«As conclusões retiradas pelo PCP das várias comissões de inquérito mantêm-se actuais, estranhando-se que o PSD procure reescrever a história», nota o Partido a propósito da polémica em torno da intervenção dos Governos PSD/CDS e PS no Banif e BPI.
Em texto divulgado dia 26 pelo seu gabinete de imprensa, o PCP considera que quer o conteúdo do «livro com entrevistas ao ex-Governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa», quer as respostas do primeiro-ministro às perguntas apresentadas pelo grupo parlamentar do PSD, não alijam «responsabilidades de PS e PSD, bem como do Banco de Portugal e da União Europeia, nos sucessivos escândalos da banca, que já custaram ao povo português cerca de 20 mil milhões de euros».
O Partido detalha a sua apreciação em relação ao Banif e ao BPI, e quanto ao primeiro chama a atenção que as narrativas de Carlos Costa e António Costa «demonstram, mais uma vez, que a resolução do Banif foi feita à medida para resultar na entrega deste banco a custo zero ao banco espanhol Santander, depois de enterrados 1100 milhões de euros de recursos públicos na operação (decisão do Governo PSD/CDS)». Mais: «confirma-se que, na altura, apesar de o Estado ser o acionista maioritário do Banif (dada a recapitalização que tinha sido feita), não foi tomada qualquer medida e deixou o banco chegar a um ponto de pré-falência», ao que acresce, já durante o Governo PS, a submissão deste «às imposições da UE, forçando a entrega do banco a custo zero a um grupo económico espanhol (o Santander), depois de limpo com recursos públicos».
Já sobre a situação do BPI, o PCP lembra que «era evidente o problema de ultrapassagem de limites regulamentares dos "grandes riscos", por força da participação de accionistas em instituições financeiras no estrangeiro, situação agravada por diferendos entre accionistas. No entanto, se Isabel dos Santos, também accionista do EuroBIC, entrou e continuou como acionista do BPI, tal só foi possível com a anuência do BdP.
O Partido sublinha, ainda, que «do BPP ao BPN, do Banif ao BCP, passando por toda a situação do BES/Novo Banco, ficou demonstrado o falhanço do modelo de supervisão dita independente», uma vez que «a suposta independência dos bancos centrais face ao poder político tem significado, na prática, a dependência e submissão dos Estados e dos supervisores face aos grupos económicos do sector financeiro».
Neste sentido, «o que todos estes escândalos revelam é a necessidade de uma intervenção do poder político e do BdP assente na defesa do interesse público, rompendo com uma lógica em que o Estado se demite de qualquer intervenção, permite todos os desmandos da banca privada – especulação, corrupção e gestão danosa –, e só é chamado a intervir na hora de pagar a conta, ou seja, colocar os recursos públicos ao serviço da especulação e dos lucros do grande capital. Um processo onde, depois de injectados milhões de euros de recursos públicos, se volta a entregar esses bancos novamente aos grupos privados (sobretudo estrangeiros), cumprindo simultaneamente os objectivos da UE de favorecimento da concentração bancária.