Brutal aumento do custo de vida exige combate à especulação dos preços de bens essenciais

O PCP voltou a exigir me­didas que travem a es­pe­cu­lação de preços de bens es­sen­ciais, acu­sando o Go­verno de inacção pe­rante o brutal au­mento do custo de vida que atinge a po­pu­lação, em con­traste com o acu­mular de lu­cros fa­bu­losos pelos grupos eco­nó­micos.

A fome bate à porta de mi­lhares de fa­mí­lias, que em­po­brecem a tra­ba­lhar

Lusa

«Go­verno, que de­veria ter uma in­ter­venção de­ci­dida na re­gu­lação dos preços dos bens e dos ser­viços es­sen­ciais, opta por as­sistir à perda do poder de compra dos por­tu­gueses fa­vo­re­cendo e dei­xando que a es­pe­cu­lação ga­lope», la­mentou o de­pu­tado co­mu­nista João Dias no ar­ranque do de­bate de ur­gência, re­a­li­zado dia 16, por ini­ci­a­tiva da sua ban­cada, em torno das me­didas que o PCP con­si­dera im­pres­cin­dí­veis para com­bater a es­pe­cu­lação.

Me­didas de con­trolo e re­gu­lação dos preços de bens e ser­viços es­sen­ciais que os co­mu­nistas não se têm can­sado de propor, mas que têm sido sis­te­ma­ti­ca­mente re­jei­tadas por PS e res­tantes forças à sua di­reita. O re­sul­tado dessa re­jeição está à vista: «fa­mí­lias de­ses­pe­radas, que se sa­cri­ficam, a quem a fome bate à porta, que em­po­brecem a tra­ba­lhar», porque, como frisou o par­la­mentar do PCP, «a cada dia que passa, o custo de vida au­menta, tudo está mais caro e não há sa­lário, re­forma e pensão que re­sistam a esta dura re­a­li­dade, que não en­contra res­posta na acção e nas op­ções do Go­verno do PS».

Com efeito, de­ta­lhou, «sobe o pão, o gás e os com­bus­tí­veis, sobe o leite, os ve­ge­tais, a carne, o peixe, a massa, o óleo, a fruta, a renda e a pres­tação da casa, a luz, sobe tudo, menos o sa­lário, a pensão e a re­forma».

Es­pe­cu­lação à solta

A subir também e de forma des­me­dida estão os lu­cros dos grupos eco­nó­micos por via da «car­te­li­zação e im­po­sição de mar­gens de 30, 40 e 50 por cento, num pro­cesso que João Dias clas­si­ficou de «brutal as­salto às car­teiras de cada um de nós».

«A equação é sim­ples, se a pro­cura re­duziu, se os por­tu­gueses fi­zeram o maior corte de que há re­gisto na compra de bens ali­men­tares, porque o di­nheiro dos por­tu­gueses con­segue com­prar menos, se os lu­cros au­mentam e muito, então, só há uma ex­pli­cação, as mar­gens têm que ser mai­ores», por­me­no­rizou o de­pu­tado do PCP, daí con­cluindo: «Se as grandes su­per­fí­cies co­mer­ciais estão a ga­nhar muito mais, tem de haver es­pe­cu­lação!»

Na pers­pec­tiva do PCP, re­do­bradas ra­zões há, pois, para que haja uma in­ter­venção efec­tiva do Go­verno na re­gu­lação dos preços dos bens e dos ser­viços es­sen­ciais, pondo assim travão à es­pe­cu­lação que ali­menta os lu­cros as­tro­nó­micos dos grupos eco­nó­micos.

Esta, sim, seria uma me­dida capaz de es­tancar a perda do poder de compra, que faz toda a di­fe­rença re­la­ti­va­mente às me­didas pon­tuais e as­sis­ten­ci­a­listas do Go­verno. Como igual­mente dis­tinta é das pro­postas apre­sen­tadas por PSD, Chega e Ini­ci­a­tiva Li­beral – pôr re­cursos pú­blicos a su­portar a re­dução do IVA -, cujo efeito, ad­vertiu João Dias, con­du­ziria a uma «ainda maior acu­mu­lação de mar­gens de lucro por parte dos grupos eco­nó­micos, que fi­ca­riam com essa re­dução do IVA no seu bolso e os por­tu­gueses a serem du­pla­mente pe­na­li­zados».

A inacção do Go­verno

Da parte do Go­verno não se ouviu no de­curso do de­bate qual­quer anúncio de me­didas efec­tivas nem para con­trolo da in­flação nem em de­fesa dos con­su­mi­dores. Ficou-se pelo anúncio, como se no­vi­dade fosse, de um «ob­ser­va­tório dos mer­cados agrí­colas» e de um cha­mado «selo de preço justo». Quanto ao pri­meiro, des­fa­zendo o so­fisma, João Dias con­si­derou que a mi­nistra da Agri­cul­tura o que fez foi «pegar nos dados do Sis­tema de In­for­mação de Mer­cados Agrí­colas (SIMA), vestiu-lhes uma ca­misa nova e chamou-lhe Ob­ser­va­tório».

Já sobre o selo para afixar nos pro­dutos ali­men­tares, o de­pu­tado co­mu­nista não es­condeu a sua per­ple­xi­dade: «Um selo para os pro­dutos com preços que ti­verem preço justo? A sério? E o que vai fazer para os pro­dutos que ti­verem preço es­pe­cu­la­tivo?», in­quiriu, sem obter res­posta do se­cre­tário de Es­tado do Tu­rismo, Nuno Fa­zenda.



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