A necessidade é outra
O primeiro-ministro veio justificar a «necessidade» de empresas públicas como a TAP e a CGD pagarem salários aos seus administradores bem acima dos salários «normais» dos gestores públicos, porque competem num mercado liberalizado. Como sempre, o argumento é o da concorrência, aqui, a necessidade de segurar gestores competentes pagando os salários que são pagos no privado. Este raciocínio está todo errado. Desde logo porque misturar a actual gestão da TAP e a palavra competência numa mesma frase não faz qualquer sentido, e até é suficiente para demonstrar a falsidade da tese apresentada.
Depois porque defende que as empresas públicas necessitam de copiar as taras dos grandes grupos capitalistas. É verdade que há grupos desses a pagarem milhões aos seus administradores e ainda mais milhões aos accionistas. Mas isso está errado. E não tanto moralmente errado, que também o será, mas económica e socialmente errado.
Em Portugal, um gestor público recebe entre 3 e 6 mil euros de salário. Não é suficiente para atrair qualidade? Brincamos? Num país onde centenas de milhar de trabalhadores com formação superior só recebem entre mil e dois euros de salário? É preciso pagar salários de 15, 20, 30 mil euros para «segurar» um bom gestor público? E a malta acredita nisto? A sério?
A lógica das empresas capitalistas é remunerar o capital na mais alta taxa possível. É essa a lógica que deve presidir a uma empresa pública? As empresas públicas não existem para gerar lucros, e quando os geram é de forma marginal. A riqueza que criam começa nos salários que pagam aos seus trabalhadores, nos empregos que criam, nos serviços ou mercadorias que produzem, e vão até ao contributo que dão a outras actividades económicas.
Que António Costa não está de acordo com a socialização dos meios de produção, nem sequer dos estratégicos, é uma evidência com consequências dramáticas na vida nacional. Outra evidência, a de que continua a ser necessário romper com a política de direita.