Comandos, porquê?

Rui Fernandes

Os Comandos voltam a ser falados pelas piores razões

Sabemos que o militar transplantado recupera positivamente. Óptimo! Sabemos que o número de militares objecto de problemas foi maior do que aquele que inicialmente veio a público, mas estará tudo ultrapassado do ponto de vista de saúde. Óptimo! Sabemos que o Exército abriu investigação interna e suspendeu o curso.

Ainda este caso não está encerrado e surge notícia de que dois militares comandos decidiram tomar banho nos panelões onde é confeccionada a alimentação.

O que se passa? Que critérios de selecção existem? Que «culto» é ministrado que parece transformar cabeças para a irracionalidade? Porquê outra vez os Comandos? Porque não surgem registos de problemas similares noutras forças especiais?

Em momento anterior alertámos para um conjunto de aspectos que importaria analisar e que incidem sobre três áreas: selecção, formação e formadores. São três áreas que se interligam directamente com o estudo evolutivo da juventude. Que queremos dizer? Um exemplo: há 40 anos integravam as fileiras muitos jovens com baixa escolaridade, mas muitos iniciavam uma vida de trabalho, por exemplo no campo, que lhes dava uma resistência física que hoje não existe. O sedentarismo marca a vida de hoje, o desporto escolar é, infelizmente, o que se sabe e a quantidade de produtos propagandeados para quem supostamente cultiva o físico, é incontável. Isto liga directamente com o processo de selecção e a necessidade, dizemos nós, de um maior aprofundamento médico sobre as condições de cada candidato. Por outro lado, ter um aparente físico cultivado sem ter a «cabeça no lugar», pode servir para biombo de porta, mas não serve para envergar uma farda que represente Portugal.

A formação, ou seja, o seu conteúdo, a intensidade das provas, das provações, etc, têm de ter presente essa realidade que se vai alterando. Inclui-se nisto a acção psicológica que se não tiver da parte dos instrutores muita sensibilidade para detectar dificuldades não verbalizadas pode conduzir, nuns casos, a desfechos lamentáveis e, noutros, a valentias desastrosas.

No tempo em que havia Serviço Militar Obrigatório (SMO), pela quantidade anual de instruendos, era fácil aos instrutores irem-se apercebendo do reflexo das vivências juvenis no comportamento e desempenho, e isso conduzia-os a adoptar as nuances adequadas a essa realidade. Por fim, a qualidade dos formadores/instrutores e repete-se, ilustrando: o maior crânio a matemática não significa que seja um bom professor de matemática.

O Exército abriu inquérito ao sucedido. Noutras ocasiões, fez o mesmo. Mas o que se requer é que em vez da pressa em justificações e siga prá frente, sejam adoptadas medidas de fundo que reduzam ao mínimo que problemas desta natureza venham novamente a ocorrer, porque de cada vez que acontecem é a Instituição que fica em causa e a capacidade de atractividade das Forças Armadas como um todo também é afectada.

Sabemos da pressão para que mais uns quantos passem a prontos e possam incorporar a lista para irem para missões externas. Mas estaremos duplamente mal se for isso a determinar o curso dos acontecimentos.




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