Jornadas Parlamentares do PCP em Beja reafirmam soluções

Aproveitar potencialidades, responder aos problemas concretos

O PCP vai dar ainda maior cen­tra­li­dade ao tema da ha­bi­tação. Agen­dado para dia 15 está já um pro­jecto para criar um re­gime de pro­tecção da ha­bi­tação pró­pria face ao au­mento dos en­cargos com o cré­dito à ha­bi­tação, anun­ciou-se nas suas Jor­nadas Par­la­men­tares, que de­cor­reram esta se­gunda e terça-feira, em Beja.

É pre­ciso uma po­lí­tica al­ter­na­tiva que en­frente os dé­fices es­tru­tu­rais do País

Re­a­li­zadas sob o lema «Pro­dução Na­ci­onal, Em­prego e Di­reitos», destas Jor­nadas ema­naram ou­tras im­por­tantes li­nhas de ori­en­tação e de­ci­sões, sob as quais se pau­tará muita da acção do Grupo Par­la­mentar co­mu­nista nos tempos mais pró­ximos.

Como an­teviu o Se­cre­tário-geral do PCP, Paulo Rai­mundo, a fi­na­lizar a sua in­ter­venção na aber­tura dos tra­ba­lhos numa uni­dade ho­te­leira da ci­dade alen­te­jana, as Jor­nadas es­tavam ta­lhadas para cum­prir o que o PCP de­finiu que fossem: «dois dias para co­nhecer me­lhor, para en­con­trar so­lu­ções».

Esse era o de­safio que es­tava lan­çado.

E assim foi. En­vol­vendo os de­pu­tados e mem­bros das es­tru­turas de apoio do Grupo co­mu­nista, mas também as or­ga­ni­za­ções lo­cais e re­gi­o­nais do Par­tido, e eleitos au­tár­quicos, as Jor­nadas cum­priram um in­tenso e alar­gado pro­grama de con­tactos, reu­niões e vi­sitas. Que co­meçou logo ao início da tarde de se­gunda-feira, na sequência da sessão de aber­tura perto do final da manhã, a que pre­sidiu o de­pu­tado João Dias, que es­tava acom­pa­nhado na mesa por Ma­nuela Pinto Ângelo, do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral, Ângelo Alves, da Co­missão Po­lí­tica, Ma­nuel Va­lente, do CC e res­pon­sável pela Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Beja do PCP, e pelos de­pu­tados Bruno Dias, Alma Ri­vera e Paula Santos, pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar, a pri­meira a in­tervir na sessão de ar­ranque das Jor­nadas.

 

Ra­di­o­grafia ao dis­trito

Des­do­brando-se por oito grupos, os de­pu­tados e res­tante co­mi­tiva ti­veram en­sejo de vi­sitar as obras ina­ca­badas do IP8, a Creche da Casa do Povo do Pe­nedo Gordo, a Co­o­pe­ra­tiva Agrí­cola do Gua­diana, Adegas em Vila de Frades, o Centro In­ter­pre­ta­tivo do Vinho da Talha; reunir com a Águas Pú­blicas do Alen­tejo, com a ad­mi­nis­tração do Hos­pital de Beja, com a União dos Sin­di­catos de Beja e co­mis­sões sin­di­cais; ter en­con­tros com tra­ba­lha­dores e es­tru­turas das artes e do es­pec­tá­culo, com a di­recção da Cá­ritas de Beja; con­tactar com os tra­ba­lha­dores da So­mincor; e, ainda, re­a­lizar uma au­dição pú­blica.

De todo este vasto pro­grama re­sultou uma ava­li­ação ri­go­rosa, ama­du­re­cida e cir­cuns­tan­ciada da re­a­li­dade re­gi­onal, dos seus cons­tran­gi­mentos e po­ten­ci­a­li­dades, dos pro­blemas que atingem os tra­ba­lha­dores e a po­pu­lação, não fal­tando si­mul­ta­ne­a­mente um olhar atento e por­me­no­ri­zado sobre o todo na­ci­onal.

E so­bre­tudo o apontar de me­didas con­cretas e so­lu­ções para os graves pro­blemas na­ci­o­nais que se avo­lumam em con­sequência, como su­bli­nhou Paulo Rai­mundo, da «acção de um Go­verno que in­siste em op­ções er­radas, de dé­cadas de po­lí­tica de di­reita». Op­ções, por­me­no­rizou, que «agravam as con­di­ções de vida, as de­si­gual­dades e in­jus­tiças, atacam sa­lá­rios e pen­sões, ao mesmo tempo que criam as con­di­ções para a acu­mu­lação de lu­cros».

