Onde e quando for preciso...

Rui Fernandes

A de­fe­rência, a partir de de­ter­mi­nado pa­tamar, as­sume ou­tros con­tornos

sem es­tados de es­pí­rito ou des­culpas. Esta é uma ci­tação da in­ter­venção pro­fe­rida pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica (PR), numa ce­ri­mónia que teve lugar no Co­mando Aéreo, rei­te­rando o com­pro­misso de Por­tugal com a NATO.

Disse ainda: «Per­ma­ne­cemos prontos e firmes, com os nossos sol­dados, nos campos de ba­talha mais di­fí­ceis, em todos os con­ti­nentes, mas so­bre­tudo na Eu­ropa.» Pode haver quem olhe para estas afir­ma­ções como da fa­mília da fan­far­ro­nice. Mas elas são, so­bre­tudo, da fa­mília da sub­missão, as­pecto que ganha ainda mais sen­tido se ti­vermos pre­sente foram pro­fe­ridas pe­rante o Co­man­dante Su­premo do Co­mando Aliado de Trans­for­mação da NATO, o ge­neral Phi­lippe La­vigne, que marcou pre­sença na ce­ri­mónia.

E, não tendo nada de sur­pre­en­dente, não deixa de me­recer re­gisto. Desde logo pelos termos usados, que nos faz vir à me­mória épocas en­ter­radas pela roda da His­toria. É uma afir­mação que, de­sa­li­nhando com os va­lores cons­ti­tu­ci­o­nal­mente con­sa­grados, expõe na ple­ni­tude a con­cepção que tem guiado as op­ções de su­ces­sivos go­vernos, de que Por­tugal não tem in­te­resses pró­prios a de­fender, e na qual se in­sere, neste caso, o PR.

A de­fe­rência, a partir de de­ter­mi­nado pa­tamar, as­sume ou­tros con­tornos. E as­sume ainda mais quando se co­nhece (está am­pla­mente no­ti­ciado) os pro­blemas que as­solam o con­creto da Ins­ti­tuição Mi­litar. A dis­função entre o dito e a re­a­li­dade, ainda que re­du­zida só ao sim­bo­lismo po­lí­tico das afir­ma­ções, não pode deixar de gerar in­cre­di­bi­li­dade no uni­verso dos prin­ci­pais des­ti­na­tá­rios. Nem pode deixar de gerar o sus­surro de que hou­vesse tanta acu­ti­lância e dis­po­ni­bi­li­dade para tratar os pro­blemas que se vão so­mando na vida dos mi­li­tares e por certo outro seria o pa­no­rama.

Há 24 anos, de­corria um dos pro­cessos de alar­ga­mento da NATO e, por ini­ci­a­tiva, do PCP foi pro­mo­vido um de­bate. Na in­ter­venção então pro­fe­rida pelo PCP na As­sem­bleia da Re­pú­blica, foi dito: «do que aqui tra­tamos é de saber se se está a ca­mi­nhar para um mo­delo que cons­trua uma paz du­ra­doura na re­gião e dê uma con­tri­buição po­si­tiva para a paz no mundo, ou se, pelo con­trário, se estão a lançar achas para uma fo­gueira que algum dia quei­mará as hi­pó­teses de es­ta­bi­li­dade, se­gu­rança e co­o­pe­ração. Do que tra­tamos é de dis­cutir se a cons­trução da paz não tem de ser por de­fi­nição um pro­cesso as­sente no res­peito mútuo, na cri­ação da con­fi­ança, na ir­ra­di­cação das he­ge­mo­nias e das re­la­ções de do­mínio e su­bor­di­nação.(...)é tempo de fazer uma re­flexão pro­funda e ar­re­piar ca­minho, na di­recção da paz, da se­gu­rança, da co­o­pe­ração, nesta Eu­ropa de eu­ro­peus, de nações que devem as­sumir o seu fu­turo e a se­gu­rança. Al­guns dos senhores depu­tados acharão cer­ta­mente que este de­bate é uma ma­çada, uma perda de tempo.»

Nessa al­tura era pre­si­dente do PSD o ac­tual Pre­si­dente da Re­pú­blica.




Mais artigos de: Argumentos

Ferramentas para compreender e transformar

Nestes primeiros dias do ano é sempre a mesma azáfama: arrumar a casa, fazer balanços, verificar as existências e planificar o futuro. Um ávido corrupio para cumprir as obrigações ditadas pelo calendário, claro, mas sobretudo para se poder, depois, lançar-se de novo ao labor que realmente...