Novos aumentos somam-se à maior subida de preços dos últimos 30 anos

«Em 2022, re­gistou-se a maior su­bida anual de preços de bens e ser­viços de con­sumo dos úl­timos 30 anos, re­flec­tida numa in­flação que se fixou nos 8,1%», as­si­nalou Mar­ga­rida Bo­telho, em de­cla­ração po­lí­tica pro­fe­rida no pri­meiro dia útil do novo ano.

Os au­mentos alas­tram sem que o Go­verno in­ter­venha, fa­vo­re­cendo a es­pe­cu­lação

Lusa

«O au­mento do custo de vida e a es­ca­lada de preços tra­duzem-se na perda real e sig­ni­fi­ca­tiva de poder de compra dos tra­ba­lha­dores e do povo, mas também na acu­mu­lação de lu­cros que o apro­vei­ta­mento es­pe­cu­la­tivo por parte dos prin­ci­pais grupos eco­nó­micos tem ga­ran­tido», co­meçou por dizer a membro do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral do PCP, que des­tacou, «entre as mai­ores su­bidas, as dos preços dos pro­dutos ali­men­tares (18,9%) e dos pro­dutos ener­gé­ticos (23,7%)».

«Ao mesmo tempo, as re­mu­ne­ra­ções brutas mé­dias men­sais por tra­ba­lhador, em termos reais, caíram 4,7% até Se­tembro», acres­centou, ci­tando «os úl­timos dados co­nhe­cidos».

«Uma si­tu­ação tão mais grave quanto as es­ti­ma­tivas do Banco de Por­tugal apontam para uma in­flação em 2023 em torno dos 5,8%. Ou seja, ao con­trário dos que ar­gu­mentam que a in­flacção au­mentou li­gei­ra­mente menos em De­zembro, os preços con­ti­nu­arão a au­mentar nos pró­ximos meses, so­mando-se aos au­mentos de 2022», alertou ainda Mar­ga­rida Bo­telho, que de­ta­lhou al­gumas das «su­bidas de preços dos bens e ser­viços es­sen­ciais», en­tre­tanto anun­ci­adas (ver pá­ginas se­guintes), as quais agravam «ainda mais as con­sequên­cias na vida da ge­ne­ra­li­dade da po­pu­lação, sem que os sa­lá­rios e as pen­sões as acom­pa­nhassem».

Ao que já foi anun­ciado, soma-se «au­mentos bas­tante su­pe­ri­ores sobre o preço dos novos con­tratos [de ar­ren­da­mento], das ta­rifas nos par­ques de es­ta­ci­o­na­mento, nas ins­pec­ções obri­ga­tó­rias dos veí­culos, das te­le­co­mu­ni­ca­ções (MEO, Vo­da­fone, NOS), dos ser­viços pos­tais, do preço do pão ou de ou­tros bens ali­men­tares e ou­tros ser­viços. Au­mentos aos quais se devem acres­centar os custos com a ha­bi­tação, de­sig­na­da­mente com a in­com­por­tável su­bida das pres­ta­ções com em­prés­timos para aqui­sição de ha­bi­tação pró­pria, de­cor­rente do brutal au­mento das taxas de juro im­postas pelo Banco Cen­tral Eu­ropeu e que terão im­pacto em cen­tenas ou mesmo mi­lhares de euros na vida de mais de um mi­lhão de fa­mí­lias ao longo de 2023».

A ver a banda passar

«Estes são au­mentos que se anun­ciam e alas­tram sem que o Go­verno in­ter­venha para re­gular os preços dos bens e ser­viços es­sen­ciais, fa­vo­re­cendo a es­pe­cu­lação e con­tri­buindo para a acu­mu­lação de lu­cros fa­bu­losos e para a dis­tri­buição de di­vi­dendos, exi­bidas pelos grupos eco­nó­micos», acusou também Mar­ga­rida Bo­telho.

A di­ri­gente co­mu­nista deu como exem­plos os sec­tores «da grande dis­tri­buição (como a Je­ró­nimo Mar­tins e a Sonae), da energia (GALP, EDP, REN) ou da banca (Caixa Geral de De­pó­sitos, BCP, BPI, San­tander Totta, Novo Banco)», os quais, «nos pri­meiros nove meses de 2022 (…) ti­veram em con­junto lu­cros de 4148 mi­lhões de euros».

Dito de outro modo, acu­mu­laram lu­cros de «mais 59,4% do que em igual pe­ríodo de 2021, grande parte deles re­sul­tantes da su­bida es­pe­cu­la­tiva das mar­gens de co­mer­ci­a­li­zação dos bens e ser­viços que for­necem».

PCP alertou e propôs

«Como o PCP tem de­fen­dido e pro­posto, a si­tu­ação con­firma a ur­gência do au­mento geral dos sa­lá­rios, de­sig­na­da­mente com a fi­xação do Sa­lário Mí­nimo em 850 euros, com efeitos ime­di­atos, e com a va­lo­ri­zação das pen­sões, ga­ran­tindo, pelo menos, o cum­pri­mento da Lei e um au­mento mí­nimo de 50 euros», pros­se­guiu Mar­ga­rida Bo­telho.