A este pro­pó­sito, logo na sua in­ter­venção de ar­ranque das Jor­nadas, Paula Santos ano­tara já o facto de os es­can­da­losos lu­cros dos grupos eco­nó­micos, em par­ti­cular nos sec­tores ener­gé­tico, grande dis­tri­buição, banca e se­guros, con­tras­tarem «com o em­po­bre­ci­mento dos tra­ba­lha­dores, dos re­for­mados e do povo, com a con­ti­nuada perda do poder de compra e o au­mento es­pe­cu­la­tivo dos preços de bens e ser­viços es­sen­ciais».

 

Afirmar a al­ter­na­tiva

Está bem de ver, foi este pano de fundo que acabou por estar muito pre­sente nas Jor­nadas, tal como es­teve em grande des­taque a questão da po­lí­tica al­ter­na­tiva capaz de abrir um ca­minho de pro­gresso e de­sen­vol­vi­mento à re­gião do Baixo Alen­tejo e ao País.

E por isso uma atenção muito es­pe­cial das Jor­nadas foi dada às ques­tões da pro­dução na­ci­onal e sua pro­moção, à cri­ação de em­prego com di­reitos, ao re­forço do in­ves­ti­mento pú­blico, aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e aos di­reitos so­ciais, da saúde, da ha­bi­tação, da cul­tura.

Isso mesmo está es­pe­lhado, de resto no apu­ra­mento que foi feito nestes dois dias de tra­balho in­tenso.

Como se pode ler nas con­clu­sões das Jor­nadas que foram dadas a co­nhecer an­te­ontem em con­fe­rência de im­prensa por Paula Santos, o cum­pri­mento desses ob­jec­tivos é «con­dição para o de­sen­vol­vi­mento re­gi­onal e na­ci­onal do país».

É que, en­fa­tizou, «po­ten­ciar os re­cursos e as ri­quezas de cada ter­ri­tório, apoiar os sec­tores pro­du­tivos, subs­ti­tuir im­por­ta­ções por pro­dução na­ci­onal, con­tribui para a re­dução da de­pen­dência ex­terna do País, para a nossa so­be­rania na­ci­onal, e para a cri­ação de ri­queza e de em­prego».

Tal como criar em­prego com di­reitos, em pa­ra­lelo com o re­forço dos ser­viços pú­blicos, pros­se­guiu a líder par­la­mentar co­mu­nista, «é es­sen­cial para a fi­xação de po­pu­lação e para com­bater o des­po­vo­a­mento que afecta em par­ti­cular as re­giões do In­te­rior do País».

 

Pri­o­ri­dades de acção

Do mesmo modo que ganha enorme re­le­vância para o de­sen­vol­vi­mento – e esta é outra con­clusão das Jor­nadas – o re­forço do in­ves­ti­mento pú­blico «di­ri­gido à pro­moção da pro­dução na­ci­onal, à me­lhoria da mo­bi­li­dade e aces­si­bi­li­dades e no alar­ga­mento de equi­pa­mentos pú­blicos nas áreas da edu­cação, saúde, acção so­cial e cul­tura, na gestão dos re­cursos hí­dricos, bem como no alar­ga­mento do parque ha­bi­ta­ci­onal pú­blico».

Na pers­pec­tiva do PCP, não é igual­mente ir­re­le­vante para o de­sen­vol­vi­mento re­gi­onal a cri­ação de re­giões ad­mi­nis­tra­tivas. Trata-se de «as­se­gurar maior co­e­rência à or­ga­ni­zação ad­mi­nis­tra­tiva do Es­tado, ao invés da trans­fe­rência de com­pe­tên­cias do Es­tado para CCDR não eleitas», afirmou a par­la­mentar co­mu­nista, para quem é também ne­ces­sário repor fre­gue­sias que foram ex­tintas contra a von­tade das po­pu­la­ções, «pro­mo­vendo a par­ti­ci­pação po­pular, bem como o re­forço da ca­pa­ci­dade e au­to­nomia do poder local».

