1659 – Theophrastus redivivus

The­oph­rastus Re­di­vivus é um ma­nus­crito clan­des­tino de autor des­co­nhe­cido, em­bora al­guns in­ves­ti­ga­dores atri­buam a au­toria ao mé­dico e pen­sador francês Guy Patin (1601-1672). É con­si­de­rado o livro mais re­le­vante do que se con­ven­ciou chamar “li­ber­ti­nagem eru­dita” do sé­culo XVII, ex­pressão maior do com­bate anti-re­li­gião da sua época. Com mais de mil pá­ginas, es­crito em latim, cir­culou pouco e só na forma ma­nus­crita, mas o seu im­pacto foi enorme: se­gundo os es­pe­ci­a­listas, é nesta al­tura que o ateísmo as­sume uma es­tru­tura bem de­fi­nida e se torna de facto numa fi­lo­sofia. Si­nó­nimo de imo­ra­li­dade até à Idade Mo­derna, o ateísmo – ne­o­lo­gismo do termo grego “atheos”, já usado na Grécia no séc. V a.C. – volta ao centro do de­bate com fi­ló­sofos como Francis Bacon (Of Atheism) ou Pi­erre Bayle, que no livro Pen­sées di­verses sur la comète dis­tingue o ‘ateísmo prá­tico’, ou seja a ne­gação de toda a mo­ra­li­dade, do ‘ateísmo es­pe­cu­la­tivo’, ou seja a ne­gação fi­lo­só­fica da exis­tência de Deus, re­jei­tando qual­quer re­lação entre ambos e rei­vin­di­cando a pu­reza moral dos ateus face à cor­rupção dos cris­tãos. Deve-se aos ita­li­anos Gi­anni Pa­ga­nini e Guido Can­ziani a tra­dução de The­oph­rastus re­di­vivus, o pri­meiro tra­tado sis­te­má­tico e ex­plí­cito de ateísmo da his­tória da fi­lo­sofia.