Impõe-se a alternativa

A luta e a intervenção do PCP ganham importância acrescida

Seria uma banalidade, não estivéssemos a falar de algo que afecta de forma dramática a vida da larga maioria da população, voltar a colocar em evidência esta trajectória que a partir da política do Governo e da acção dos principais centros do capital avoluma injustiças e desigualdades, distribuindo pelos trabalhadores e o povo dificuldades e perda de poder de compra, ao mesmo tempo que se concentram os lucros e a apropriação de riqueza pelos grupos económicos.

Uma realidade que nem a narrativa do PS, nem o cínico aproveitamento das opções do governo PS por parte de PSD, Chega e IL (sem esquecer o CDS, aparentemente fora da boca de cena) conseguem iludir.

Uma realidade presente na dureza das condições de vida de quem vê salário e pensão de reforma consumidos pela inflação, num percurso de perda de poder de compra consumado e em vias de ampliação, que nem o anúncio de abrandamento que alguns esgrimem ilude um facto incontornável – é que os preços não só não baixam como continuam a aumentar.

Como a aumentar continua a acumulação de lucros, alguns nunca vistos, por parte dos grupos económicos numa relação directa entre preços de bens alimentares, custos de habitação e da energia, com os lucros da distribuição, da banca ou das energéticas.

 

É verdade que a sucessão de casos e a sua mediatização têm contribuído para afastar do centro dos problemas e da vida o que realmente continua a ser marcante na situação social. É verdade que esses casos têm servido para alguns, na ausência de opções distintas daquelas que é a política do Governo PS, fingirem distanciamentos e oposição. Razão pela qual se exige que voltemos a lembrar, uma e outra vez, que aquilo que tem conduzido às situações denunciadas radica nas opções e critérios da política de direita, nessa promiscuidade entre poder político e económico que, ao longo dos anos, PS, PSD e CDS têm promovido, e que integralmente Chega e IL partilham e beneficiam.

É verdade que se multiplicam aproveitamentos e tentativas de instrumentalização para a partir desta ou daquela situação enfunar as velas da política de direita,  seja para favorecer a privatização da TAP e anatemizar o que é público, seja para abrir rotas que confluam para ambicionados projectos antidemocráticos como os que se desenham com a revisão constitucional. Mas tudo isto não só não apaga a realidade crua do dia-a-dia como se destina a deixar na sombra as razões que a condiciona. E, sobretudo, a partir do que é acessório animar saídas políticas e uma alternância que deixe no essencial tudo na mesma, criando dificuldades de percepção sobre a política alternativa que se impõe concretizar para assegurar um outro rumo para o País.

 

É neste quadro que a luta, e em particular a luta dos trabalhadores e a iniciativa do PCP ganham acrescida importância. Uma luta que se multiplica a partir da acção reivindicativa e dos problemas que em concreto se vive em cada empresa e sector, uma luta organizada e dirigida a partir da sua organização de classe, o movimento sindical unitário, que se anima também a partir de momentos de convergência e da sua expressão de rua em que expressa a indignação e o protesto. Uma luta que percorrendo vários sectores tem na luta da Fenprof em defesa dos direitos dos professores e da escola pública uma expressiva manifestação de determinação e organização.

 

A intensa intervenção do PCP, dando voz aos trabalhadores e ao povo e às suas reclamações, apresentando propostas e soluções para os problemas, contrasta com o que mais ou menos artificialmente vai sendo projectado. Um contraste não apenas no sentido dessa acção, ainda que silenciada no que de mais significativo e substancial encerra, mas sobretudo no seu conteúdo e objectivos. Uma acção que põe em evidência a incoerência de quem em palavras verte lágrimas sobre o custo de vida mas depois rejeita a proposta do PCP para limitar o aumento de preços e fixar um cabaz alimentar. Uma acção que inscreve a soberania e a produção nacionais como factores de desenvolvimento, no quadro da qual a iniciativa sobre ciência e tecnologia realizada em Évora é expressão. Uma acção que se debruça sobre aspectos candentes como os que envolvem os quadros técnicos e intelectuais, objecto de debate e reflexão na Assembleia de Organização do Sector Intelectual de Lisboa. Uma acção a partir de cada organização local do Partido em defesa dos seus direitos e salários, pelo acesso à saúde ou à habitação.

 

Num momento em que alguns procuram rescrever a história, assume particular valor a iniciativa que assinalou os 50 anos sobre o assassinato de Amílcar Cabral, enquanto contribuição para uma observação rigorosa e verdadeira sobre a luta contra o colonialismo, a resistência antifascista e a conquista da liberdade e a democracia que a revolução de Abril consagrou.