Daí o des­taque que é de­vido ao con­junto de de­ci­sões to­madas nestas Jor­nadas re­la­ti­va­mente às ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas e pri­o­ri­dades de acção da ban­cada co­mu­nista no fu­turo pró­ximo. Entre pro­jectos de lei e de re­so­lução, re­que­ri­mentos, de­bates, au­di­ções são 14 as ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas a levar a cabo nas pró­ximas se­manas.

Tudo so­mado, em re­sumo, não fal­taram so­lu­ções nestas Jor­nadas que vão ao en­contro da re­so­lução de pro­blemas con­cretos da re­gião do Baixo Alen­tejo e do País e da sa­tis­fação de ne­ces­si­dades e as­pi­ra­ções da po­pu­lação.

 

Acabem-me!

O ce­nário é de­so­lador: obras de arte ina­ca­badas, ferros à vista a sair do betão ar­mado, fer­rugem es­cor­rendo dos pi­lares, ter­reno es­ven­trado numa linha con­tínua de qui­ló­me­tros de ter­ra­pla­nagem. O que era para ser uma au­to­es­trada, é hoje um es­paço co­berto de mato. Serve de pasto para gado, que para isso dão jeito as cercas de arame en­tre­tanto aban­do­nadas. E até as ce­go­nhas, viu o re­pórter, vêem na ex­tre­mi­dade dos pi­lares es­paço aco­lhedor para cons­truir os ni­nhos.

Fa­lamos do IP8, uma obra ina­ca­bado e que há largos anos está vo­tada ao aban­dono por um go­verno do PSD/​CDS, nunca re­to­mada pelos go­vernos PS, de­pois de lá terem sido en­ter­rados mi­lhões de euros.

Com­pletar o IP8 de Sines a Vila Verde de Fi­calho é, pois, uma exi­gência da po­pu­lação de Beja, com a qual o PCP está to­tal­mente so­li­dário e que as­sume como sua, como ficou de novo pa­tente nas Jor­nadas Par­la­men­tares.

 

Vinho de Talha – um pro­duto de ex­ce­lência

A vi­sita a duas adegas (das muitas ali exis­tentes) e ao Centro In­ter­pre­ta­tivo Vinho de Talha, em Vila de Frades, con­celho da Vi­di­gueira, onde a de­le­gação do PCP foi re­ce­bida por pro­du­tores, deixou claro o papel que esta ac­ti­vi­dade pode ter como ala­vanca eco­nó­mica do con­celho. Após ter dei­xado de se pro­duzir há cerca de meio sé­culo, sendo subs­ti­tuído pelo vinho em massa,voltou nos úl­timos anos a ga­nhar vida pela mão so­bre­tudo de pro­du­tores jo­vens.

Re­mon­tando ao pe­ríodo da ocu­pação ro­mana, as téc­nicas que lhe estão na base pas­saram de ge­ração em ge­ração, sendo o se­gredo para um vinho que, na sua va­ri­e­dade, é ab­so­lu­ta­mente único.

São essas téc­nicas an­ces­trais a que obe­dece a pro­dução do Vinho de Talha que le­varam o mu­ni­cípio a pre­parar a can­di­da­tura para as elevar à ca­te­goria de pa­tri­mónio ima­te­rial da Hu­ma­ni­dade. Uma aposta que vem em linha com o tra­balho de es­treita co­la­bo­ração da au­tar­quia de mai­oria CDU com os pro­du­tores no sen­tido de su­perar di­fi­cul­dades e apro­veitar todo o po­ten­cial desta ac­ti­vi­dade eco­nó­mica.


Pro­postas em todas as áreas da vida

Um de­bate de ac­tu­a­li­dade sobre a si­tu­ação da fer­rovia na­ci­onal, a re­a­lizar em breve na As­sem­bleia da Re­pú­blica, foi uma das ini­ci­a­tivas apro­vadas nas Jor­nadas pelos de­pu­tados co­mu­nistas. O in­su­fi­ci­ente in­ves­ti­mento na rede fer­ro­viária a juntar à su­cessão de «atrasos, pro­blemas e in­ci­dentes nas in­ter­ven­ções em curso» jus­ti­ficam esta ini­ci­a­tiva.

Ainda no plano dos trans­portes e aces­si­bi­li­dades, o aban­dono a que está vo­tado o IP8 leva o Grupo Par­la­mentar co­mu­nista a dar en­trada na AR de um di­ploma para a con­clusão da­quela es­tru­tura ro­do­viária em toda a sua ex­tensão.