Tais va­lo­ri­za­ções das re­mu­ne­ra­ções são «in­dis­pen­sá­veis não apenas para com­pensar as perdas de poder de compra re­gis­tadas em 2022, mas também para fazer face às ex­pec­ta­tivas de evo­lução da in­flação no ano de 2023», su­bli­nhou igual­mente a membro do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral do PCP, que in­sistiu: «para en­frentar as su­bidas de preços e os ac­tuais ní­veis de in­flação, é pre­ciso au­mentar os sa­lá­rios e as pen­sões, re­gular os preços dos com­bus­tí­veis, da energia, dos bens ali­men­tares e ou­tros ser­viços es­sen­ciais, mas também das te­le­co­mu­ni­ca­ções, dos ser­viços ban­cá­rios, das rendas de casa, das taxas de juros pra­ti­cadas nos em­prés­timos à ha­bi­tação (fa­zendo re­flectir nos lu­cros da banca a su­bida das taxas de juro, em vez de serem os cli­entes a arcar com essa de­cisão)».

Ou seja, «não bastam me­didas pon­tuais e as­sis­ten­ci­a­listas, como as que o Go­verno tem pro­mo­vido, e muito menos a uti­li­zação de re­ceitas pú­blicas para ali­mentar os lu­cros dos grupos eco­nó­micos – como o Go­verno fez agora com as por­ta­gens». Do mesmo modo, não é su­fi­ci­ente, «como ou­tros também já pre­tendem – seja PSD, Chega ou IL –, co­locar os re­cursos pú­blicos a su­portar a re­dução de IVA sem impor a fi­xação de preços, ga­ran­tindo assim uma ainda maior acu­mu­lação de mar­gens de lucro por parte dos grupos eco­nó­micos».

Pelo con­trário, «as op­ções que a si­tu­ação impõe e pelas quais o PCP con­ti­nuará a in­tervir no ime­diato», passam por «com­bater as de­si­gual­dades e in­jus­tiças, ga­rantir a ele­vação das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo, re­forçar e va­lo­rizar os ser­viços pú­blicos, desde logo o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e a Es­cola Pú­blica, pro­mover o in­ves­ti­mento pú­blico e a pro­dução na­ci­onal».

Uma in­ter­venção, a do Par­tido, «para pro­mover uma mais justa dis­tri­buição do ren­di­mento entre ca­pital e tra­balho, a di­na­mi­zação da ac­ti­vi­dade eco­nó­mica e o apoio às MPME, e que en­con­trará na po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que o PCP de­fende a res­posta mais plena para dar so­lução aos pro­blemas na­ci­o­nais, ga­rantir o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e o pro­gresso so­cial», con­cluiu.

Já se sabe que vai au­mentar

Não estão ca­bal­mente de­fi­nidos todos os au­mentos de bens e ser­viços no ano que acabou de en­trar, so­bre­tudo os es­sen­ciais, caso do pão, que apenas se sabe que vai au­mentar, mas não está de­fi­nido quanto. To­davia, al­guns já foram anun­ci­ados, com en­trada em vigor a partir de 1 de Ja­neiro:

    • Por­ta­gens: 7,3%

    • Bi­lhetes do Metro e Carris: 10%

    • Bi­lhetes da Trans­tejo e So­flusa: 4% e 7%

    • Bi­lhetes oca­si­o­nais e pré-com­prados da Fer­tágus: 6,1%

    • Bi­lhetes na Área Me­tro­po­li­tana do Porto: 1%

    • Ta­rifa re­gu­lada da energia eléc­trica: 3,3%

    • Ta­rifa não-re­gu­lada da energia eléc­trica na EDP: 3%

    • Gás na­tural: 3%

    • Rendas de casa: 2%

    • Taxas de juro de re­fe­rência do cré­dito à ha­bi­tação: 150 pontos base

    • Ins­pecção obri­ga­tória veí­culos li­geiros: de 25,85 para 27,80 euros

    • Ins­pecção obri­ga­tória mo­to­ci­clos: de 13,02 para 14 euros

    • Ins­pecção obri­ga­tória veí­culos pe­sados: de 38,69 euros (sem IVA) para 41,60 euros

Já au­mentou em 2022

  • De acordo com os cál­culos mais re­centes, es­tima-se que um cabaz de ali­mentos es­sen­ciais tenha au­men­tado, entre o final de Fe­ve­reiro e o fim de De­zembro do ano pas­sado, 18,26% (mais 33,51 euros em média, para um total de 217,14 euros). Mas ocor­reram au­mentos ainda mais sig­ni­fi­ca­tivos, tais como:

    • Mer­ce­aria, em média: 17,43%

      • Ce­reais: 6%

      • Grão co­zido: 5%

      • Açúcar Branco: 46%

      • Es­par­guete: 4%

      • Arroz ca­ro­lino: 53%

      • Polpa de to­mate: 64%

      • Bo­lacha Maria: 37%

    • Frutas e le­gumes, em média: 14,46%

      • Al­face: 42%

      • Ce­noura: 42%

      • Couve-co­ração: 39%

      • Ba­tata ver­melha: 35%

    • Lac­ti­cí­nios, em média: 23,70%

      • Leite meio-gordo UHT: 42%

    • Um quilo de carne, em média: 21%

    • Um quilo de peixe fresco, em média: 17,88%

      • Salmão: 15%

      • Ca­rapau: 6%

      • Pes­cada: 41%

      • Ro­balo: 4%

    • Con­ge­lados, em média: 17,15%

      • Er­vi­lhas: 15%

      • Me­da­lhões pes­cada: 5%