As oficinas da CP no Entroncamento acumulam o conhecimento necessário para assegurar a reparação e construção de material circulante ferroviário, essencial para o desenvolvimento do País. Tem faltado o investimento e a vontade política para o concretizar.
Há mais de duas décadas que Portugal não produz nem adquire um comboio: imposições da União Europeia, com a cumplicidade e subserviência de sucessivos governos, levaram à pulverização do sector ferroviário nacional, à liberalização de serviços e à privatização de algumas das suas empresas. As que permaneceram no sector público foram sujeitas a um forte desinvestimento, perdendo trabalhadores e capacidade produtiva, e a Sorefame encerrou em 2003.
O PCP sempre se opôs a este caminho e há muito se bate pela sua reversão e pelo desenvolvimento deste que é um sector estratégico com elevado potencial para alavancar outras fileiras e sectores económicos e criar emprego com direitos. Nos últimos anos, outros se têm juntado a este clamor de reconstruir e desenvolver a ferrovia pelas suas imensas vantagens económicas, sociais e ambientais.
Entre as propostas fundamentais do Partido contam-se a reunificação do sector numa única empresa pública e nacional, conjugando a gestão da infraestrutura com a exploração ferroviária; o investimento na expansão da rede (o PCP apresentou recentemente um plano detalhado); a planificação da aquisição do material circulante necessário e a significativa incorporação nacional na sua produção, manutenção e reparação; e também a reconstrução da capacidade nacional de produção de material circulante.
Recuperar a CP, valorizar direitos
Na visita que o Secretário-geral do PCP realizou na segunda-feira às oficinas da CP no Entroncamento, inserida na acção nacional Mais Força aos Trabalhadores, foi possível confirmar que há ali conhecimento acumulado e mão-de-obra especializada para que aquela unidade possa assegurar a necessária reparação de comboios e carruagens e até mesmo a sua construção.
Percorrendo as oficinas, contactando com trabalhadores, inteirando-se dos projectos em curso e dos que estão previstos, Paulo Raimundo reforçou a convicção de que falta sobretudo vontade política – e os correspondentes investimentos – para que tal desígnio seja uma realidade. É necessário também recuperar a autonomia da gestão de CP, fortemente condicionada hoje pelo Ministério das Finanças, acrescentou o dirigente comunista.
Trata-se, concluiu, de recuperar os anos perdidos com o desmantelamento da CP, dotando-a de «todas as condições, incluindo financeiras» para que cumpra o papel que «só uma empresa pública pode cumprir». Para o Secretário-geral do Partido, são os trabalhadores quem «põe isto tudo a circular», pelo que os seus salários, os seus horários e os seus direitos têm de ser valorizados.