Em ma­téria de saúde, o foco es­tará na apre­sen­tação de um pro­jecto de lei para eli­minar do Es­ta­tuto do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde as ori­en­ta­ções mais ne­ga­tivas, in­tro­du­zindo ao mesmo tempo me­didas de res­posta aos pro­blemas com que aquele está con­fron­tado.

Ainda no ca­pí­tulo da saúde, duas ou­tras ini­ci­a­tivas im­porta des­tacar: a au­dição do ti­tular da pasta, do di­rector exe­cu­tivo do SNS e do di­rector do Con­selho Di­rec­tivo da ACSS sobre a falta de pro­fis­si­o­nais nas en­ti­dades de saúde que in­te­gram o SNS; a en­trega de di­plomas para ga­rantir a com­par­ti­ci­pação total de me­di­ca­mentos aos idosos, aos do­entes cró­nicos e utentes com ca­rência eco­nó­mica e as­se­gurar a gra­tui­ti­dade do trans­porte não ur­gente de do­entes.

Já no plano dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, vi­sando a sua re­po­sição e me­lhoria, re­giste-se o agen­da­mento do pro­jecto de lei que con­fere a na­tu­reza de tí­tulo exe­cu­tivo às de­ci­sões con­de­na­tó­rias da ACT em ma­téria de tra­balho pre­cário. Este, como se re­cor­danas con­clu­sões das Jor­nadas, é um «pro­blema ge­ne­ra­li­zado no País e que no dis­trito de Beja re­gista par­ti­cular in­ten­si­dade, atin­gindo de modo es­pe­cial os tra­ba­lha­dores mi­grantes».

É com grande pre­o­cu­pação que é en­ca­rada a si­tu­ação destes tra­ba­lha­dores, quer na agri­cul­tura quer na grande dis­tri­buição, onde são su­jeitos a con­di­ções de ex­plo­ração e pre­ca­ri­e­dade. Por isso o pe­dido que a ban­cada do PCP irá for­ma­lizar para a au­dição no Par­la­mento da ACT, do SEF, da Se­gu­rança So­cial e da Au­to­ri­dade Tri­bu­tária, com vista a acom­pa­nhar a in­ter­venção destas en­ti­dades pú­blicas no com­bate a esta som­bria re­a­li­dade.

Pro­blema grave que afecta mi­lhões de pes­soas é o do au­mento das taxas de juro no cré­dito à ha­bi­tação, pelo PCP está mar­cado já para o pró­ximo dia 15 o agen­da­mento po­tes­ta­tivo do di­ploma sobre re­gime ex­tra­or­di­nário de pro­tecção da ha­bi­tação pró­pria.

Uma par­ti­cular atenção das Jor­nadas me­re­ceram as ques­tões da pro­dução na­ci­onal e a ne­ces­si­dade de a pro­mover. Nesse sen­tido, re­alce para en­trega de três ini­ci­a­tivas: num caso, di­ri­gida à ela­bo­ração e con­cre­ti­zação do Pro­grama Na­ci­onal de Ava­li­ação e Con­trolo da Uti­li­zação Su­pe­rin­ten­siva do solo agrí­cola e do Atlas de Uti­li­zação In­ten­siva do Solo; uma se­gunda, ori­en­tada para a cons­trução do Bloco de Rega da Vi­di­gueira; a ter­ceira, des­ti­nada a ca­das­trar os solos com es­pe­cial ap­tidão para a pro­dução de ce­reais, acom­pa­nhada da cri­ação de in­cen­tivos e apoios à sua pro­dução, de­sig­na­da­mente no âm­bito da con­versão cul­tural, dis­cri­mi­nando po­si­ti­va­mente os pe­quenos agri­cul­tores e agri­cul­tores fa­mi­li­ares.


O dis­trito de Beja tem fu­turo

Du­rante cerca de hora e meia as­sistiu-se a um re­lato vivo de vi­vên­cias e a uma re­flexão de quem co­nhece bem os cons­tran­gi­mentos que blo­queiam o de­sen­vol­vi­mento da re­gião, mas que sabe também o enorme po­ten­cial que esta tem, nos mais va­ri­ados do­mí­nios, a co­meçar por essa ri­queza maior que é a das suas gentes.

