Forças de extrema-direita ganham eleições em Itália

Os re­sul­tados das elei­ções le­gis­la­tivas em Itália in­dicam que o país pas­sará a ser go­ver­nado por uma co­li­gação de ex­trema-di­reita, que ob­teve 237 dos 400 de­pu­tados e 113 dos 200 se­na­dores, o que lhe ga­rante a mai­oria no par­la­mento.

É pre­o­cu­pante que a força mais vo­tada es­teja com­pro­me­tida com o le­gado do fas­cismo

Em Itália, a ter­ceira maior eco­nomia da União Eu­ro­peia, a ali­ança de ex­trema-di­reita for­mada pelos par­tidos Ir­mãos de Itália (FdI), La Liga, Forza Italia e Noi Mo­de­rati con­quistou nas elei­ções le­gis­la­tivas de 25 de Se­tembro uma mai­oria par­la­mentar que lhe per­mi­tirá formar go­verno.

Dos res­tantes as­sentos na Câ­mara de De­pu­tados, 81 serão ocu­pados pela co­li­gação en­ca­be­çada pelo Par­tido De­mo­crá­tico (PD) e in­te­grada pela Es­querda Ita­liana/​Os Verdes, +Eu­ropa e Com­pro­misso Cí­vico. O Mo­vi­mento 5 Es­trelas (M5S) con­tará com 51 lu­gares, en­quanto 21 irão para o Ter­ceiro Pólo e os res­tantes para ou­tras forças com menor peso elei­toral.

No Se­nado, a ali­ança li­de­rada pelo PD con­tará com 48 eleitos, o M5S terá 29 e o Ter­ceiro Polo apenas nove.

Estas elei­ções ita­li­anas ti­veram a menor par­ti­ci­pação (63,9 por cento) desde a Se­gunda Guerra Mun­dial.

A pri­meira reu­nião da Câ­mara de De­pu­tados e do Se­nado terá lugar a 13 de Ou­tubro. De­pois, o pre­si­dente da Re­pú­blica pro­ce­derá a con­sultas com os par­tidos vi­sando a for­mação do go­verno e in­di­cará o nome do pri­meiro-mi­nistro, que pro­va­vel­mente será a di­ri­gente dos FdI, Gi­orgia Me­loni. Após a for­mação do ga­bi­nete e da sua apro­vação par­la­mentar, o go­verno en­trará em fun­ções ainda antes do final de Ou­tubro.

A co­li­gação União Po­pular, que in­tegra o Par­tido da Re­fun­dação Co­mu­nista, al­cançou 402,977 votos e cerca de 1,43%. A co­li­gação Itália So­be­rana e Po­pular, na qual par­ti­cipa o Par­tido Co­mu­nista (Itália), ob­teve 348,074, o que cor­res­ponde a 1,24%. O Par­tido Co­mu­nista Ita­liano, que lo­grou re­co­lher o nú­mero de as­si­na­turas ne­ces­sário para par­ti­cipar nas elei­ções, al­cançou cerca de 25 mil votos.


PCP sobre as elei­ções em Itália

O PCP di­vulgou na se­gunda-feira, 26, através do seu Ga­bi­nete de Im­prensa, a se­guinte nota sobre as elei­ções em Itália:

«O facto de uma força de ex­trema-di­reita, com­pro­me­tida com o le­gado do fas­cismo, ter sido o par­tido mais vo­tado nas elei­ções em Itália as­sume par­ti­cular gra­vi­dade.

Trata-se de um re­sul­tado só pos­sível de­vido à pro­funda crise po­lí­tica, eco­nó­mica e so­cial em que a Itália está mer­gu­lhada em re­sul­tado da acção de su­ces­sivos go­vernos com po­lí­ticas de di­reita e sub­me­tidos às ori­en­ta­ções da União Eu­ro­peia que, como o úl­timo go­verno che­fiado por Mário Draghi, frus­traram justas ex­pec­ta­tivas po­pu­lares, também re­flec­tidas na ele­vada abs­tenção re­gis­tada.

A as­censão de força mar­ginal à mais vo­tada é in­se­pa­rável da so­fis­ti­cada me­di­a­ti­zação e des­ca­rada pro­moção da fi­gura de Gi­orgia Me­loni e da nor­ma­li­zação do “Ir­mãos de Itália”, um par­tido com uma tra­jec­tória de cariz fas­ci­zante.

É cedo para ava­liar todas as im­pli­ca­ções deste re­sul­tado elei­toral na po­lí­tica in­terna e ex­terna da Itália, a ter­ceira eco­nomia da zona euro, a braços com uma dí­vida ex­terna de grandes pro­por­ções. En­tre­tanto, apesar das crí­ticas à bu­ro­cracia su­pra­na­ci­onal de Bru­xelas, são de re­gistar as pro­fis­sões de fé ne­o­li­beral e atlan­tista à me­dida dos in­te­resses do grande ca­pital ita­liano.

A pers­pec­tiva de um go­verno de ex­trema-di­reita em Itália, na sequência do avanço das forças de ex­trema-di­reita nou­tros países, é in­qui­e­tante e con­firma a ne­ces­si­dade de in­ten­si­ficar a luta contra o re­vi­si­o­nismo his­tó­rico que bran­queia e ba­na­liza os crimes do nazi-fas­cismo en­quanto pro­move o an­ti­co­mu­nismo. O PCP confia, porém, em que os tra­ba­lha­dores e o povo ita­liano, co­e­rente com as suas tra­di­ções de­mo­crá­ticas e pro­gres­sistas, aca­barão por der­rotar as forças re­ac­ci­o­ná­rias e os pro­jectos fas­ci­zantes.»



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