, na saúde, no apoio so­cial, no abas­te­ci­mento de água. Muitos deles já não estão ao ser­viço das pes­soas.

 

Os sin­di­catos têm de­nun­ciado o au­mento fa­bu­loso dos lu­cros dos mesmos grupos eco­nó­micos e em­presas que, de­pois, ga­rantem não poder au­mentar os sa­lá­rios...

Lu­cros enormes, sim, es­can­da­losos. E ga­rantem que não podem pagar mais… Mas algo está a mudar na res­posta a tudo isto. Há pi­quetes de greve em todo o país, há muito tempo que não havia tantos e em sec­tores tão va­ri­ados. Os pi­quetes são um local de apren­di­zagem, há muito de­bate entre tra­ba­lha­dores e destes com quem lá vai apoiar. E sente-se uma maior com­pre­ensão da ge­ne­ra­li­dade das pes­soas para com as greves e os seus mo­tivos.

Na Grã-Bre­tanha só existe uma cen­tral sin­dical, a TUC [Trade Union Con­gress, na sigla in­glesa], que tem de­pois ra­mi­fi­ca­ções a nível local, e nos úl­timos tempos a par­ti­ci­pação tem sido imensa a este nível: os di­fe­rentes sin­di­catos en­con­tram-se, con­versam, pla­ni­ficam, or­ga­nizam, apoiam-se... Mas, é claro, temos ainda muito tra­balho a fazer.

 

E qual a acção que o Par­tido Co­mu­nista Bri­tâ­nico tem de­sen­vol­vido nestes pro­testos?

A in­fluência do Par­tido Co­mu­nista Bri­tâ­nico é cla­ra­mente su­pe­rior à sua di­mensão. Apoi­amos os sin­di­catos que estão a de­sen­volver as lutas em de­fesa dos seus sa­lá­rios e di­reitos, mas também dos ser­viços pú­blicos, e de­fen­demos de um modo muito firme e claro a re­na­ci­o­na­li­zação dos sec­tores da energia, da água, dos ser­viços de emer­gência, da saúde, da edu­cação, que estão hoje em mãos pri­vadas.

A cri­ação de or­ga­ni­za­ções do par­tido nas em­presas está entre os nossos ob­jec­tivos e temos vindo a co­locar aos nossos mi­li­tantes a ne­ces­si­dade de se sin­di­ca­li­zarem, de par­ti­ci­parem nos sin­di­catos lo­cais e nos pi­quetes, de se apro­xi­marem dos tra­ba­lha­dores, das suas as­pi­ra­ções e das suas lutas.

 

Como vê o PCB os de­sen­vol­vi­mentos po­lí­ticos no Reino Unido, in­cluindo quanto ao pró­ximo go­verno bri­tâ­nico e à sua po­lí­tica?

A nova pri­meira-mi­nistra [Liz Truss] foi es­co­lhida pelo Par­tido Con­ser­vador e não pelo povo bri­tâ­nico. O nosso par­tido de­fendia a re­a­li­zação de novas elei­ções, mas nem o Par­tido Tra­ba­lhista as exigiu. A classe do­mi­nante deve estar a es­fregar as mãos de con­tente…

Para os tra­ba­lha­dores bri­tâ­nicos seria menos mau um go­verno tra­ba­lhista, mas temos de ser re­a­listas quanto ao que esse go­verno seria. Por exemplo, a di­recção do Par­tido Tra­ba­lhista deu ori­en­ta­ções às suas or­ga­ni­za­ções e mem­bros para que não par­ti­ci­passem nos pi­quetes de greve nem lhes pres­tassem qual­quer tipo de apoio e so­li­da­ri­e­dade.


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