Em Beja, esta se­gunda-feira, na pre­sença de uma pla­teia que en­cheu a Casa da Cul­tura, ou­viram-se tes­te­mu­nhos e re­latos que tra­du­ziram essa pre­o­cu­pação e de­núncia pelos efeitos de dé­cadas de uma po­lí­tica sem res­posta para as ne­ces­si­dades dos tra­ba­lha­dores nem para os pro­blemas da re­gião, que são pra­ti­ca­mente em tudo iguais aos do País. Mas foi mais do que isso: apon­taram-se si­mul­ta­ne­a­mente so­lu­ções e o ca­minho al­ter­na­tivo para os su­perar.

O que ali es­teve em de­bate e mo­tivou as vá­rias in­ter­ven­ções, em au­dição pú­blica di­ri­gida por Mi­guel Ra­malho, que es­tava acom­pa­nhado na mesa por Ângelo Alves, da Co­missão Po­lí­tica, Ma­nuel Va­lente, do CC e res­pon­sável pela Di­recção Re­gi­onal de Beja do PCP, pelos de­pu­tados Paula Santos, que en­cerrou, e João Dias, que abriu a sessão, acabou por de­sem­bocar, no fun­da­mental e em sín­tese, nessa grande questão que é a do mo­delo de de­sen­vol­vi­mento para o dis­trito.

E o que os in­ter­ve­ni­entes dis­seram de forma inequí­voca é que esse mo­delo não pode ser o da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, da uti­li­zação abu­siva dos re­cursos em favor de uma mi­noria -

- veja-se as cul­turas in­ten­sivas de olival ou amen­doal -, da falta da in­ves­ti­mento pro­du­tivo, do ina­ca­ba­mento de infra-es­tru­turas ou de­sa­pro­vei­ta­mento de exis­tentes. Tudo marcas fortes da po­lí­tica de di­reita.

«O ca­minho é outro», pres­supõe uma rup­tura com o que tem sido se­guido e passa pela afir­mação de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, afirmou-se. Su­bli­nhada foi so­bre­tudo a ideia de que essa al­ter­na­tiva se as­sume como uma exi­gência cres­cente e de que é o PCP que lhe dá corpo com as suas pro­postas e so­lu­ções.

Foi essa ideia es­sen­cial que foi re­a­fir­mada pelos vá­rios ora­dores.

É pre­ciso outra po­lí­tica que ponha fim à ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores (ex­plo­ração que, no caso da re­gião, atinge de forma ainda mais aguda os imi­grantes), que sa­tis­faça as ne­ces­si­dades de in­ves­ti­mento, no­me­a­da­mente nos sec­tores pro­du­tivos, mas também nos ser­viço pú­blicos – saúde e ha­bi­tação -, sem es­quecer a con­clusão do IP8, a elec­tri­fi­cação da fer­rovia e dos troços en­cer­rados, e, por fim, o apro­vei­ta­mento do ae­ro­porto.

«O dis­trito de Beja tem fu­turo, tem po­ten­ci­a­li­dades. Não estão é a ser apro­vei­tadas para sa­tis­fazer o in­te­resse pú­blico. Por isso ficou clara a ne­ces­si­dade da al­ter­na­tiva». A frase, pro­fe­rida pela líder par­la­mentar do PCP a en­cerrar a au­dição, su­maria bem o sen­ti­mento do­mi­nante que per­passou pelos pre­sentes na­quele final de tarde.

Frases

«Desde Ou­tubro de 2019 e até à dis­so­lução da AR apre­sen­támos 25 di­plomas es­pe­ci­fi­ca­mente sobre o dis­trito de Beja. Foram apro­vados 13 pro­jectos de re­so­lução, mas as so­lu­ções pro­postas não foram con­cre­ti­zadas. O PS faz letra morta,, o que mostra que não tem von­tade po­lí­tica para con­cre­tizar in­ves­ti­mentos.»

João Dias

«A grande questão é o mo­delo de de­sen­vol­vi­mento da re­gião. Veja-se o Al­queva: o que é que temos? Temos a agri­cul­tura, o solo e a água que são uti­li­zados so­bre­tudo como ac­tivos fi­nan­ceiros, não com o ob­jec­tivo de cum­prir aquilo que são as nossas ne­ces­si­dades do ponto de vista da so­be­rania ali­mentar mas como uma forma de fazer a re­pro­dução do ca­pital.»

José Maria Pós de Mina

«Cada vez é maior o nú­mero de utentes sem mé­dico de fa­mília e mesmo os que o têm es­peram muitas vezes meses por uma con­sulta de ro­tina. Con­sultas de re­curso não cons­ti­tuem uma al­ter­na­tiva de qua­li­dade já que se perde a tão im­por­tante re­lação mé­dico-do­ente.»

Ber­nardo Loff

«Em­bora tendo es­pe­ci­fi­ci­dades, a si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores no nosso dis­trito não é muito di­fe­rente do que as­sis­timos a nível na­ci­onal: a acu­mu­lação da ri­queza de al­guns grupos, acu­mu­lação da ri­queza de uns poucos, à custa da mi­séria de muitos.»

Maria da Fé Car­valho

«O au­mento do custo de vida é mais ele­vado em Beja e os sa­lá­rios são 20 por cento abaixo da média na­ci­onal.»

Tânia Costa

«O sector agrí­cola con­tinua a ser um dos sec­tores que mais sofre com os baixos sa­lá­rios, com a pre­ca­ri­e­dade, com a falta de con­di­ções de tra­balho e de pro­tecção so­cial, e com um ele­vado nú­mero de imi­grantes.»

Fran­cisco Franco

«A Cons­ti­tuição, fruto da Re­vo­lução de Abril, con­sagra o di­reito à ha­bi­tação (...), mas dé­cadas de po­lí­tica de di­reita tra­du­ziram-se, também no plano da ha­bi­tação, no in­cum­pri­mento desse di­reito.»

Victor Pi­cado

«Venho dar um exemplo do mo­delo de de­sen­vol­vi­mento do Go­verno para o Baixo Alen­tejo: co­me­çaram por fe­char os CTT, de­pois foi o ramal de Moura, de­pois o ser­viço de saúde, de­pois fe­charam a es­cola, e por fim aca­baram com a fre­guesia.»

Carlos Cas­ca­lheira

«In­ter­ven­ções con­firmam que o dis­trito de Beja tem fu­turo, tem um enorme po­ten­cial do seu ter­ri­tório, da sua gente, dos seus tra­ba­lha­dores. Não está a ser é de­vi­da­mente apro­vei­tado no sen­tido do de­sen­vol­vi­mento para a co­mu­ni­dade, no sen­tido do in­te­resse pú­blico.»

Paula Santos


Um ca­minho de pro­gresso e de­sen­vol­vi­mento so­be­rano

«É pre­ciso e ur­gente uma po­lí­tica al­ter­na­tiva que abra um ca­minho de pro­gresso e de­sen­vol­vi­mento so­be­rano para a Re­gião e para o País. Uma po­lí­tica que aposte na pro­dução na­ci­onal, con­dição es­sen­cial para com­bater os dé­fices es­tru­tu­rais com que es­tamos con­fron­tados, capaz de ca­pa­citar o País, que aposte na sua so­be­rania, capaz de criar em­prego e ri­queza» – afirmou o Se­cre­tário-geral do PCP, Paulo Rai­mundo, na aber­tura das Jor­nadas Par­la­men­tares.

A re­a­li­dade do dis­trito de Beja, ga­rantiu, é bem re­ve­la­dora da po­lí­tica de di­reita, que o ac­tual Go­verno pros­segue e apro­funda: po­ten­ci­a­li­dades des­per­di­çadas, de­sin­ves­ti­mento, des­man­te­la­mento do te­cido pro­du­tivo. «Aqui no dis­trito perdem-se ex­plo­ra­ções agrí­colas, terras ará­veis, áreas de pro­dução para grão e ba­tata, ao mesmo tempo que alas­tram as cul­turas per­ma­nentes, em re­gime su­pe­rin­ten­sivo. A pro­dução de ce­reais, em par­ti­cular o trigo, atinge ní­veis pre­o­cu­pantes de au­to­a­pro­vi­si­o­na­mento, de 6,4%», de­nun­ciou.

No que res­peita aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, que urge de­fender e va­lo­rizar, a si­tu­ação não é me­lhor no dis­trito de Beja, acres­centou o di­ri­gente co­mu­nista. Os di­reitos estão, «em geral, em falta, mas co­nhecem na si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores imi­grantes, como aqui se vê, neste dis­trito, uma si­tu­ação in­to­le­rável que acres­centa mais ex­plo­ração à ex­plo­ração de todos os dias». Em­presas de tra­balho tem­po­rário, con­tra­tadas pelas grandes em­presas ou grupos eco­nó­micos na área da agri­cul­tura ou da grande dis­tri­buição, em­pregam mi­lhares de tra­ba­lha­dores imi­grantes «a quem não são ga­ran­tidos di­reitos e que vivem em con­di­ções da maior pre­ca­ri­e­dade, muitos deles são an­ga­ri­ados a partir de redes de au­xílio à imi­gração ilegal e trá­fico de seres hu­manos», re­latou o Se­cre­tário-geral co­mu­nista, acres­cen­tando: «Isto não pode con­ti­nuar!»

 

In­ves­ti­mento é factor de de­sen­vol­vi­mento

Para Paulo Rai­mundo, é pre­ciso olhar para o in­ves­ti­mento, e em par­ti­cular para o in­ves­ti­mento pú­blico, «como factor de de­sen­vol­vi­mento». Ali, ao con­creto, é pre­ciso ir para além «das pro­messas e da con­versa» e cons­truir o IP8, elec­tri­ficar a linha fer­ro­viária para li­ga­ções a Lisboa e ao Al­garve e apro­veitar nas suas di­versas di­men­sões e po­ten­ci­a­li­dades o ae­ro­porto de Beja.

Mas é também pre­ciso in­vestir no re­forço dos ser­viços pú­blicos, de modo a ga­rantir os di­reitos so­ciais e com­bater o des­po­vo­a­mento, acres­centou o Se­cre­tário-geral, re­al­çando que o In­te­rior do País, «ao con­trário do que querem fazer passar, não está con­de­nado à de­ser­ti­fi­cação». Está, sim, su­jeito à po­lí­tica de di­reita, que en­cerra ser­viços de saúde e ur­gên­cias, deixa ao aban­dono cen­tros de saúde e não res­peita os pro­fis­si­o­nais; que não in­veste na ha­bi­tação e não trava a su­bida das rendas e o au­mento das pres­ta­ções; que dá pouco mais que nada à cul­tura, à in­ves­ti­gação e à ci­ência, e que aposta também aqui na pre­ca­ri­e­dade e falta de apoios.

De­nun­ci­ando a ofen­siva ide­o­ló­gica de di­a­bo­li­zação do que é pú­blico e de en­deu­sa­mento do «mer­cado», Paulo Rai­mundo re­velou os in­te­resses que serve: as pri­va­ti­za­ções, a acu­mu­lação de co­los­sais lu­cros, os be­ne­fí­cios fis­cais – en­quanto a vida da mai­oria piora. Os CTT são um «exemplo ilus­tra­tivo» e a TAP é o pró­ximo alvo, par­ti­cu­lar­mente ape­te­cível.

 

Cons­truir a al­ter­na­tiva

Acu­sando o Go­verno de não fazer o que podia e devia para de­fender as con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo – va­lo­rizar sa­lá­rios, re­formas e pen­sões, travar o au­mento dos preços de bens e ser­viços es­sen­ciais, taxar os lu­cros ex­tra­or­di­ná­rios, re­forçar o SNS e de­mais ser­viços pú­blicos e levar por di­ante a acção pela paz a que está obri­gado pela Cons­ti­tuição –, Paulo Rai­mundo re­jeitou que se diga que o PCP «quer tudo para todos». É o Go­verno, a par de PSD, CDS, Chega e IL, que «querem tudo para uns poucos».

Se o pro­cesso de re­visão cons­ti­tu­ci­onal aí está, a «de­mons­trar o que querem os pro­jectos mais re­ac­ci­o­ná­rios», o di­ri­gente co­mu­nista apela a que se de­fenda e cumpra a Cons­ti­tuição, «os di­reitos que ela con­sagra, as obri­ga­ções que cabem ao Es­tado para que sejam as­se­gu­rados». E aponta à ne­ces­si­dade e ur­gência, que a vida com­prova, de «mudar de po­lí­tica, cons­truir uma po­lí­tica al­ter­na­tiva à po­lí­tica de di­reita que tem sido im­posta».

Ora, acres­centou, «isso não se faz es­co­lhendo entre quem no es­sen­cial par­tilha dos mesmos cri­té­rios e op­ções», mas re­for­çando o PCP.